quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Eleições 2014



Chega a época de eleições, e o que mais se vê por aí são propagandas políticas, discursos, promessas, mentiras, calhordagem e, acima de tudo, debates e entrevistas. Quem quiser um minuto de atenção do leitor ou do eleitor, dependendo do interessado, precisa trazer um candidato para a pauta. Nós não somos diferentes e, na tentativa desesperada de conseguir mais um minuto de vossa leitura, iremos entrevistar um candidato. Obviamente, por conta do nosso ridículo orçamento e total falta de poder de mobilização, nosso convidado não tem, digamos, grande apelo. Em todo caso, o que deveria ser algo engraçado e divertido, sem querer virou algo crítico e para reflexão, quase um desejo para que façam o mesmo com todos:
Repórter: Olá, candidato. Obrigado pela presença. Gostaria de começar perguntando pelo motivo da escolha do nome de campanha Jorginho da Pipoca.
Candidato: Obrigado pelo convite. Bem, sou pipoqueiro por mais de vinte anos na praça principal de Tartarugalzinho e é exatamente assim que as pessoas me conhecem.
Repórter: Entendo. Então a escolha do nome é simplesmente para que as pessoas saibam quem você é?
Candidato: Perfeitamente.
Repórter: E não acha que uma estratégia desse tipo limita sua a campanha a que votem no senhor simplesmente porque é conhecido, não por ter potencial de resolver problemas ou ser responsável por outros projetos de importância para a comunidade?
Candidato: Eu não tenho outros projetos, pois essa é minha primeira eleição, jovem.
Repórter: Perfeito. Esse pode ser um ponto de partida da nossa conversa. Por que tentar a carreira política então?
Candidato: Porque estou cansado dessa roubalheira, dessa pouca vergonha. Acho que posso fazer algo para melhorar a situação da população que tanto sofre.
Repórter: Claro, toda motivação de um candidato deve ser essa. Tanto que antes comentei que a campanha deveria ser baseada em ações já feitas, que não é o seu caso, pois sempre temos uma primeira vez, ou na capacidade de ajudar a comunidade. O seu caso deve ser focado na segunda parte. Como pretende ajudar a população?
Candidato: Criando leis.
Repórter: Possivelmente essa seja uma das opções, mas para isso precisa ter conhecimento de como funciona todo o processo político desde a criação da lei, passando pelos setores que serão atingidos por ela, até a aprovação final. Qual seu conhecimento sobre poder legislativo, executivo e judiciário?
Candidato: Meu jovem, sou um simples pipoqueiro que completou o fundamental com muita dificuldade.
Repórter: E não acha que para ocupar um cargo com tamanha importância não precisa ter preparação? Estamos falando de algo, que como suas intenções mesmo confirmam, atinge muitas pessoas.
Candidato: Mas daí só teremos os filhos dos ricos no poder. Assim nunca teremos um verdadeiro representante do povo. Eu sou um representante do povo e quero ajudar o povo que represento.
Repórter: Mais uma vez acho justa sua colocação. Isso lembra quando meu filho caiu da bicicleta e fraturou o braço. Ele caído ali no chão, chorando muito, destruiu o meu coração. Sabe o que fiz? Eu o levei para o hospital, pois mesmo que tivesse a boa intenção de ajuda-lo, não saberia como e poderia piorar ainda mais as coisas.
Candidato: Ora, mas essa comparação não tem cabimento. Você tentando ajudar seu filho podia piorar a fratura. Já eu, mesmo sem estudo não tenho como piorar, pois os outros colegas de profissão não deixariam passar alguma proposta de lei minha que iria prejudicar o povo.
Repórter: De fato, mas com isso você passaria a ser um gasto público desnecessário tendo em vista que não teria utilidade.
Candidato: Já acho que isso é melhor do que gastar com políticos que nada fazem e ainda roubam.
Repórter: Bem, então sua campanha se limitaria a convencer os eleitores a votarem em você por ser conhecido e porque é melhor pagar salário para alguém que não rouba, do que para alguém que rouba, mesmo ambos não fazendo coisa alguma por eles.
Candidato: Isso é você quem está falando, meu jovem. Eu tenho propostas.
Repórter: Pois diga uma então.
Candidato: Quero aumentar a quantidade de médicos, de equipamentos e consultórios no Hospital Jamil Muanis do centro de Tartarugalzinho.
Repórter: Uma excelente proposta que, com certeza, ajudará a população. E como pretende fazer isso? Sabe que é necessário levantar verba, não? E esse é um dos mais entraves da saúde pública nacional.
Candidato: Usaria o dinheiro do governo.
Repórter: Qual governo? Federal? Estadual? Municipal?
Candidato: O que tiver disponível.
Repórter: Entende por que é estritamente necessário que conheça um mínimo de política e do cenário econômico nacional? Saber pelo menos se estamos falando de um hospital municipal, estadual ou federal já é alguma coisa.
Candidato: Eu sei que é público.
Repórter: Tudo bem. Vamos prosseguir na sua proposta. Como disse, um dos maiores problemas é a falta de recursos e uma das causas é o excessivo gasto com cargos do setor público inchado e caro. Você criaria uma proposta para que reduzisse o salário dos deputados, senadores, vereadores e demais políticos?
Candidato: Diminuir o salário?
Repórter: Sim! Por exemplo... Suponhamos que ganhe hoje como pipoqueiro por volta de dois mil Reais e seu salário como vereador será de dezoito mil reais...
Candidato: Na realidade, dezenove mil e quinhentos. Andei me informando.
Repórter: Claro, imaginei que sim. Enfim, você seria capaz, se possível obviamente, de propor que seu salário permanecesse na cada de dois mil e o restante fosse destinado para a saúde, por exemplo.
Candidato: Mas tem dinheiro. Não precisa disso.
Repórter: Não, não tem. Ainda assim, se tivesse, vamos supor que não tenha. Você poderia sugerir uma rígida redução de cargos, inclusive diminuindo a quantidade de vereadores e deputados em todo o país, para que sobre verba a ser investida em outras áreas, como a saúde?
Candidato: Como disse, isso não faz sentido. Não há a necessidade de debater sobre essa suposição.
Repórter: Bem, gostaria de debater sobre a sua proposta de aumentar a qualidade no atendimento do hospital local. Contudo, não sabe de onde tirar verba. Fato que não é possível, pois sabemos que não existe verba extra para tal. Daí, caminhei para uma especulação que seria a possibilidade de criar uma solução alternativa para um dos maiores problemas atuais. Mas como insiste em fugir do tema, devo concluir que cortar da própria carne é mais importante que a sua campanha de fazer pelo povo. Isto é, o individual sobressai em relação ao coletivo.
Candidato: Meu jovem, você está visivelmente orientado para me desqualificar. Primeiro ataca minha escolaridade, depois a profissão e agora fica criando especulações para desvirtuar meu programa de propostas. Eu duvido que isso aconteceria se fosse com um candidato elitizado.
Repórter: Tudo aqui dito foi uma consequência das suas respostas e posso ter certeza que existem candidatos elitizados com o mesmo perfil que o seu. Aliás, acho que é muito fácil encontrar candidatos com as mesmas intenções e níveis de preparo que o seu, independentemente da formação escolar ou classe social. De qualquer forma, agradeço pela sua participação e fica aqui nosso incentivo sobre sua campanha focada no seu nome popular. Qualquer coisa diferente disso será um tiro no pé.