quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Amargura por Extenso




Dia do Saci
Como todos sabem, sempre que chegamos no Halloween começa essa palhaçada de que temos de comemorar como o Dia do Saci, viva a cultura nacional, estrangeirismo é o cacete e por aí vai. Pois bem, para não entrar na polêmica, fiz algumas sugestões para padronizarmos o restante do ano e a discussão ficar sacramentada:
·         Páscoa: Trocar o coelhinho por uma capivara (Cora Ronai vai adorar);
·         Natal: Trocar o Papai Noel pelo Silvio Santos (nada mais justo);
·         Réveillon: Trocar a queima de fogos chineses por rodar Bombril em chamas;
·         Dia do Trabalho: Trocar o comunista/socialista por um sindicalista vagabundo (acho que já é assim);
·         Em protestos: Trocar a imagem do Che pela imagem do Geraldo Vandré;
·         Rock in Rio: Saem todas as bandas de todos os ritmos e entra o casal de ceguinhos que fica batendo em um pandeiro na porta da C&A;
·         Dia da Independência: Acabar com aquele desfile de tropas que remete a países que participam de disputas bélicas. No lugar, montar várias rodinhas de PMs pançudos, jogando papo fora e bebendo cafezinho cortesia do botequim da esquina;
·         Dia, mês e ano: Trocar o calendário gregoriano, pelo calendário dos índios brasileiros: Todo dia é domingo!
Viva a cultura nacional!!!

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O fabuloso imaginário do absurdo

Conto anterior da coleção: Senhora Neves


Invocação Danada
- O melhor é dormimos todos juntos no mesmo quarto esta noite.
Gustavo, o mais velho do grupo, sacramentou a conversa com essa sugestão. Aquele grupo de cinco jovens estava hospedado há quatro dias em um casebre no meio do nada. Aquele lugar era a única opção para eles descansarem da longa viagem que estavam fazendo pelo interior. O único problema é que na primeira noite coisas estranhas começaram a acontecer por lá. Objetos voando contra a parede, portas batendo, sons de passos e pernas sendo puxadas. Eles queriam ir embora, mas teriam de aguardar mais dois dias até o trem passar novamente por aquelas redondezas.
Decisão tomada, foram todos para o maior quarto. Gustavo e sua namorada, Paula, dormiram na cama de casal, Bernardo e Cotó se ajeitaram no chão com algumas almofadas, Nina ficou com a cama de solteiro que colocaram atrás da porta. Deixaram a luz acessa e, mesmo assim, pegaram rapidamente no sono de tão cansados que estavam.
Enquanto isso, no sótão da casa, sem que pudessem ser notadas, duas entidades conversavam. Uma era um baixinho gordinho, remetia a um menino de aproximadamente 16 anos. A outra, mais alta, magra e com cabelos despenteados, lembrava um garoto de, no máximo, 19 anos.
- Cara, hoje vamos barbarizar – disse o gordinho. – Eles estão no quarto que tem os livros.
- Já estou imaginando o que pensou – completa o magro. – Vamos fazer uma biblioteca voadora.
- Isso! Livros pelo ar! Eles não saberão o que fazer!
As duas entidades riam bastante da ideia, quando, atravessando o teto, uma terceira entidade surge. Um homem mais velho, aproximadamente 30 anos, barba por fazer, vestindo jaqueta, calça justa e botas, na mão direita dois anéis, na esquerda uma garrafa de Jack Daniel's pela metade. Os dois param de rir e antes que pudessem perguntar algo, ele fala:
- Vocês são uns retardados – ele diz e depois repete apontando com a garrafa para eles. – Vocês dois! Um! Dois! Dois retardados!
- Calma aí, colega – fala o gordinho com voz apaziguadora. – Do que está falando?
- Vocês dois com essa merda de brincar de Gasparzinho.
- Mas o que queria? – pergunta o magro. – É para isso que estamos aqui!
- Sim, mas precisam ser tão cabaços?
Após ter dito isso, ele dá um longo gole na garrafa, diz que já volta e sai do sótão atravessando a parede. As duas entidades ficam se olhando sem entender o que acabou de acontecer. Antes que pudessem falar algo, um grito ecoa pela casa. Era a voz da Nina.
- O que foi? – pergunta Cotó, ainda deitado no chão. – O que houve, Nina?
- Eles me atacaram!
- Oh, não! – exclama Bernardo, já de pé em frente a cama de Nina. – Eles puxaram o seu pé?
- Não, meu peito!
- Seu peito? – Bernardo pergunta mais apavorado ainda. – Puxaram seu peito? As agressões estão piorando, gente!
- Não – responde Nina ajeitando a blusa. – Não puxaram. Apertaram.
- Como assim? – dessa vez é Gustavo que pergunta já de pé. – Apertar de torcer? De machucar?
- Não – responde Nina com o rosto corado. – Foi meio que uma patolada. Uma buzinadinha. Sabe do que estou falando? Um fóm-fóm.
Os meninos estão ao redor da cama de Nina que tenta explicar o que aconteceu. Estão todos confusos, quando Paula, que ficou só na cama de casal grita.
- PAULA! – Gustavo reage gritando e indo em sua direção. – O que houve, meu bem?
- Deram um tapa na minha bunda!
- Uma agressão?
- Não – responde Paula. – Um tapa mais no estilo de pegada. Sabe aqueles tapas que te fazem sentir gostosa?
- Sei – diz Gustavo. – Aqueles que lhe dou quando estamos a sós.
- Não. Os seus são meio frouxos. Parece que tem medo de me quebrar. Esse foi bem dado. Estalou. Foi de mão cheia. Nada de pegar no pulso ou só ponta de dedos. Foi um senhor tapa.
De volta ao sótão, as duas entidades ainda se olhavam caladas, quando o homem mais velho volta atravessando a parede. Ele parece encenar uma dancinha e, com as mãos, faz movimentos que parecem bicos de pato.
- Peitinho! Bundinha! Entenderam, seus manés?
- Você se aproveitou delas? – pergunta o gordinho.
- Mas é claro – responde o homem com os braços abertos. – Acham que vou perder tempo com livros voando ou parar relógio?
- Mas isso é proibido – diz o gordinho com ar de dúvida. – Não é?
- Proibido? Agora tem regras para quem morreu? Não pode apertar peitinho, mas fazer menina boa de família descer pelas escadas de quatro AO CONTRÁRIO, eu disse, AO CONTRÁRIO, pode! Muito engraçado.
- Bem pensado.
- Pois é – o homem mais velho continua. – Fazer o Ronaldo se tremer todo na concentração da Copa do Mundo aqueles espíritos fedorentos franceses podem, mas eu não posso apertar um peitinho? Pois sim! Tem de aloprar!
- É isso aí!
O gordinho concorda e sai do sótão decidido. O homem mais velho fica calado, com um sorriso cínico, olhando para o magro. Sua expressão é de como quem diz que ganhou uma discussão e um adepto ao mesmo tempo.
No quarto, Gustavo e Paula discutem por causa da declaração que ela deu. O clima é tenso. Nina permanece sentada na cama, encolhida e de cabeça baixa. Bernardo tenta confortá-la. Cotó tentar minimizar a discussão:
- Gente, calma! É isso que eles querem! Querem a nossa discórdia.
- Não fale, besteira – responde Gustavo. – A discórdia foi criada por ela. Você ouviu o que ela falou.
- Eu sei – Cotó tenta argumentar, quando dá um pulo e um grito. – AI, CARALHO!
- Cotó – Bernardo se levanta da cama para ajudar o amigo que pulou tão alto que caiu no chão. – O que houve?
- Eles me deram uma dedada no cu.
Voltando para o sótão, assim que atravessou a parede, o gordinho leva uma garrafada na cabeça do homem mais velho:
- Seu imbecil!
- O que foi?
- Seu imbecil – repete o homem mais velho levantando a garrafa para ameaçar bater no gordinho novamente. – Você é viado, seu retardado?
- Claro que não!
- Então por qual motivo resolveu enfiar o dedo no rabo do coitado?
- Eu tenho vergonha de meninas. Entrei em pânico quando as vi e não consegui pensar no que fazer.
- Puta que pariu – resmunga o mais velho que depois se vira para o magro. – Vem cá, paspalho. Vem comigo!
O mais velho pega o magro pelo braço e atravessam a parede. Eles chegam ao quarto. Nina continua encolhida na cama, Cotó, ao seu lado, também está sentado, mas com as mãos entre a cama e a bunda, como se a estivesse protegendo de algo eminente. Bernardo está ajoelhado de frente para os dois, ele está falando tentando acalmá-los. Gustavo encostado na parede confronta Paula que está de pé no meio do quarto.
- Ainda espero uma resposta sua, Paula – Gustavo insiste no assunto, até parar, pois ela está com uma expressão estranha. – Que cara é essa, Paula? Você está sorrindo?
- Claro que não – ela nega, mas sua expressão é de sorriso de canto de boca. – Eu estou... Ai! Eu estou... Ui! Estou de booooooooooooooa.
Eles não entendem o que está acontecendo. Tão pouco podem ver que, na verdade, o mais velho está agarrando e sarrando a Paula por de trás. Neste meio tempo, ele aponta para que o magro faça o mesmo com a Nina.
Em menos de um minuto, Nina e Paula estão levitando. Elas foram levantadas pelas entidades que colocam suas pernas em volta da própria cintura. Os meninos se assustam com a cena das duas “voando” e com uma expressão que parece ser demência, mas na realidade é prazer. O mais velho começa a gargalhar e, com isso, assusta mais ainda os meninos que conseguem ouvir sua voz e o hálito de álcool.
- Caralho – fala Bernardo espantado. – Que porra é essa?
- Elas estão possuídas – diz Cotó. – Corre, porra!
Eles saem correndo e deixam as meninas no quarto. As duas entidades se aproveitam do momento ao máximo e depois vão embora. As meninas ficam ali, largadas ao chão, despenteadas, com uma expressão de total insanidade no rosto. Nunca mais quiseram sair daquela casa. Especialistas diziam que os espíritos que atormentavam aquela casa já tinham se apoderado dos corpos delas de tal maneira que nem um padre exorcista daria jeito.
Naquele dia, ao voltar para o sótão, tanto o mais velho, quanto o magro, fizeram uma festa.
- Você tinha que ver o estrago que fizemos – disse o magro para o gordinho. – Foi demais!
- É isso aí, garoto – completou o mais velho erguendo sua garrafa. – Aprendeu com o mestre! Agora sim vai curtir a eternidade.
- Um novo mundo se abriu para mim – continuou o magro que se direciona para o gordinho. – O que houve, cara?
- Estou preocupado – responde o gordinho que está sentado no canto do sótão olhando fixamente para uma de suas mãos. – Acho que preciso de um exorcismo.
- Exorcismo, moleque? Para exorcizar o que? Expulsar o que de você?
- Esse cheiro de cu que não sai de jeito algum do meu dedo.


Próximo conto da coleção: Seu Cosme das florestas

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Amargura por extenso

O preço caro da beleza
Um merdeiro que se preze não sabe a hora de parar. Não existem limites para quem faz merda compulsivamente quase que inconscientemente. Se é real a possiblidade de fazer algo que vai ser constrangedor, traumatizante ou perturbador, isto será feito. Principalmente se há uma potencial chance de ser os três ao mesmo tempo e mais alguma coisa.
- Para de frescura – ela disse uns 15 anos atrás. – Isso não é coisa de viado! É questão de higiene e fica esteticamente melhor.
Nenhum desses dois argumentos foi suficiente para me convencer a passar máquina nos pentelhos. Cabeça de homem é uma merda! Para mim, aparar os pentelhos era coisa de viado. E o problema de higiene era facilmente resolvido com sabonete e muita água.
- E acredite – ela completou com ar sério. – Seu pau vai parecer maior.
Pronto, estava convencido. Cadê a máquina? Não pensei duas vezes. Passei máquina na parte de cima, nas laterais, no saco, nele todo. Foi um desmatamento completo a dar inveja a qualquer fazendeiro do Pará. No chão do box, a cena era de um abraço coletivo dos Jackson 5 olhado de cima. Quanto ao tamanho, não existia mentira. Ele parecia maior, praticamente o dobro do tamanho, impressionantes seis centímetros.
Como era de se esperar, ela disse apenas as vantagens. Claro! Não se convence alguém falando os pontos positivos e logo depois comentando que vai ter uma coceira infernal por horas. E foi isso que aconteceu. Fiquei me coçando sem parar. Coçava com as unhas, régua, caneta Bic, esfregava a calça jeans diretamente nele. Jogava água gelada, água quente, água com vidro moído, qualquer coisa para tentar diminuir aquela sensação desesperadora. A vontade era arrancar a minha pélvis fora e instalar um funil no lugar.
Passados dois dias, a sensação terminou. O resultado era de fato muito melhor. Antes, tinha um druida tentando fugir da mata, agora, ele estava em um gramado bem cuidado. Se tivesse braços, poderia comparar com a cena da Julie Andrews dançando e cantando em A Noviça Rebelde. Decidi que manteria aquele padrão estético, mesmo com o sofrimento da coceira que, depois, descobri que com o tempo ficaria cada vez menor.
- Olha só – disse outra mulher para mim alguns anos depois da experiência citada. – Isso deve ser bom.
Ela se referia à cena de um filme pornô que estávamos assistindo. Basicamente, a mulher em cena lambia o saco do ator. Fiquei surpreso, pois ela tinha feito exatamente aquilo na noite anterior. Resolvi perguntar a diferença.
- Ah olha bem – ela falou apontando para a tela. – O dele é lisinho! Deve ser muito bom!
Peralá! Estávamos agora falando de algo muito mais delicado. O cidadão do filme não tinha um pelo sequer no playground dele. Saco, pau, entorno, tudo liso. Aquilo já era demais. Não que me incomodasse em parecer um ator pornô, ser aparentemente aleijado e bem definido soava uma boa ideia. Mas liso não rolava.
- Você está louca? Sequer passo lâmina de barbear no rosto que é liso porque sempre me corto! Imagine em uma área irregular, oculta e sensível!
No curto tempo que demorei em pronunciar essas palavras consegui me imaginar em diversas posições constrangedoras para acessar algumas áreas que deveriam ser raspadas. Todas as posições envolviam abertura de pernas, levantamento de rabo e outras elasticidades que não possuía. Sem citar os jatos de sangue que iriam voar para todos os lados após um menor movimento mal calculado.
- Não precisa disso, seu bobo – ela disse rindo. – Basta depilar com cera. Existem profissionais para isso.
Não sei se o comentário foi fruto de alguma limitação cognitiva dela, mas quando você alega que não vai fazer algo por não querer ficar na posição arreganhada, sugerir como solução ficar arreganhado na frente de outra pessoa não é uma boa ideia. Tão pouco uma solução que envolva arrancar os pelos em tufos de uma só vez. Para mim, aquela opção era impossível. Sabe o que mais era impossível? Negar um pedido feito enquanto assiste a um filme pornô com alguém enfiando a mão nas suas calças. Acatei! Prometi que até o próximo final de semana estaria com o pau tão liso quando um bebê. Merda!
Passei quase uma tarde inteira pesquisando sobre locais para fazer a depilação. Poucos atendem ao público masculino. Desses, a maioria dos profissionais é mulher. Na minha cabeça isto seria uma péssima ideia. Não tenho controle algum sobre meu pau. É como se fosse um ser independente acoplado no meu corpo. Ele faz o que quer. Não importa se tem uma mulher nua na minha frente, se estou na fila do supermercado ou ouvindo o discurso emocionado de alguém em um velório. Se ele decide se levantar, ele se levanta e ponto final. E nem adianta pensar na minha mãe dançando Conga Conga, porque daí ele se revolta, vai na direção do bolso que tem moedas para ficar tudo mais apertado, aumentar a pressão e não descer nunca mais. Na mão de uma depiladora seria certo que ele se levantaria clamando por atenção como uma criança mimada. Eu acabaria ficando sem graça, sairia correndo de calça arriada, pau em pé e meia depilação feita, quase como o penteado de pagodeiro.
Optei então por um profissional masculino. Não correria o risco de uma ereção constrangedora e, de quebra, teria a certeza que ele sabe de quão frágil é a área que estava tratando. Liguei, marquei o horário e esperei o dia chegar.
- Fudeu!
Falei em voz alta assim que ele abriu a porta do “consultório”. O profissional era a cara do José Mayer. Além de comer todo mundo em todas as novelas, iria comer minha bunda ali também. E ela nem estava depilada. Triste ironia.
Depois que entrei, ele me conduziu até uma sala menor. Disse para que tirasse as calças e cueca e me deitasse na maca. Nesse meio tempo, ele foi retirando os produtos que supostamente usaria de um armário. Enquanto fazia isto, ele aproveitou para confirmar qual seria o serviço:
- Então, qual área iremos depilar?
- Basicamente o pau e o saco – falei em um tom bem rústico e másculo para que ele soubesse que era muito macho.
- Depilaremos então a região da pélvis, virilha e escroto.
Escroto? Que merda mais escrota! O cara que iria me depilar, que iria me provocar dor, era polido no vocabulário técnico. Era como apanhar com alguém usando luva de pelica. Ora, se for para apanhar, que seja com uma garrafada na cabeça, chute na barriga enquanto estou caído no chão e outras porradas bem dadas. Nada de tabefes e petelecos. Para mim o ideal seria ele perguntar:
- Vamos tirar essa pentelhada toda da piroca para a alegria da mulherada?
Finalmente estava nu e deitado na maca. Ele, com o detalhismo de um vistoriador do DETRAN mal intencionado e com a habilidade de um vendedor de cosmético, iniciou uma longa apresentação a todos os produtos: Papel de seda descartável, cera com ingredientes que devem ser compostos de sangue de duendes de tão especiais que eram, pinça esterilizada, maca higienizada e outros frufrus. Falou sobre dermatite, pelos encravados e outras coisas. Não me abalei, macho que é macho quando faz essas merdas pega hepatite, infecção generalizada e peste bubônica.
Enfim, iniciou-se o trabalho. Pegou uma tira de papel com bastante cera, aplicou na virilha, deu dois tapinhas e perguntou se estava preparado. FILHO DA PUTA! Antes que dissesse que não, ele puxou a tira de papel com cera. Arrancou pentelhos, pele, carne e até os ovários que eu achava que não tinha. Antes que pudesse me recompor, ele aplicou uma nova tira no mesmo local “para tirar os que não saíram”. Sem sequer perguntar desta vez se estava pronto, puxou. CARALHO! Aplicou uma terceira tira ainda no mesmo local, “alguns são teimosos e não saíram”.
- MALDITOS – gritei para a minha virilha. – SAIAM AGORA! RENDAM-SE! FUJAM! CORRAM PELAS SUAS VIDAS, DESGRAÇADOS!
Ele deve ter me achado maluco. Riu um pouco e continuou. A dor era insuportável, não importava onde. Virilha direita, virilha esquerda, pélvis, pau (nessas horas fiquei feliz por ter um pau de ator pornô, pois assim demora menos e essa parte será rápida), escroto. Provocou dor em todas as partes nas quais gosto de sentir prazer. Dizem que ao término a sensação é de dormência. Não, não é! A sensação é de estar com energia estática naquela região. Fiquei com medo de atrair pregos, porcas, arruelas e clips caídos no chão enquanto voltava para casa.
Encerrado, tudo que eu queria era sair dali e poder voltar para casa com as pernas afastadas como quem andou de cavalo por uma semana ininterrupta. Daí o cidadão me vem com a pergunta:
- Vai depilar o ânus?
- Por que depilaria o ânus?
- Porque ninguém gosta de sexo oral com ânus peludo.
- Por que alguém chegaria perto da minha bunda com a boca?
- Ah você – disse ele enquanto cobria o rosto com as mãos. – Você não?
- Não – respondi sem ser grosseiro. – Mas obrigado por achar que tenho uma bunda lambível.
Ele, visivelmente constrangido, se desculpou. Disse que iria apenas passar a máquina na parte superior da coxa para aparar uns pelos maiores. Consenti sem a menor preocupação e deixei que terminasse o trabalho. Sabia que seria só aquilo, então relaxei. Já notaram que é sempre no último minuto que tudo vai por água abaixo? Normalmente, no último minuto, você está lá em posição de fechar a boca, daí o dentista fala que só vai ver uma coisinha. Logo depois vem broca, serra, aspirador, Grill Foreman e o escambau. Sempre no último minuto dá merda. Então, nesse último minuto, ele iria apenas passar a máquina nos pelos da coxa perto da virilha. Relaxei. Pois bem, aquele treme-treme sinuoso da máquina ali embaixo acabou surtindo mais efeito do que devia. O pau subiu. Mas não apenas se levantou. Ele subiu e subiu com vontade. Nervoso! Achei que seria ejetado dali de tão rápido que foi. O sósia do Zé Mayer fingia que não estava percebendo. Virou até o rosto.
- Não vira o rosto, não – disse para ele. – Você está com uma máquina perto do meu pau e vai virar o rosto para o lado? Pode olhar. Olha com atenção apenas, mas olha!
Ele riu mais uma vez. Em seguida, pedi desculpas e ele disse para não se preocupar, pois aquilo era mais comum do que eu poderia imaginar. Finalmente encerrado, jogou talco à distância, pois o pau ainda estava de pé. Ficou parecendo uma versão tímida do Farol de Salvador.
Agora vejam. Troquei uma profissional possivelmente achando que estava tentando seduzi-la com um pau de pé, por um profissional que não somente deve ter achado que tentei seduzi-lo com um pau de pé, como também fiz cu doce cabeludo para ele no início.
Vesti as calças. Tudo incomodava. Parecia que tinha levado uma saraivada de tapas por toda aquela região. Andando engraçado, saí do “consultório”, agradeci e falei para o próximo cliente que o aguardava:
- Peça a depilação anal!
Em casa, resolvi me olhar no espelho. A cena era ridícula. Uma pélvis exageradamente vermelha, careca e, ao final dela, duas pernas cabeludas. Parecia que estava vestindo uma meia-calça felpuda. Só faltava a dona da ideia não curtir o resultado. Mas isso fica para outro dia.

Diário de Viagem - Uruguai 2013



Resumo Dia 1 (01/10) - Punta Del Este
Pontos positivos:

- À distância, lembra Balneário Camboriu. De perto, Miami;
- Tranquilidade e sensação verdadeira de segurança;
- Cassinos!!!!!!!!!!
- Loja foda de capacetes estilizados;
- Transformar US$90,00 em mais de US$200,00 em tips de US$10,00;
- Cuba Libre liberada enquanto joga;
- As chicas que atendiam no casino;
- Taxi barato e só Mercedes zero.

Pontos Negativos:
- Em 20 minutos, um céu de brigadeiro ficar cinza como um a virilha de velha;
- Descobrir que a rua do seu Hostel não existe. Isso a pé!!!!!!!
- Achar seu Hostel demolido!!!!!!
- Comer o pior Subway do mundo;
- O bafo de merda do velho bigodudo que não calava a boca ao meu lado na mesa de BlackJack;
- Terminar a noite zerado...
- ...e bêbado...
- ...e com muito frio!!!
- Acordar de calça jeans e tênis, com uma ressaca de MIERDA!!!

Destaque:
- O Hostel que me hospedei. Bom, barato e MUITO mais bem localizado.


Resumo do dia 2 (02/10)
Pontos positivos:

- Dia belíssimo = belas fotos e caminhar agradável;
- Overdose de sucrilhos com leite e chocolate no café-da-manhã;
- Falar qualquer língua nas lojas e deixar os vendedores se viraram para te atender;
- Lobos-Marinhos!!!
- A infinita quantidade de trocadilhos e piadas cretinas que fiz quando chegamos no ponto apresentado como Punta da Punta;
- Sr.Fernando do city tour;
- Brasileiros everywhere;
- Patricia! Patricia! Patricia! Patricia! Patricia!
- Pisco também!
- Casas e prédios fodásticos;
- Mais um porre patrocinado por Casino Conrad;
- Pôr-do-sol na Casa Pueblo.

Pontos negativos:
- Dia belíssimo = mais um bronzeado bizarro;
- Câmera parou de funcionar;
- Loja da Harley fechada (puta de la mierda);
- Perder mais dinheiro no casino;
- A merda do Diners que raramente é aceito por aqui;
- Ser expulso da Casa Pueblo;
- Voltar a pé às 04:00 bêbado, num frio absurdo, e ficar trancado fora do hotel por uns 30 minutos.

Destaque do dia:
As três mocinhas mineiras que, comigo, fizeram um caos por todos o city tour e depois me acompanharam noite a dentro.


Resumo do dia 3 (03/10) - Punta/Montevideo
Pontos positivos:

- Não rolou ressaca (até agora não entendi como, mas fiquemos quietos);
- Deu tempo de um último passeio pela praia;
- Tirar foto profanando a Mão e depois reparar que todos estavam tirando foto sua também;
- A excelente estrada uruguaia;
- A rodoviária que é muito boa, inclusive e principalmente na organização para pegar taxi;
- O estilo do Hostel de Montevideo.

Pontos negativos:
- Não ter conseguido visitar José Ignacio, nem a vinícola de Punta;
- Quase morrer sufocado com a própria língua ao tentar pronunciar corretamente andorinha em espanhol;
- O interior apertado dos taxis imitando o estilo NY. Apenas o Wagner Montes consegue viajar confortavelmente, pois pede para levar as pernas no bagageiro;
- A quase nula sensação de segurança que a cidade passa;
- Hotel de Montevideo não aceitar cartão de crédito(fudeu).

Destaque do dia:
- Meu pai que me perdoe, mas o churrasco daqui é incomparável. Comi ontem uma costela sensacional!!!


Resumo do dia 4 (04/10) - Colônia del Sacramento
Pontos positivos:

- A parte histórica da cidade é belíssima. Foram quase 500 fotos tiradas;
- O tempo que, na maior parte do passeio, colaborou e muito;
- Colocar o sono em dia no trajeto;
- Sorvete artesanal!!!
- Pub El Pony Pisador em Montevideo. Muito bom!
- Música ao vivo tocando "ritmos brasileños";
- Tocaram Fogo e Paixão do Wando!!!
- Conhecer duas brasileiras que trabalham na Smirnoff e ser arrastado para a área VIP de três boates com tudo liberado "di grátis";
- Chopp não é Heinikem;
- Mesmo com o frio, saias e vestidos curtos everywhere.

Pontos Negativos:
- Três horas de ida e três horas de volta. Quase a rotina de aluno do Cefet que mora em São Gonçalo;
- Muita chuva no inicio do passeio;
- Museo dos Náufragos: pior coisa que já vi na minha vida. Claramente, trata-se de um obsessivo compulsivo por itens de naufrágios APENAS DAQUELA região. O cabra literalmente entulhou tudo em um galpão, fez uma decoração cafona e tosca, colocou sons aleatórios ao fundo e, de quebra, fica tocando sem parar Please Don't Let me Be Misunderstood do Santa Esmeralda. Ótima pedida para quem quer ver manequins vestidos de pirata, troncos achados no fundo do mar e bolotinhas de ferro enferrujadas;
- Descobrir que o tão falado Chivito uruguaio é o nosso Bauru. Sendo que nem é melhor do que o do Rico's Lanches;
- Las Lentas Maravilhas estava fechada;
- Cidade Velha de noite parece locação para a gravação de Walking Dead;
- A mulher uruguaia, na sua maioria, não é bonita;

Destaque do dia:
- A honestidade dos taxistas. Tentam ajudar ao máximo e não inventam percursos maiores.


Resumo do dia 5 (05/10)
Pontos positivos:

- Mais um dia com café-da-manhã a base de sucrilhos com Nescau e pão com doce de leite;
- A cidade está cheia, bonita e festiva para o dia do patrimônio;
- Desfile de carros de carros antigos;
- A entusiasmada e incansável torcida do Peñarol;
- Saber que o Brasil não é o único país do mundo infestado de Gremilins... Digo, peruanos;
- Chopp Pilsen;
- Alfajor Havana com sorvete Fredo;
- El Pony Pisador como melhor balada de Montevideo;
- Piriguetes uruguaias.

Pontos Negativos:
- A incontável quantidade de toletes de cachorro pelas ruas;
- Dinheiro acabando;
- O Estádio Centenário pelo estado de abandono. Acredito que não tenha recebido uma reforma desde a Copa do Uruguai. Parece um Serra Dourada ou Brinco de Ouro com história;
- O time do Peñarol que é horroroso. Não conseguem trocar três passes, tem um goleiro muito ruim e o melhor jogador é reserva, só entrando faltando pouco mais de vinte minutos;
- A total falta de segurança ou tentativa de manter a ordem no estádio;
- A língua alternativa dos ambulantes do estádio. Só dá para perceber que estão vendendo churros após olhar para a bandeja, porque o infeliz do velho gritava algo como "rrrrrrrurrrrrrrrrrru";
- No meio da balada tocar Dança da Bundinha, Gera Samba, Katinguele e todos vibrarem!!!

Destaque do dia:
- Senhor sueco, de aproximadamente 65 anos, que desceu sozinho do Canadá até o Uruguai com sua Harley. Conheci no meio dos desfiles dos carros, me mostrou fotos, trajetos, contou histórias. Inveja cor de sangue, quase negra.


Resumo do dia 6 (06/10)
Pontos Positivos:

- Mais uma manhã de pão com manteiga e mel, pão com doce de leite, sucrilhos com Nescau;
- Patricia Litro;
- A interminável Feira de Tristan Navaja, onde vende de tudo, desde frutas e legumes a animais vivos, de roupas a quinquilharias, de comidas pré-prontas a ingressos falsos da Copa de 50;
- Cidade muito movimentada;
- Cecile, a uruguaia mais doida que já conheci;
- Mais um belo final de tarde;
- Mais uma noite no El Pony;
- Chopp Pilsen.

Pontos Negativos:
- Quase perder um evento por não saber do inicio do horário de verão;
- Esquecer o filtro solar no hotel;
- Mais um dia acordando com todos os orifícios do corpo obstruídos por catarro;
- Levar esporro por chegar no final da madrugada fazendo MUITO barulho e criar um caos no banheiro;
- Não ter tido tempo para conhecer Parque Rodó.

Destaque do dia:
- Sobremesa que comi em um restaurante ontem de noite: Muerte por Chocolate. Além de ser obscena de tão gostosa, é quase um projeto arquitetônico de tão bem arrumada.


Resumo do dia 7 (07/10)
Pontos Positivos:

- Mais um dia de café-da-manhã à base de sucrilhos com Nescau, pão com manteiga e mel, pão com doce de leite;
- Zero ressaca;
- Tour pela Vinícola Bouza. Local belíssimo!
- Desgustação na vinícola. Vinhos excelentes acompanhados por pães e queijos fenomenais feitos lá mesmo;
- Algumas garrafas adquiridas;
- Alguns alfajores adquiridos;
- Sorvete Fredo!!!
- Loja da Harley!!! Mais uma camisa para a coleção!!
- Confirmar que provoquei a ira eterna das francesas do quarto ao lado;
- Chegar no restaurante de noite ainda de porre de tanto vinho;
- Muerte por Chocolate!!!
- Chegar torto no El Pony!!!
- Cantar Roupa Nova no El Pony.

Pontos Negativos:
- Mais uma manhã que se inicia com todos os orifícios obstruídos;
- O comportamento dos brasileiros na vinícola. Não calam a boca, não respeitam o que se pede, atrapalham os outros;
- Ter de comprar uma mala bem maior;
- Ainda falta espaço!!!
- Piorar a situação da americana;
- Repetindo Márcio Braga: "Acabou o dinheiro!"

Destaque do dia:
- O motorista francês que ficou a minha disposição para o passeio. Um senhor de 70 anos que já foi capitão de navio cargueiro e viajou por todo o mundo. Contou historias, mostrou fotos e foi atencioso.

 
Resumo do dia 8 (08/10) - Último dia
Pontos Positivos:

- Mais um café-da-manhã mega-calórico;
- Última volta por Montevideo. Desta vez, a orla;
- Almoço em uma cantina típica interiorana. Comida caseira sensacional, quinquilharias espalhadas para todos os lados, dentre elas, a que mais me chamou atenção: Uma foto do dono com Zico, Ronaldo, Platini;
- Mais Fredo!!!
- Vôos da Gol sempre pontuais;
- A alfândega brasileira que é uma mãe. Nada para, nada pergunta, nada vê;
- Ter a certeza que fiz boas amizades: Cecilia, Sebastian (Posada Al Sur), Henrique (El Pony); Sherryl; Gustaf; François e outras pessoas;
- Pouquíssimas coisas ficaram por fazer.

Pontos Negativos:

- Se enrolar (mais uma vez) com o horário de verão uruguaio e chegar com três horas de antecedência ao aeroporto;
- A falta de educação dos brasileiros nos aviões e aeroportos;
- Chegar em casa e descobrir que precisa fazer compras com urgência.

Destaque do dia:
- Todas as pessoas que deram suporte ao Robert e Roger lá em casa permitindo que a viagem fosse feita. Obrigado a todos, inclusive aos analfabetos que quase colocaram fogo no meu apartamento.