sexta-feira, 26 de julho de 2013

Histórias Reais Inventadas por Mim

O forte impacto da morte
É inevitável fugir do clichê de que a vida é um interminável vestibular. Estamos sendo colocados à prova o tempo todo e, apesar de muito nos prepararmos, nunca estamos prontos. Vida escolar, vida amorosa, vida profissional, controle financeiro, relacionamentos familiares e entre amigos, são diversas as esferas que nos submetemos. A enorme variedade de possibilidade de eventos que podem ocorrer em cada uma dessas esferas é tão imensurável que, até mesmo o membro da mais família mais centrada e estruturada não chega perto de estar preparado. Ainda assim, insistimos em nos preparar para algo que não podemos prever ou controlar e, pior ainda, acreditamos estarmos suficientemente preparados para estes eventos. A incerteza é a regra. E o único fato que é inquestionável, preferimos acreditar na impossibilidade, a morte. Assim como o calor é o oposto do frio, o empanzinamento é o oposto da fome e a traição é o oposto da fidelidade, a morte é o oposto da vida. Contudo, não posso lhe garantir que vai sentir frio, fome ou será traído, mas pode afirmar que irá morrer. E esta certeza é tão absoluta, mas ao mesmo tempo tão delicada, que dentro da sua obviedade reside o medo de estar certo. Como se pudéssemos errar uma tautologia.
Quando perguntado como gostaria de morrer, qual seria primeira imagem à sua cabeça? Na cama de seu quarto cercado pelos familiares? Em batalha como um herói? Vítima de algum erro do sistema democrático no meio da rua? Sozinho em um leito de hospital? Acredite, sou capaz de adivinhar sua resposta e ela foi: Prefiro não morrer! Não o condeno por pensar assim, muito pelo o contrário, te entendo. Por conta disto, acredito eu que ao tentar entender como melhor uma pessoa lida com a morte, a melhor forma de perguntar é, qual a situação de morte que acha que seria capaz de lidar? Assim, induzo a pensar na morte em uma terceira pessoa, tornando a situação menos trágica, mas ao mesmo tempo mais fácil de lidar, por mais honesto e egoísta que isto possa soar.
O clima era originalmente tenso, mas naquele momento passara para níveis além dos habituais. Um casebre de um único cômodo, sem banheiro ou cozinha. Pouco mais de vinte metros quadrados cercados por paredes de madeira estufada. Chão de barro, telhado de amianto, um colchão no chão, uma janela que obstruía o ar e a claridade mais que qualquer outra coisa, uma privada manchada pela falta de higiene e uma pia em igual estado. Dentro dele três jovens de aproximadamente 17 anos. Pelo menos duas vezes por semana eles subiam o Morro do Salgueiro para comprar drogas e usavam aquele barraco abandonado no meio do restante matagal do local para consumi-las. Era um hábito que se repetia já tinha quase três anos. Começaram quando estavam no primeiro ano do ensino médio. Atualmente, permanecem no mesmo ano escolar, assim como igualmente mantêm a mesma rotina.
Gustavo estava sentado no colchão. Seu rosto era pálido, olhos vermelhos e mãos trêmulas, parecia não acreditar no que estava acontecendo. Em seu colo estava Fabio, no braço ainda estava a seringa vazia, ao lado a borracha de farmácia e ele estava tão pálido quanto Gustavo, mas uma palidez diferente. Uma palidez de quem se foi. Uma palidez de inexistência. Ao canto, espremido entre a privada e uma das paredes, com a boca suja de restos de vômito e ainda na posição fetal estava Farofa. Seu vínculo de amizade com eles era tão grande e ao mesmo tempo tão confuso que sequer saberiam dizer seu verdadeiro nome.
Por alguns segundos, os olhares de Gustavo e Farofa se cruzaram. Não precisaram pronunciar uma palavra sequer, estava claro o que se passava em suas cabeças. Como aquilo pode acontecer? E logo com o Fabio, o mais destemido, o que sempre consumia mais e mais. Era o primeiro a começar e o último a terminar. A clássica ironia de que quem não tinha limites, um dia alcança seu limite da pior maneira e o ultrapassa sem direito à volta.
Os pensamentos em um momento como este sempre se confundem. O que fazer? Para quem ligar? Fugir? Gustavo e Farofa sequer conseguiam pensar em algo do tipo. Ainda entorpecidos pela mesma heroína que matou Fabio, só pensavam em como foram parar ali. Eram jovens de classe média alta da Tijuca. Ganhavam roupas caras e as vestiam de tal maneira para que parecessem desleixados, quase marginais. Vendiam a imagem de mais experientes, pois já tinham provados todas as drogas disponíveis no mercado. E, apesar de estarem presos ao mesmo ano letivo, se consideravam melhores que qualquer outra pessoa.
Farofa não se conteve. Chorou. Era difícil se controlar com a morte ali à sua frente a poucos metros e ainda evidenciada com o cheiro de dejetos que Fabio começava a eliminar pelo corpo. Dizia que não era justo. Ainda mais daquela forma. Fabio foi quem os levou para as drogas, não podia também ser o cara que os fizessem passar por isso. Farofa se levantou, cambaleou e seguiu. Foi embora. Chorando e com a marca do pico ainda expelindo um pouco de sangue. Não olhou para trás, nem se despediu de Gustavo que ali permanecia catatônico.
Sentado ainda na mesma posição, parecendo ainda em transe, Gustavo dava entender que não se abalava pelo que acabara de acontecer. Ou estava mais do que abalado. Ficou ali parado por longos minutos. Foi possível sentir a temperatura do corpo de Fabio diminuindo aos poucos até não existir mais. Em determinado momento piscou, voltou a ter um olhar vivo, como quem recobrava a consciência. Olhou para Fabio ainda deitado em seu colo, levantou-se cuidadosamente o apoiando no colchão. Pegou o celular de Fabio, ligou e ativou o serviço de localização por GPS. Em seguida foi embora.
Dias depois, Farofa e Gustavo se encontraram no colégio depois de seguidas faltas no colégio. Prometeram nunca mais consumir drogas. Promessa essa que durou pouco mais de duas semanas, quando voltaram a consumir com a desculpa que era necessário para superar tal episódio. No curto período o qual permaneceram limpos, constantemente se perguntavam onde tinham errado. A resposta era sempre a mesma: ter entrado para este mundo das drogas. Mas essa visão é muito simplista quando comparamos com o homem que morre de diabetes ou ataque cardíaco por ceder às tentações da gastronomia calórica. Seu erro maior foi ignorar a existência da morte, a possibilidade de ela acontecer em virtude de uma má decisão ou uma medida exagerada. Enquanto desprezavam a possibilidade da morte e continuaram achando que o erro era apenas uma decisão equivocada que poderia ser consertada a qualquer momento, eles permaneciam indo na mesma direção do Fabio. Quando começaram a considerar que ao final de cada estrada existe o mesmo ponto final, a morte, puderam perceber que a chave não está na escolha da estrada, mas na velocidade e como a percorre.

Cobertura da JMJ 2013 - Rio de Janeiro






Neste plantão entrevistaremos um dos homens por trás do Papa Francisco. O homem responsável por dar suporte e estruturar os discursos e pronunciamentos do pontífice.

Repórter: Qual foi o maior desafio até agora?
Entrevistado: Nosso maior desafio foi tentar bolar algo que fosse de maior apelo ao povo brasileiro.
Repórter: Mesmo com todo carinho e aceitação quase que instantânea de todos pelo Papa?
Entrevistado: Sim. Foi estabelecido que iríamos formalizar um momento no qual o Papa abriria seu discurso com uma frase de uso geral e assim tivesse um apelo maior.
Repórter: Fale mais.
Entrevistado: Recentemente o Paul McCartney fazendo seu primeiro show em Belo Horizonte se informou a respeito e ao falar com o público “Uai, trem bão” caiu nas graças de forma definitiva.
Repórter: Mas isso não pode ser uma faca de dois gumes? Lembro quando o Bono Vox pela primeira vez no Brasil quis usar uma frase modinha da época que era “Ah eu tô maluco”, acabou falando “Ah eu tô molusco” e virou piada.
Entrevistado: Sim! Por isso fizemos uma longa pesquisa e preparação. Queríamos algo que remetesse às mensagens da igreja e ao mesmo tempo tivesse o mesmo impacto.
Repórter: E como foi?
Entrevistado: Nossa proposta foi que o Papa abrisse seu discurso falando “SEM VIOLÊNCIA”. Mas, infelizmente, antes que conseguisse pronunciar pela segunda vez a frase, um policial fardado subiu no palco, borrifou spray de pimenta em seu rosto e, logo depois, um policial à paisana deixou uma mochila cheia de coquetéis molotov ao seu lado.
Repórter: E como farão agora?
Entrevistado: Estamos em dúvidas entre duas abordagens que terão maior apelo entre o povo carioca e menor possibilidade de dar errado. A primeira seria o Papa abrindo o discurso falando “Seu motorista, abre a porta! Olha o ponto!”. A segunda seria abrir o discurso com uma das mãos levantadas falando “Pre-para!”.

Voltaremos em breve, assim que a lama de Guaratiba secar... Ou nunca...

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Cobertura da JMJ 2013 - Rio de Janeiro






Neste plantão falaremos de como a organização do JMJ distribuiu os peregrinos pela cidade. A principal preocupação era manter todos da mesma nacionalidade em um único local e, de preferência, em locais que lhe proporcionassem a sensação de estar em casa e serem bem recebidos.

- Os peregrinos norte-americanos ficaram satisfeitos com a escolha da Barra da Tijuca. Disseram que as avenidas, condomínios e shoppings remeteram demais a Miami. Confessaram não gostar nem um pouco da cafona réplica da Estátua da Liberdade no shopping de nome cafona New York City Center, mas ao mesmo tempo ficaram emocionados com o carinho e preocupação da organização ao espalhar peregrinos ilegais de Porto Rico e Costa Rica pelo bairro;

- Os peregrinos japoneses também ficaram satisfeitos com a possibilidade de ficar hospedados em um único vagão do Ramal Pavuna em horário de pico. Aquele aperto, empurra-empurra e falta de espaço foi bastante aconchegante para todos;

- Os peregrinos paraguaios agradeceram pelas cedidas instalações do camelódromo da Uruguaiana, mas ao mesmo tempo disseram que a escolha foi prejudicial, pois acabaram perdendo todos os eventos já que optaram por ficar por lá vendendo cigarro contrabandeado;

- No momento da chegada dos peregrinos russo, houve protesto no aeroporto com direito a confronto com a Polícia Militar. Ao se deparar com tantas pessoas usando máscara de gás, a comitiva russa agradeceu à recepção, mas disse que foi um pouco exagerado remeter a Chernobyl;

- Os peregrinos portugueses gostaram bastante de ficar em São Cristóvão. Local histórico relacionado à própria cultura portuguesa, vários imigrantes que lá moram há tanto tempo, comida típica e ruas com nomes de grandes heróis portugueses. Só não entenderam o motivo das receptivas e agradáveis mulheres que os receberam na Quinta da Boa Vista não terem bigode, mas sim pênis;

- Os peregrinos ingleses são, de longe, os mais satisfeitos com a calorosa recepção chuvosa, cinza e gelada. Vai entender;

- Os peregrinos franceses foram todos deslocados para o Jardim de Alah, no bairro nobre da Lagoa. Lá, foram recebidos por Bruno Chateaubriand com água benta Perrier e hóstias feitas pelo Alex Atala. Narcisa, que seria também a outra pessoa responsável pela recepção, teve de ser retirada do local por falta de decoro. Acharam um pouco excessivo por parte dela ficar gritando: “Ai que pai-nosso! Ai que ave-maria! Ai que amém!”;

- O mais delicado foi com os peregrinos espanhóis. Como se sabe, já tem algum tempo que diversos brasileiros são barrados na estrada da Espanha por motivos subjetivos e/ou questionáveis. Por conta disso, criou-se a tensão de que, como retaliação, seriam todos barrados aqui também. Mas a organização mostrou-se bastante superior quanto a isso e os recebeu impecavelmente, hospedando todos na Pavuna.

Voltaremos em breve. Logo após descobrirmos onde hospedaram as peregrinas suecas.

Cobertura da JMJ 2013 - Rio de Janeiro






Estamos de volta com mais uma cobertura da JMJ diretamente do Largo da Carioca, local que se tornou o ponto de encontro dos peregrinos do Peru. Nesse exato momento temos algo em torno de 500 peruanos tocando flauta de toco de madeira. É praticamente uma orquestra a céu aberto! Uma cena lindíssima! Eles estão aproximadamente há mais de vinte minutos tocando My Heart Will Go On do filme Titanic.
Aos interessados, eles estão vendendo CDs que além desta música, possui mais duas do Kenny G, La Barca e uma versão chatíssima de Copacabana.
Em breve voltaremos, assim que conseguirmos tirar essa música maldita da cabeça.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Cobertura da JMJ 2013 - Rio de Janeiro





Estamos de volta com mais um plantão de notícias cobrindo a JMJ. Aqui ao nosso lado a proprietária de um apartamento em Botafogo que recebeu um grupo de peregrinos chineses e está preocupada:

Repórter: Boa tarde, qual seu nome?
Entrevistada: Meu nome é Francisca.
Repórter: Francisca, qual a sua preocupação?
Entrevistada: A minha casa está uma bagunça!
Repórter: Por qual motivo? Ela está lotada?
Entrevistada: Não sei!
Repórter: Como assim?
Entrevistada: Essa maldição de todos usarem a mesma roupa, não sei se tem 100 chineses na minha casa ou apenas 4 entrando e saindo sem parar.
Repórter: E, além disto, o que mais te preocupa?
Entrevistada: Eles acabaram de abrir uma pastelaria na minha cozinha e contrataram minhas filhas para trabalhar para eles por uma mixaria!
Repórter: E como aconteceu?
Entrevistada: Não sei! Aparentemente eles perguntaram algo para elas que acharam que era  relacionado a usar o banheiro. Elas disseram que sim e eles responderam: “Contlatada! Aqui avental e boné!”.
 
Retornaremos em breve com mais notícias. Mas enquanto isso, vamos pedir para dona Francisca um joelho e um refresco de caju.