segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Cretinice homeopática

- Tem de ir para a cadeia mesmo!
- A cadeia só forma bandido!
- Então levem para o abrigo!
- Lá traumatiza e deixa violento!
- Que coloquem na escola!
- Já viu o estado das nossas escolas?
- Particular então!
- Os professores não têm mestrado!
- Têm, sim!
- Mas é da Estácio!
- Aí fudeu tudo! Solta a molecada!

sábado, 5 de setembro de 2015

Histórias reais inventadas por mim

Professorinha
- Pois não?
Confesso que, quando ela abriu a porta, fiquei uma mistura de surpresa com decepcionada. Ela era uma pessoa bem mais velha do que esperava. Ao invés dos vinte e poucos anos, estava beirando os cinquenta. Com certeza era mais velha do que eu. Não suficiente, a forma como me recebeu foi meio que um balde de água fria. Espera-se que em situações como essas, a pessoa te receba bem vestida. Não de maneira elegante, mas sexy, transbordando sedução. Afinal de contas, era o ganha-pão dela. O que vi era o oposto. Uma calça jeans surrada que estava faltando o botão, uma camisa de malha velha manchada de água sanitária e um casaco de moletom por cima. Ela era ao menos bonita. Bem, quero dizer, para alguém da sua idade, ela estava muito bem e aparentava ter sido no auge uma mulher bonita.
- Eu sou a Cássia. Liguei para você ontem e marquei hoje às três da tarde.
- Ah! Sim, Cássia! Você está só?
- Estou sim! É só para mim mesmo.
Dolores ficou bem surpresa quando confirmei que estava só, deu para notar no seu rosto. Perguntei se tinha algo de ruim naquilo e ela disse que não. Explicou que era muito estranho, normalmente o público dela era mais novo, mas que não tinha problema.
- Mais novos, né? Entendo. Eles são inseguros e precisam sempre de uma ajuda.
- Ah! Sim! Algumas vezes é falta de apoio familiar também, mas uma boa profissional ajuda e dá segurança para que continuem por contra própria.
- E eu ser do sexo feminino é uma exceção?
- Não! Imagine! Confesso que a maioria são meninos, mas aparecem meninas também. Sabe como é, né? Elas amadurecem mais cedo, ganham responsabilidade mais cedo e ficam mais determinadas.
Ela ter usado termos como meninos e meninos fez com que me sentisse mais velha ainda. Longe de mim criticar isso. Vai ver estava tão calejada da vida que certas coisas não a afetavam mais. Se ela recebia uma cliente daquela forma, quem sou eu para esperar um vocabulário mais apropriado. Como estava ainda insegura e sem graça, continuei com assuntos paralelos ao meu objetivo.
- E você trabalha com isso tem muito tempo?
- Uns 18 anos pelo menos.
- Hum, começou tarde. Como veio parar nesse ramo?
- Na verdade foram dois motivos. Primeiro foi o divórcio. Meu marido me largou. Sumiu. Fiquei com uma casa para manter, sendo que não tinha emprego, diploma, nem experiência. Era uma clássica “do lar”. – Ela fez as aspas com a mão. – Junto disto veio a crise. Nenhuma empresa estava contratando, não existia mercado para inexperientes, ainda mais com trinta e poucos anos. Então resolvi investir nessa carreira. Não tenho vergonha. Ganho meu dinheiro de maneira honesta.
- Claro! Honestíssima. E você é uma vencedora, pois diante do caos que virou sua vida, foi corajosa e tomou decisões duríssimas para poder se manter de pé.
Ela concordou comigo e me agradeceu por entender tão rapidamente a sua história. Depois me ofereceu uma bebida. Disse que não costumava fazer isso. O que fazia sentido, pois o papel de levar um drinque ou algo para sofisticar o atendimento é do cliente. Dolores percebeu que eu estava muito nervosa e travada e, por isso, justificou propor que bebêssemos algo. Dentre vodka, cerveja e vinho, optei pelo vinho branco. Ela brindou, sorrimos e descemos uma taça em um gole único. Enchemos novamente a taça e voltamos para o papo para descontrair um pouco mais.
- E você sempre atende em casa? Ou vai a domicílio?
- Eu sou muito rigorosa com isso. Sei que sou um ponto fora da curva. Só que na casa dos outros tem muita distração, além de não me dar uma sensação de segurança. Aqui, toda pessoa que entra e sai é filmada na portaria e os funcionários ficam atentos ao entra e sai.
- É grande o movimento?
- Ah sim! Por semana atendo uns 60. Tem dia que sequer consigo brecha para almoçar.
Era uma surpresa atrás da outra. Só que agora uma surpresa boa que se contrapunha à decepção inicial. Se esta mulher que assim me recebeu atende quase 60 clientes por semana, ela deve ser muito boa mesmo. Fiquei segura, com a certeza de que estava em boas mãos. Perguntei então se o habitual era pagar no início ou no final. Ela disse que ficava por minha conta. Optei por entregar logo o dinheiro, que ela guardou no quarto e voltou perguntando como iria me ajudar.
- Meu casamento está ruindo e tenho certeza que o problema está na cama. E, não, o problema não está com meu marido. Sou eu mesma o problema. O ato sexual não me apetece muito.
É óbvio que alguém que usa termos como ato sexual não gosta de sacanagem. Se incluir apetecer na frase então, fica pior ainda. Mas era verdade, não sou do tipo de mulher que curte sexo. Fazia apenas quando meu marido me pedia e torcia para acabar logo. Talvez fosse uma consequência da criação cristã fervorosa que meus pais me deram. Enfim, não curtia e vocês entenderam.
- Adoro quando ele sai para jogar bola com os amigos, quando vai ao Maracanã ou fica no bar o domingo todo. Assim tenho sossego e não preciso ficar inventando afazeres dentro de casa para fugir dele e sua pinta de pé em minha direção.
Pinta! Sou uma catástrofe de mulher de 44 anos. Falo ato sexual, pinta e, se a Dolores não me interrompesse rapidamente, previa que teria de falar sobre gozar, termo que costumo substitui por explodir dentro de mim. Aliás, que por mais patético que seja, fico envergonhada só de pensar.
- Quando não consigo escapar é aquela coisa de sempre. Ele monta em mim, fico parada como um cadáver deixando ele fazer todo o trabalho até chegar ao final. O máximo que acontece é uma leve mudança de posição que, seja qual for, dura poucos segundos porque sempre invento uma desculpa como câimbras, dormência nas pernas ou a máquina de lavar que parou de bater a roupa.
Acho que era a primeira vez que abria minha intimidade para alguém. Nunca sequer cogitei falar algo do tipo para uma amiga, imagine para uma total estranha. Talvez a Dolores, com toda sua experiência, passasse uma confiança para mim que me fazia falar com a mesma naturalidade que falava sobre o tempo com estranhos no elevador. Ela, ali sentada com os olhos arregalados, talvez espantada pela minha história, transmitia algo que facilitava as palavras fluírem pela minha boca.
- Então, tudo que quero é poder ser uma mulher normal. Curtir fazer sexo com meu marido. Poder ficar por cima e ficar confortável, sem parecer um filme de terror. Quero me mexer. Quero um orgasmo. Quero ter coragem para fazer um oral nele. Quero muita coisa.
- Ok. Só um minuto. Cássia, certo? Isso é muito diferente para mim.
Claro que era muito diferente. Inclusive para ela! Aquilo era um caso único na humanidade. A história da mulher com anos de casada, que passou a vida toda com o mesmo homem, mas nunca teve um orgasmo. A esposa que subia no marido e ficava tão desconfortável que seus movimentos se pareciam com os de alguém que, após horas aguardando sentada na sala de espera, está procurando uma posição que não lhe cansasse. A pessoa que nunca colocou a boca em uma pinta. Pinta? Não, nada de pinta! Chega de ser a Cássia pudica de antes. Se eu quero mudar, preciso começar pelos meus próprios pensamentos. A partir de agora é pau, rola, piroca, cacete. Quero coragem para chupar aquela pica dura dele até gastar. Quero sentar no caralho dele e cavalgar como uma lhama serelepe ao descobrir um novo gramado para pastar. Gente, de onde está saindo isso?
- Dolores, eu sei que é diferente. Não precisa dizer. Não me julgue. Apenas me ensine.
- Sim, ensino. Ensino muitas coisas, mas... – eu interrompi a Dolores.
- Já sei! Já sei! Nunca precisou ensinar isso.
- Exato, minha especialidade é... – e vem mais uma nova interrupção minha.
- Você não costuma ensinar pessoas tão cruas como eu. Crua não! Eu sou a vaca que ainda está no pasto e sequer não virou bife. Mas faça esse esforço, por favor. Aqui está – entreguei outro maço de dinheiros para ela. – Pago dobrado. Me ensine a chupar um pau de tal maneira que meu marido passe o resto do dia seguinte no trabalho pensando em voltar para casa e receber o mesmo.
Dolores pegou o dinheiro com uma expressão confusa em seu rosto. Foi até o quarto, voltou e se dirigiu até a cozinha. De lá gritou que estava procurando algo, mas não tinha banana, cenoura, abobrinha, nem berinjela, que inclusive não sei por que ela enfatizou que é com jota. Daí voltou com a garrafa de vinho. Encheu nossas taças, me entregou a garrafa e depois falou para que fingisse que era o pau do meu marido. Precisei de dez segundos para ela me interromper.
- Vamos lá! Primeiro, você precisa usar as mãos por alguns motivos. Um, você vai acabar derrubando a garrafa da mesa e acabar com o meu último vinho. Dois, você precisa mostrar com as mãos que quer aquele pau como nunca. Que não vai soltá-lo enquanto ele implorar para te penetrar ou gozar em sua boca como um bebê antílope. Segundo, não dá para ficar apenas mexendo com os lábios levemente no que seria a cabeça. Você está parecendo um peixe de aquário tentando respirar. Você precisa colocar ele todo na boca.
Um pau inteiro na minha boca? Aquele pau inteiro na minha boca? Nunca tinha parado para imaginar nisso. Deve ser agonizante. Provavelmente ficarei sufocada. Aquela coisa dura pulsante enchendo toda a minha boca.
- Dolores, pare de falar isso! Estou começando a ficar molhada. Eu nunca fico molhada. Meu marido reclama que estou sempre seca. Mantenho por anos a desculpa de uma patologia que me impede de ficar lubrificada. Será que estamos quebrando barreiras aqui?
Impressionada, imagino eu, com minha desenvoltura e descoberta, Dolores me pega pela mão e me posiciona sentada no braço do sofá. Ela diz para fingir que é meu marido e manda eu me mexer. Ela segura na minha cintura e força os movimentos. Com o tempo vou me soltando.
- Vai, sua safada – ela fala para mim e depois dá um leve tapa no meu rosto. – Mexe, sua putinha!

Eu agora era uma putinha. Nunca fui uma danadinha, imaginem uma putinha. Que delícia ser chamada assim. Continuava a me mexer cada vez mais. Subia as mãos pelo corpo, levantava o cabelo da nuca, fazia caras e bocas. Dolores claramente estava orgulhosa da cena. Eu era uma putinha e ela uma puta professora. Uma puta professorinha do sexo. Ao final, agradeci pela ajuda. Era uma nova mulher que saía da casa de Dolores naquele momento. Pedi desculpas pelo estrago que fiz no braço do sofá e ela riu. Disse que vai torcer para ficar uma mancha que a lembrará para sempre daquele dia. Enfim, ficamos felizes. Eu voltei para casa mais segura, determinada a animar minha vida sexual e salvar meu casamento. Dolores ficou satisfeita com mais um atendimento, mesmo achando um pouco estranho, mas como ganhou dobrado, relevou. Para dizer a verdade, nem todas ficamos felizes. Soraia ficou arrasada. Quem é Soraia? É a funcionária do jornal do bairro que foi demitida porque ao invés de colocar o anúncio “Professorinha Dolores, a salvação da sua família” na seção de anúncios pedagógicos, colocou na seção de acompanhantes e profissionais do sexo.