Clássicos
do cinema em versões mais realistas e factíveis. O texto a seguir pode conter
termos chulos e ofender pessoas frescas que não sabem lidar com sarcasmo ou
imaturidade gratuita.
De volta para o futuro
Estamos no ano de 1985. Na casa dos
McFly as coisas continuam na mesma rotina de anos e anos. George, o pai, segue
frustrado com seu emprego deplorável de vendedor de planos da AT&T. Para
piorar, ele é alvo de piadas e humilhações do seu chefe e vizinho Biff Tannen.
Lorraine, a mãe, segue cada vez bebendo mais, o que a acaba a deixando fora de
forma, motivo para beber mais e mais, formando assim um círculo (literalmente)
vicioso. Os dois se conheceram quando Lorraine atropelou George na época da
faculdade. Ainda assim, mesmo com essa história sendo contada frequentemente
para os filhos, sempre existiu a impressão de que os dois escondiam algo sobre
o acontecimento, sobre a passividade de George com Biff e o motivo da bebedeira
de Lorraine.
Dos três filhos do casal, Marty é o
mais safo de todos, o que não é digno de muito reconhecimento. Dave é um
retardado que só sabe ler quadrinhos de super-heróis, jogar pinball na lanchonete da esquina e
comprar bonequinhos do Falcon. Ele tem mais de dezoito anos. Linda está no
décimo ano na faculdade local do governo. Ela começou fazendo sociologia,
depois foi para comunicação, passou para filosofia, transferiu para letras e
atualmente está fazendo apenas disciplinas eletivas enquanto aguarda a abertura
do curso de responsabilidade sócio-ambiental em países comunistas. Ela é bolsista
e ainda não se formou em um curso sequer.
Voltando ao Marty, ele está na escola
e tudo que sonha é que sua banda faça sucesso, mesmo com um vocalista que tem temperamento
imprevisível e notórios problemas em manter o peso. Seu único incômodo era com
o nome da banda, motivo que o fazia discordar dos companheiros. Em um ensaio,
depois de muita discussão por conta do nome, Marty é informado que será
substituído por outro guitarrista caso não aceitasse o nome Guns and Roses.
Sem banda, Marty passa a ficar cada
vez mais amigo do Dr.Emmett Brown, um engenheiro esquizofrênico, hiperativo,
dislexo, desempregado e marginalizado pela comunidade científica por ser
viciado em LSD e mescalina. Frequentemente Marty ia ao que Dr.Brown chamava de
laboratório, uma garagem escura e suja, entulhada de quinquilharias que não
funcionavam e coisas que um dia funcionaram, mas também foram desmontadas e não
funcionam mais.
Certa noite, a pedido do cientista
demente, Marty vai ao estacionamento de um mercado local. Lá encontra o
Dr.Brown encostado em um DeLorean cheio de gambiarras. Com os olhos vidrados, fala
acelerada e mãos nervosas, o criador explica ao jovem do que se trata a
criatura. É uma máquina do tempo. O veículo que agora é movido a plutônio, depois
de acertada a data destino no teclado de um Odyssey instalado no painel do
carro, ao alcançar 120km/h viajaria no tempo. Enquanto Marty do lado de dentro
do carro estava fascinado com aquela maravilha tecnológica e o Dr.Brown do lado
de fora encenava seu processo criativo com gestos exagerados e movimentos
cartunescos, uma van com alguns traficantes locais se aproxima. Eles querem
cobrar uma dívida que o engenheiro adquiriu comprando supositórios alucinógenos.
As coisas então saem do controle, os traficantes matam o desvairado cientista e
Marty, assustado, foge com o carro que, ao alcançar a velocidade de 120km/h,
viaja para a data que tinha brincado de colocar: o dia em que seu pai e sua mãe
se conheceram em 1955.
Voltando no tempo, é óbvio que o local
não seria igualmente um enorme estacionamento de mercado. Então, completada a
viagem, assim que se materializa, o carro se esborracha em uma árvore. É perda
total, nem adianta tentar fazer com que ande novamente. O motor voou longe, o Odyssey
ficou em pedaços e o plutônio vazou transformando os pobres répteis que lá próximo
estavam em tartarugas ninjas mutantes. Sem opções, ele cobre aquele monte de
ferro retorcido com folhas, galhos e mato seco, seguindo a técnica de
construção de cabanas aprendida em A Lagoa Azul que até então era para ele um
lançamento, para depois andar até a cidade.
Chegando ao centro da cidade, Marty
passará por diversas situações sobre coisas e costumes da época para mostrar que
os roteiristas são antenados, até que enfim algo que preste vai acontecer.
Andando pela calçada, ele vê seu pai, agora mais novo, atravessando a rua e
depois sendo atropelado por sua mãe, uma gostosinha diga-se passagem. Ele chega
a se recostar na parede de uma loja para mais à vontade presenciar o que seria
a cena mais romântica da história de sua vida, e o que acaba acontecendo é um
grande circo. Vários homens começam a cercar o carro acusando Lorraine de tudo
e mais um pouco. Ouvem-se gritos coletivos de “piranha barbeira”, “vai pilotar
fogão”, “mulher no volante, perigo constante”, “mulher no pedal, ameaça mortal”
e um tímido ao fundo “eu comeria fácil, ela e o atropelado”. Marty, que
esquecera ter voltado para uma época de predominância machista, fica assustado
com aquilo tudo e não sabe o que fazer com medo de estragar o futuro, até que a
polícia chega junto de uma ambulância. Pai George vai para o hospital, mãe
Lorraine vai para a delegacia. Sabendo que o pai vai sobreviver, ele opta por
seguir a ambulância usando um skate roubado de um adolescente. Essa cena em
particular é assumidamente absurda, mas se faz necessária pela gravadora patrocinadora
que queria uma oportunidade para colocar a música hit do filme.
O caos está formado na delegacia. Uma
turba de homens coléricos pede a cabeça da menina que, ao invés de estar em
casa desenvolvendo seus talentos domésticos, colocou em risco a vida de um rapaz
ativo capacitado para sustentar uma família em um futuro próximo. Marty opta
por ficar no meio daquilo tudo por cautela. O tumulto é tamanho que ninguém
nota que ele veste um casaco do Boston Celtics com o número 33 e o nome Larry
Bird gravado nas costas em comemoração ao título de 1981. Aqueles homens
conservadores que são fãs de esportes não percebem, os repórteres sequer reparam
e o roteirista é demitido depois disso.
Horas depois Lorraine é finalmente
liberada após pagamento de fiança. Marty fica surpreso ao saber que quem pagou
a fiança é a mesma pessoa que vai levá-la para casa: o jovem Biff Tannen.
Indignado, Marty resolve seguir os dois com seu skate para que possam tocar a
parte restante da música hit que ficou incompleta na primeira cena que era
muito curta, mesmo para uma música pop de três minutos e meio.
Escondido no jardim e próximo à janela
do quarto de Lorraine, Marty ouve a conversa dela com Biff. O que ele ouve é
perturbador, aparentemente os dois são namorados. Incrédulo e disposto a
confirmar o contrário, ele se levanta um pouco para enxergar o que se passa no
quarto e flagra os dois se beijando. Ele se sente mal com aquilo, volta a se
abaixar e tenta controlar a mente que está em uma velocidade descontrolada
insinuando várias besteiras para ele. São longos minutos ali abaixado com os
piores pensamentos possíveis. Como era possível a sua própria mãe, aquela santa
criatura alcóolatra, trocando beijos com o rapaz que um dia seria o homem que
humilharia seu pai dia após dia? Ele não poderia se conformar com aquilo e
decide então surpreendê-los. Ao se levantar, o que era antes um pesadelo vira
uma pequena imagem desconfortável perto do que presenciava. Sua mãe aplicava um
guloso boquete em Biff. Ele passa mal, vomita no vidro da janela, desmaia e é
sorrido por Biff com pau ainda de fora, das calças e da janela.
Mais tarde, com a consciência retomada,
Marty está no quarto de Lorraine que ainda está acompanhada de Biff. Acontece
uma longa e cansativa cena de diálogo entre eles até que seja explicado quem
ele é e o que fazia ali. Todos convencidos que ele era um estudante de outra
cidade perdido, o casal resolve ignorar o fato de ele ser um total estranho e
começam a confabular em sua presença. Aparentemente, Lorraine seria condenada
por atropelar George e a única solução era conquista-lo, para que assim ele
retire a queixa. Martin, cada vez mais atordoado com a sequência de porradas
que recebia horas após horas daquele dia nefasto, se levanta da cama, inventa
uma desculpa e vai embora à procura do Dr.Brown.
Quando abre sua porta, antes mesmo que
o desconhecido até então Marty pudesse falar algo, o Dr.Brown já antecipa “Desista,
rapaz! Estou proibido de fabricar metanfetaminas.”, para a surpresa do garoto
que precisa de muito esforço para conseguir a atenção de um agitado e confuso
Dr.Brown, que estranhamente aparenta ter a mesma idade de 30 anos depois,
provocando mais tarde a demissão do segundo roteirista. Após alguns argumentos
de Marty e muitos olhos esbugalhados do cientista aloprado, o rapaz consegue
convencê-lo a ir com ele até o DeLorean destruído. Chegando lá, Dr.Brown fica
espantado com tamanha tecnologia e sua capacidade de desenvolver algo do tipo. Marty
então explica seu problema, tudo que aconteceu e pede para que ele conserte o
carro para que possa voltar para o tempo de onde veio, tempo que aparentemente
não era tão cruel com ele. Infelizmente Dr.Brown não tem boas notícias para
ele:
“Rapaz, isso nunca vai ser refeito!
Você está falando com um imbecil desgraçado que passa o dia todo fumando haxixe
e tocando punheta para encartes de lingerie que furto da caixa dos correios dos
vizinhos. E você acha que é fácil achar plutônio? Ainda mais depois que aqueles
porcos da Casa Branca encheram a cabeça daqueles amarelos nojentos dessa merda
radioativa na segunda guerra? Esquece! Não tem como! Mesmo que conseguisse
comprar plutônio no mercado, precisaríamos consertar o carro. Só que não existe
tecnologia atual capaz de substituir aquelas peças. O mais perto desse carro
que posso conseguir é um Lincoln Continental 1948, uma banheira gigante que
pesa mais que o Titanic e precisaria de uma rodovia inteira para alcançar
aquela velocidade. Rapaz, sinto muito por você. Lamento que sua mãe seja uma
piranha que vai casar por conveniência com seu pai e manter um relacionamento
secreto com aquele brutamontes. Já cogitou a possibilidade de ser filho desse
tal de Biff? Pelo que me falou, você é bem diferente de seus irmãos. Você
consome drogas? Deveria! Tenho uns adesivos mágicos na minha garagem. Quer vender
comigo? Podemos fazer uma grana boa, o que acha?”
O restante do discurso do Dr.Brown é
ignorado por Marty. Ele está totalmente desconcertado. Era como se tivessem
tirado o chão debaixo dele. Marty estava em sua cidade e perdido ao mesmo
tempo. Ele tinha pais e ainda assim era órfão. Estava preso naquela época para
sempre e graças a dois doutores Emmett Brown. Primeiro, o do futuro, ou
ex-presente, que o meteu em toda essa confusão. Segundo, o drogado e imbecil do
passado, ou atual presente, incapaz de resolver seu problema. Não existia
escapatória, ele tinha de recomeçar a vida.
Desgostoso com tudo, ele resolve
ignorar Lorraine, George, Biff ou qualquer outro vínculo com sua família
original. Naquele momento ele se tornara apenas Marty, um misterioso rapaz sem
origens que arriscaria a vida no mundo da música. Para isso, ele ficou por um
semestre inteiro vendendo drogas alucinógenas fabricadas pelo Dr.Brown em sua
garagem para juntar dinheiro e produzir seu próprio disco. Com o primeiro objetivo
concluído, ele planeja se apropriar de todas as músicas que eram sucesso na sua
época para assim mais rápido alcançar o sucesso.
Dois meses depois de pagar do seu
próprio bolso o lançamento do seu disco, Marty voltava a vender drogas para o
Dr.Brown. Aparentemente a década de 50 não estava pronta para uma banda chamada
Menudo que tocava músicas como Super Freak, Like a Virgin, Kung-Fu Fighting e I
Want to Break Free.