sexta-feira, 8 de junho de 2012

Poesia for dummies

Subway (efeito Luminance - Antique)
Opostos urbanos

Na espera a inquietude de ansiedade.
Chegará logo, quente ou gelado?
De preferência, gostaria de ir sentado
Na janela, vendo os prédios da cidade.

Chove muito e venta com intensidade.
Por onde passo fica tudo alagado
Galho caído, sinal sem luz e apagado
Esse percurso vai durar uma eternidade

Forçado, escolho pelo tão temido
Atrás da faixa ali aguarda a multidão
Abrem as portas e para dentro sou cuspido

Solvanco, sopapo e empurrão
De preferência, gostaria de não ser espremido
Na janela, vendo aquela escuridão.

terça-feira, 5 de junho de 2012

As expressões inexpressivas


Words (efeito Luminance - Dystopia)
       Eu disse que jamais usaria este espaço para fazer correções de linguagens e coisas do tipo, mas não posso me abster de fazer o que mais gosto: comentar sobre expressões que não fazem sentido. Pois é, vira e mexe escuto uma expressão por aí que não faz sentido algum, ainda mais para alguém como eu, absurdamente cartesiano e ortodoxo (quase um pleonasmo forçado para enfatizar). E, com essa tal de internet, as expressões são como doenças contagiosas, se espalham e se multiplicam exponencialmente.
     Uma das expressões que acho mais controversa é a tal de “muito pouco”. “Fulano não passou de ano por muito pouco”. “Choveu muito pouco nos últimos três meses”. ”Muita pouca gente aderiu à campanha”. Ora, não me importa se está correto ou não, o que interessa é que não faz sentido. Ou é muito ou é pouco! Os dois não dá!!! A sensação é que se opta por expressões comuns por preguiça ou falta de vocabulário. Que mal tem em usar “pouquíssimo”, “em pequenas quantidades” e semelhantes? Nunca entendi a pessoa optar por falar “ele vai muito pouco ao dentista” ao invés de “ele quase não vai ao dentista” ou “ele raramente vai ao dentista”. Novamente, não tenho a pretensão de sacramentar que o termo “muito pouco” está errado. Digo apenas que não faz sentido e é menos sofisticado. Ou, se preferirem, é muito pouco sofisticado.
     Existem duas expressões usadas comumente para despedidas que para mim são de lascar. Uma, inclusive, é preferida pelos locutores de rádio, principalmente da JB FM. Tanto que a usam no Twitter também. É o tal de “vou ficando por aqui”. Ora bolotas, se o cara quer dizer que vai embora, como diz que vai ficar por ali mesmo? E o melhor é que falam “vou ficando por aqui, mas fiquem na companhia do José das Couves”. Peraí, o cara então não vai embora e me passa para outro? Ele não quer a minha companhia, é isso? O detalhe sórdido é o uso do gerúndio para uma ação inerte (ficar ali) que é exatamente oposta da que vai acontecer. Ele não “vai ficar ficando” por lá, ele vai embora de lá. Ele está indo! O máximo que consigo absorver como despedida em uma frase como aquela é que o cara está se dissolvendo. “Estou ficando por aqui. Escorrendo pelo chão. Peguem um balde e um rodo!”.
     A outra expressão muito usada em despedidas é a que mais me irrita. Não somente pela construção, mas também pelo deboche. É a tal de “deixa eu ir indo então”. Existe construção mais amorfa do que esta? O sujeito (literalmente) usa o mesmo verbo duas vezes e não consegue precisar o que está para acontecer. Ele quer ir, mas não andando, de carro, voando ou plantando bananeira. Ele quer ir... Indo! E com o seguinte agravante, ele pede (“deixa”), dando entender que você não está permitindo. Isso passa que o desespero dele é tamanho que não importa mais como ele vai, contudo que ele vá... Indo! E sabe o mais irônico disto? Quem fala esta expressão geralmente é a pessoa que está por falar pelos cotovelos e se auto-interrompe a si mesma (foi de propósito) com esta pérola. E como não se fosse suficiente, isto ocorre com aquela mãozinha no seu ombro tocando de ponta de dedos “deixa eu ir indo então”. Vai... Vai, mas vai para o inferno!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Histórias Reais Inventadas por Mim

Escreveu, não apagou, o pau...
Todos temos vícios, hábitos, manias que de uma forma geral não nos incomoda, mas pode afetar outras pessoas. O curioso é que a maior parte destes vícios são consequências de uma má-educação, ou apenas a total falta de consideração pelos outros. Bem, pelo menos era isso que Fernando pensava.
Fernando dava aula em uma faculdade, de segunda à sexta, todas as noites. Como era em um andar com muito movimento e aulas em todos os horários do dia, ao chegar, a sala estava sempre um caos. Cadeiras espalhadas pela sala, papel no chão e o quadro completamente preenchido por exercícios, conteúdos, gráficos etc.
Nas primeiras semanas até que ele insistiu em arrumar as carteiras antes de liberar a entrada dos alunos, mas facilmente foi vencido. Era evidente que aquele esforço em nada adiantava, pois, assim que a boiada entrava, tudo voltava a ficar como era antes. Carteiras eram arrastadas para as meninas ficarem juntas, outras viradas para os rapazes colocarem as mochilas, quando não os próprios pés. Desistiu! A turma que antes esperava sua autorização no corredor passou a entrar com ele.
A quantidade de folhas de caderno, guardanapos, até latinha de refrigerante no chão era vergonhosa, mas nisso ele nunca interferiu diretamente. Apenas tentava conscientizar a própria turma para que não fizesse o mesmo. Sempre que iniciava uma aula, a mesma frase era dita:
– Senhores, agora que estamos no chiqueiro, vamos provar que somos capazes de não piorar ainda mais essa imundice!
De fato, suas turmas eram as poucas que usavam exclusivamente a lixeira para despejar qualquer tipo de resíduo.
Já o quadro preenchido foi um fato polêmico. No início, não o incomodava. Nem um pouco! Ele até gostava. Antes de começar a apagá-lo, ficava parado admirando. Observava a técnica da escrita do professor, o conteúdo, os exercícios. Chegava a desperdiçar quase cinco minutos nesse processo.
Com o tempo foi ficando cansativo. Principalmente quando era o quadro do professor Cequeira. Ele era responsável pela disciplina Física II. Seu quadro era quase que inteiramente preenchido. Usava canetas de todas as cores. Na hora de apagar ficava um borrão de vermelho, com azul e preto. Era necessária muita força no apagador para que o quadro voltasse a ficar o mais perto possível de cinza claro, pois o branco já não era mais viável. O que Fernando não entendia era por qual motivo o professor das disciplinas se negava a apagar o quadro ao término da aula. São dois minutos! E ainda pode pedir para um puxa-saco qualquer fazer isso. Enfim, essa rotina começou a irritá-lo seriamente. A sua primeira atitude foi colocar na parede da sala, ao lado do quadro, um bilhete: “Caro professor, favor apagar o quadro ao final da aula. O colega do turno seguinte agradece.” Mesmo assim, não surtiu efeito. Todos os dias o quadro permanecia “sujo”.
Com duas semanas de bilhete na parede e nenhuma mudança, Fernando reescreveu o mesmo bilhete, mas desta vez com o tamanho da fonte dobrado e usando negrito. Agora eram dois bilhetes na parede, o original e o mais chamativo. Resultado: nenhum.
Fernando se sentia impotente com aquilo e para piorar, chegava em um horário no qual o professor anterior já tinha saído de sala. Era sempre uma diferença de trinta minutos que não podia ser diminuída, pois saía de outra instituição distante.
Certo dia uma aluna veio falar com Fernando. Disse que chegou mais cedo que o normal e encontrou com o outro professor ainda em sala. Também contou que esperou que saísse de sala e falou para ele:
– Poxa, mestre, todo dia o meu professor precisa apagar o seu quadro – mas foi interrompida pelo tal professor que disse.
– Senhorita, fala para o seu professor parar de melindres. É só um quadro para apagar – daí ele virou de costas e foi embora.
Pelo dia da semana, Fernando não teve dúvidas, era o Cequeira que destratou sua aluna. Ele sabia que o tal professor tinha uma fama de lidar mal com os alunos, mas não imaginava algo do tipo. A fama dele era principalmente de “crescer” como professor e fazer covardias e terror psicológicos nos alunos, mas que fora do campus voltava a ser um carneiro inofensivo. Fernando então tentou acalentar a aluna que foi solidária a luta dele:
– Relaxa – disse ele com uma das mãos em seu ombro. – Você fez o certo e ele foi um escroto. Agora é pessoal!
No mesmo dia fez um novo cartaz e colocou acima dos outros dois, mas com a fonte maior ainda: “Prezado professor, qual o motivo para não apagar o quadro que foi escrito por você mesmo? Deficiência motora ou mental?”. O tal bilhete arrancou gargalhadas dos alunos.
Nos dias seguintes ele passou a se deparar com o quadro limpo. Quero dizer, sem conteúdo, pois limpo mesmo ele não ficava mais. Restava esperar passar uma semana exata para ver como Cequeira se comportaria.
Chegado o dia, ele entra na sala e o quadro está mais preenchido que o habitual. Muita coisa escrita, desenhada, rabiscada. Fernando ficou possesso. Encarou o quadro por mais alguns minutos e, antes de qualquer coisa, virou apenas o rosto para turma com uma expressão de estupefato. E então a tal aluna fala:
– Fernando! O tal professor ficou escrevendo no quadro enquanto a turma dele saía de sala e, quando me viu, disse para avisar a você que lugar de palhaço era no circo e de fresco é na casa da vovó.
Agora a coisa ficara feia. Fernando anunciou para a turma que todos na semana seguinte chegassem uma hora mais cedo, pois presenciariam o que ele iria fazer com o tal professor. A turma é claro vibrou. Programa do Ratinho ao vivo na faculdade. Quem iria perder? Exclamar para o colega ao lado que o professor era foda virou lugar comum naquele momento.
Passada uma semana, Fernando sai bem mais cedo da outra instituição e vai o mais rápido possível. Ele ainda não tem a menor ideia do que vai fazer. Acredita que em horas como essas, a decisão deve ser feita após a primeira resposta do oponente. Chegando à faculdade, o estacionamento está lotado. Nenhuma vaga no quarteirão. Dá mais uma volta e acha uma vaga. O flanelinha pede dez real (sic), ele diz de forma ríspida que não vai pagar. Sua irritação começava a transparecer. O flanelinha dá um soco nas costelas de Fernando e pega o dinheiro do seu bolso enquanto ele tenta se recompor. Fernando não reage. Não há tempo para isso. Apenas diz ao flanelinha que nunca mais apareça naquela rua, pois teria revide. Chegando ao corredor da sala, a turma toda está a sua espera. Quando o avistam começam com o frenesi: “Lá vem ele!” “É agora” “Vai lá, Fernandão!”. Ele sorri e pede que todos entrem na sala. A turma imediatamente invade a aula de Cequeira que fica pasmo olhando aquele mar de pessoas entrando e se posicionando como um teatro de arena. Após o último aluno entrar, Fernando aparece na porta e Cequeira fica da cor que o quadro deveria ser. Sua testa vira uma tampa de chaleira de tanto suor.
– Vou perguntar educadamente – diz Fernando enquanto entra e se aproxima de Cequeira que permanece sentado e petrificado. – Qual o seu problema em apagar o maldito quadro que você escreveu?
– Bem – ele faz uma pausa que é meio falta de ar, meio falta de coragem. – Quando eu chego também está escrito e tenho o mesmo trabalho.
– E o que eu tenho a ver com isso? – Pergunta Fernando.
– Ora – ele faz mais uma pausa nervosa. – Estou apenas repassando o problema para frente. É assim que as coisas funcionam.
– Então é assim que as coisas funcionam – Fernando ironiza. – Cada um tem um problema, mas ao invés de resolver, passa para o próximo?
– É – responde Cequeira quase gaguejando monossílabo.
– Faremos assim então – ele se aproxima ao máximo de Cequeira. – Acabei de levar uma porrada e me levaram cinquenta reais do bolso. O que prefere? Que te dê um soco e depois me dê o dinheiro, ou vai pegando o dinheiro enquanto te dou uma porrada?
– Peraí – fala Cequeira tentando se afastar com as mãos levantadas.
– Olha só, eu tive esse problema hoje e estou apenas passando para frente conforme a sua teoria. Como faremos?

Cequeira se levanta em silêncio, apaga todo o quadro, pede desculpas e sai de sala. Os alunos de ambas as turmas vão ao delírio. É possível ouvir seus gritos dos outros blocos. A história se espalhou em uma velocidade absurda, fazendo com que as coordenações comunicassem a todos os professores da regra de apagar o quadro ao final da aula. Cequeira pediu transferência para fugir da vergonha, mas no outro campus descobriram o que tinha acontecido com ele, fazendo com que pedisse licença. Nunca mais deu aulas. Já Fernando virou uma referência como professor mais doido da casa. A coordenação não concordava muito com essa fama, mas a garotada gostava dele, então acabou ficando.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Um furo e um acerto

Brownie do Skylab (foto divulgação)





     Na última sexta-feira fui me aventurar no Rio Restaurante Week. Esse evento consiste basicamente em uma série de restaurantes com certo nome e requinte proporcionando uma experiência gastronômica (entrada + almoço/janta + sobremesa) por preços acessíveis. Não deixa de ser uma boa oportunidade de degustar de comida sofisticada, bom serviço e conhecer casas nas quais evitamos por, digamos assim, estarem fora do nosso orçamento. A minha aventura se dividiu em duas partes: uma no almoço e outra mais tarde na janta. Vamos às impressões.
     O almoço foi no restaurante Amaranto, localizado no Caesar Bussines em Botafogo. Ambiente bem claro, espaçoso, decoração simples e confortável. As opções de entrada, almoço e sobremesa eram respectivamente: Carpaccio de Salmão ao molho mostarda ou Mix de folhas nobres com cogumelos frescos salteados; Camarão aos três queijos com arroz branco ou Contra-filé grelhado servido com Fettucine ao Limone; Abacaxi caramelado servido com sorvete de creme ou Cheesecake de chocolate. Minha escolha foi C³: Carpaccio, Camarões e Cheesecake.
     Com a chegada da entrada, a sensação de furada fica clara. Ela é composta rigorosamente de 1 (UMA!) fatia de Carpaccio cortada em quatro quadrados, com 3 (TRÊS!) alcaparras e um punhado de mostarda (que não me espantaria se for Arisco) ao redor. Foram quatro garfadas que só demoraram mais de três minutos, porque tentei pegar o máximo de “molho”. Para ajudar a preencher o espaço que ficaria na barriga, desci um copo de suco de laranja. As pessoas que me acompanhavam e pediram a Mix (segurei o riso agora) ficaram tão decepcionado quanto, contudo, não pela quantidade, mas pelo fato de ser um prato que qualquer amador consegue montar em um restaurante a quilo.
     Veio o almoço e, com ele, sirenes tocando dentro da minha cabeça: Fome! Fome! Fudeu! Fome!. O prato era uma miséria. Sabemos que na culinária sofisticada não temos aqueles famosos pratos de peão, mas na hora do almoço, um pouco de generosidade cai bem. Pois bem, além de nenhuma generosidade, tivemos zero de diversificação gastronômica. O prato consistia em qualquer outro que podemos comer no Camarão em Cia, só que em porções infantis. Os que pediram o Contra-filé concordaram que era um prato similar ao do Bom Grilé e quetais. Portanto, seja qualquer for a escolha, temos um prato extremamente de cotidiano, mas com um toque refinado: a ínfima porção.
     A sobremesa foi aguardada com medo e ansiedade. Como seria o Cheesecake de chocolate que pedi. Pois bem, acreditem, era uma fatia de bolinho de chocolate com consistência de suflê. Uma fatia finíssima e muito baixa. Quase amostra de bufê. Gostosinha, é verdade, mas sem uma semelhança sequer a um cheesecake. O mesmo poderia dizer da outra sobremesa. Era uma fatia de abacaxi caramelada com sorvete, igual a que seu tio faz em todos os churrascos da família.
     Em suma, foi um almoço de shopping, com porções francesas e preço contemporâneo. Por esta impressão, o programa foi muito furado. Só que, para terminar, ainda temos que ficar de pé em uma fila para pagar, pois só uma pessoa é capaz de calcular a comanda, passar o cartão e liberar o cliente.
     Passado o trauma, passei no Subway e comprei um sanduíche de 30cm. Sim, sou um pouco monstro, mas a fome foi unânime nos seis que compunha a mesa. Depois, com calma repensei se iria mesmo dar continuidade ao evento da noite. Pois bem, como seria algo para levar Norte a um local diferente, optei por mantê-lo. Sábia decisão.
     O jantar foi no Skylab, localizado no terraço do Hotel Othon em Copacabana. Quase um Rainbow Room litorâneo. E, sem os exageros de praxe, o local é bem diferenciado. Não somente pela vista a fazer inveja a qualquer morador do Vidigal ou Cantagalo, mas pela decoração e, principalmente, pela equipe.
     Cheguei ao local com 5 minutos de atraso em relação à reserva. A hostess me informou que houve um equívoco, portanto minha mesa não estava disponível, contudo, imediatamente nos acomodou no bar com uma belíssima vista (melhor que a do próprio restaurante) e se desdobrou para arrumar uma mesa. Tal tarefa durou no máximo dez minutos.
     Já sentados à mesa, recebemos as opções que eram respectivamente: Creme de batata doce com Beignets de siri ou Terrine de salmão defumado com aspargos verdes; Strudel de frango com goiaba acompanhado de repolho refogado com broto de feijão ou Medalhão de filé com pimenta de Szechuan, cebola roxa e tomate cereja acompanhado de gratinado de legumes; Torta brownie com café e calda de caramelo ou Cheesecake de maracujá. Ambos escolheram a mesma entrada (Creme de batata doce) e o prato principal (Medalhão). A sobremesa foi dividida para que pudéssemos saborear ambas.
     A entrada causou uma bela impressão inicial. Muito bem servida em uma temperatura que não provoca queimaduras e com tempero ideal. Faltou um pouco mais o gosto do siri, mas nada que parecesse as famosas coxinhas de frango com catupiry que de catupiry só tem o cheiro. De quebra, ainda tivemos uma bem servida cesta de pães, diversificada e que continha mais calorias que toda a refeição do almoço. Todos eram gostosos!
     O prato principal, confesso, tinha a mesma porção do almoço. Entretanto, era algo mais bem elaborado. Aliás, era algo de fato elaborado. Fugia da zona de conforto e proporcionava uma refeição justa para a parte do dia. O molho estava muito bem condimentado e o medalhão, que mais me preocupava, igualmente no ponto. Sem sangue, sem ressecamento.
     As sobremesas foram de longe um prazer à parte. O cheesecake de maracujá fugia do lugar comum. Possuía camadas de cheesecake revezando com uma camada que remetia a uma gelatina de maracujá e um topo de creme de maracujá. O brownie era espetacular. Camadas de chocolate estilo mousse deram um toque leve ao doce. E a pitada de café remetia a uma breve lembrança de tiramissú.
     Não sei se foi por conta de estarmos no último serviço, mas o atendimento foi bem mais ágil. Principalmente na hora de pagar (a que mais interessa ao estabelecimento). De qualquer forma, fica a minha dica. Fujam do Amaranto e virem fãs do Skylab. Bem, eu farei isso...

terça-feira, 22 de maio de 2012

A morte do futebol brasileiro


     O futebol brasileiro acabou! É sério! Eu sei que essa afirmação é forte, mas não tem como ignorar ou dizer o contrário. Os fatos estão cada vez mais claros, principalmente na mídia. Não concorda? Não entendeu? Pois lembre um pouco comigo. Neste final de semana tivemos o início do Campeonato Brasileiro. O mais disputado! O mais equilibrado! O mais bem nivelado! E mesmo assim qual notícia mais repercutiu ao fim da rodada? Qual? O Herrera se negando a pedir música no Fantástico. Pois é, se isso sozinho não é suficiente para decretar a morte do futebol brasileiro, vou trazer outros fatos para, não somente decretá-lo morto, mas como também lapidá-lo sob enorme pedra.
     Cresci no Maracanã. Minha recordação mais antiga remete ao clássico gol de falta do Zico contra o Santa Cruz (para você ver como sou novo). De lá até alguns anos atrás frequentava assiduamente o gigante carioca. Não somente eu. Eram dezenas de milhares. Raras as fases de vagas magras e jogos sem interesse, o estádio sempre tinha um público capaz de fazer barulho. E hoje, o que temos? Estádios vazios. Finais e jogos que valem vagas com ingressos sobrando. Culpa de quem? Da violência? Acho que não. Quando moleque o pau já comia solto antes, durante e depois dos jogos e mesmo assim era comum 90 mil pessoas em um Fla x Flu, mesmo em sábado de carnaval. Preço? Também não! Naquela época, a maior parte da torcida era composta por pessoas das classes mais humildes. Humilde o suficiente para considerar qualquer ingresso caro. Horário? Esse é de morrer! Lembre-se quando ficou em casa vendo um jogo de meio de semana com o famoso “horário Globo”. O jogo acaba, você pode simplesmente virar para o lado e dormir, mas mesmo assim é muito tarde para quem trabalha no dia seguinte. Agora imagine se estivesse lá, ficasse esperando o trem, mais o tempo de viagem, chegar em casa, tomar banho, comer algo, desligar o cérebro e dormir. Pois é... Bom dia, está na hora de acordar!
     De fato, não vou negar que esses fatores são complicadores, mas sozinhos talvez não afetem na decisão do torcedor. Contudo, somando estes, mais um flanelinha extorquindo na “vaga dele”, tumulto para comprar ingresso e falta de organização dos estádios, isto é, pega tudo que falei e coloca um futebol para valer no outro lado da balança, o que temos? O torcedor lá. Sabe por quê? Porque antes tínhamos tudo isso e mesmo assim lotávamos os estádios. Mas agora, além disto tudo, temos um futebol, equipes, jogadores, espetáculo mequetrefe. Ora, daí não vale a pena passar por tudo isso. Reflexo? Estádio vazio. Mas o que de fato aconteceu para o futebol ficar menos interessante no Brasil?
     Acredito que um dos motivos está relacionado na maneira como lidam com os jogadores e, por consequência, como eles se comportam. Eles atualmente acham que estão acima do próprio clube, do técnico, do presidente e da torcida. E, por isto, agem distorcendo todos os valores consagrados no futebol mundial.
     Temos jogadores artistas, mas nesse momento uso o termo artista para dois sentidos: atores e macaquinhos de circo. Quantas vezes vimos uma jogada sendo desperdiçada porque um jogador abriu mão dela em troca da grama? Várias, né? Existe coisa mais covarde do que jogador que simula falta ou agressão para provocar a expulsão de um adversário? Existe atuação mais ridícula do que a de um time que deixa implícita sua incapacidade de vencer o adversário em quantidade igual de oponentes e, por isto, força expulsões? Isto em parte é culpa da impressa. Por diversas vezes vemos um locutor ou repórter enaltecer a malandragem do jogador brasileiro: “Ele conseguiu uma falta em um local que para o Zé das Couves é pênalti praticamente!”. Ora, jogador não consegue falta, jogador sofre falta. E uso como exemplo o maior jogador da atualidade, o Messi. Quando pega a bola e arranca, mesmo com pontapés, carrinhos, cotoveladas, facadas nas costas, ele só cai quando não conseguiu dar prosseguimento à jogada. Isso é o que se espera de um jogador. O maior exemplo da exaltação a “esperteza” do jogador brasileiro é o famoso lance de Nilton Santos dando um passe para fora da área e confundindo juiz, que oa invés de marcar pênalti, assinalou apenas falta fora da área. Ora, isso é de uma calhordice ímpar! E não estou julgando o atleta, apenas o ato e os que bateram ou batem palma até hoje. Aquilo foi cafajestagem. Agora, se fosse para ver ator encenando, eu desligaria a televisão ao término da novela e dormiria mais cedo. Afinal, não existe coisa mais cretina que ver jogador se contorcendo por algo que sabemos que nem provocou cócegas. Nessas horas concordo com o Chico Anysio, que tentando fazer graça, dizia uma bela verdade. Para ele, quando um jogador precisasse do atendimento médico e maca deveria ficar cinco minutos fora de campo, pois, ou seria para se recompor de tamanha pancada, ou para puní-lo por ficar fazendo encenação.
     No ponto de vista de macaquinhos de circo, temos os jogadores malabaristas. Eu sei que o futebol é para ser bonito, plástico, com recursos cada vez mais sofisticados, mas sempre com um único objetivo: o gol. O que temos hoje é uma série de candidatos à malabarista de sinal fazendo estripulias em campo sem a menor objetividade. Na semi-final contra o São Paulo pelo Campeonato Paulista, Neymar fez uma sequência de dribles sobre o zagueiro tricolor. Nenhum foi rumo ao gol. Todos lateralmente e com o intuito de desmoralizá-lo. Só isso! E a impressa? Ela bate palmas. Chama Neymar de monstro, gênio, craque etc. Ele pega a bola na lateral, para, espera o jogador sul-americano e dá uma “lambreta” nele. Na direção contrária do gol adversário, mas todos ovacionam. Talvez a comemoração e a repetição do lance seja para garantir a sua vaga na trupe do Cirque du Soleil. O mesmo vale com Ronaldinhos, Robinhos e outros “inhos” que adoram um drible contra a própria direção: “Ah, mas não podia perder a oportunidade de dar aquele lençol!”. Ok, assim iremos longe. Já temos até reportagens especiais em jornais esportivos falando apenas sobre dribles assim.
     Pois é, como diz o ditado: “A imprensa anda batendo muita palma para maluco dançar!”. Ela incentiva jogadas antidesportivas, lances que não agregam valor ao esporte e, agora, como última novidade, a chamada micaretização do esporte. Sim! A imprensa faz concurso de dancinha na comemoração do gol. A imprensa dá prêmios para quem repete a coreografia por ela criada. Isto é, o gol que seria o maior momento do futebol (desculpe o plágio com o nome do programa), agora ficou em segundo plano. O que temos é a dancinha. Qual dancinha fulano vai fazer? Não importa o esquema tático, a posição improvisada ou a jogada ensaiada. Ensaiado mesmo que vale é a dancinha. E nessas horas eu invejo muito qualquer jogador sul-americano (exceto brasileiro) ao comemorar o gol. É sempre uma corrida eufórica gritando GOL, punhos cerrados, a expressão de entusiasmo com o ato cumprido. Não é aquela escrotice, como tivemos na final do Campeonato Carioca, quando, perdendo, o Fred faz um golaço de bicicleta e sai calmamente procurando uma câmera para dar mais uma reboladinha de gosto duvidoso e canastrão.
     Aliás, cada dia que passa sinto que a imprensa mais desgosta do gol. No intervalo, não temos mais gols e lances, temos dancinhas, novelinhas (vide Paixão de Torcedor), cartazes, pegadinhas e que tais. Nos noticiários esportivos não temos gols, não temos lances de perigo e personagens importantes na partida, temos repórteres de beira de campo tentando fazer matéria ao mesmo tempo que o gol sai, comentários cretinos sobre nomes de jogadores, suas semelhanças com outras pessoas etc.  Mas fatos que realmente importam em uma partida de futebol? Não, não temos! Essa é a Thiago Leifhertização do futebol.
     É verdade que a cada dia a imprensa esportiva só cai de qualidade. Especialista em arbitragem que erram mesmo com diversos replays em vários ângulos, repórteres fazendo as perguntas chapa-branca mais vagas possíveis e estatísticas cada vez mais inúteis. E tudo isso, senhores, é Padrão Globo. Comentaristas com anos de labuta que ainda não conseguem usar corretamente termos como independentemente, marcação por pressão ou insistem em termos que, mesmo sendo matemático, não entendo: “fulano vai derivando pela esquerda”.
     Senhores, é oficial, o futebol brasileiro morreu! E não foi por morte morrida, foi assassinado! Brutalmente e covardemente assassinado por alguém que insiste em querer reinventar a transmissão do esporte. Por alguém que acha que gracinha e a piadinha sempre tem lugar na transmissão. Por uma emissora que confunde programa de auditório com esporte popular. O futebol brasileiro ficou chato, sem graça, sem cor e sem cheiro. Eu perdi as esperanças, pois mesmo sabendo que essa é a última que morre, também sei que é a que mais decepciona.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Toda nudez será castigada



     Acho que de tudo que já pronunciei ou escrevi, este vai ser o mais polêmico de todos. Principalmente por ser algo tão atual e ao mesmo tempo em que atinja diretamente uma única pessoa. Mesmo assim, é algo que uma ou outra pessoa pensou, mas não teve coragem de dizer. Talvez por bom senso, talvez por receio da reprovação de terceiros. Enfim, se eu quisesse fazer amigos, teria uma conta no Facebook e não perderia tempo em um blog.
     Ontem no Fantástico (que aliás, faz tempo que não é fantástico) foi noticiado que encontraram os suspeitos por roubarem e divulgarem as fotos da Carolina Dieckman. Basicamente, os suspeitos são quatro jovens, cada um de uma cidade mais interiorana que a outra, que pensavam ser muito espertos, mas foram muito burros.
     A simples ideia de tentar cometer um crime virtual usando o computador da própria casa é de uma estupidez sem tamanho. É claro que eles deixariam rastros e, nessa hora, morar em uma cidade daquele tamanho só ajuda a achá-los. Se tivessem pelo menos uma cabeça que funcionasse para algo além de computadores, pensaria que o ideal seria sair daquele cu de cidade, ir até uma Lan House de outra cidade e pronto. Sem rastros, sem vestígios, sem identificação, sem conhecidos para delatá-los.
     Para eles, desejo apenas que divulguem a delegacia na qual ficarão presos. Somente assim poderei ir a cada um e agradecer pessoalmente ao grande favor que me fizeram. Logo depois, é claro, diria o famoso: “Se fode aí, otário!”.
     Agora vamos à vítima da história. Sim, vítima! Foda-se se ela é arrogante, ou se acha a última paçoca da latinha entre outras coisas. Ter fotos íntimas suas, que foram feitas para ficar na intimidade dela e mais quem ela quiser, expostas, faz dela categoricamente uma vítima.
     Supostamente, e digo isso baseado no que li e ouvi, as fotos foram roubadas do email dela, não do computador em si. Isto é, ao invés de as pegarem em uma pasta qualquer do HD dela, pegaram em uma caixa de email na partição Enviadas. Ora, senhores, pensem comigo, pois sozinho sou uma desgraça. Para quem mais ela mandaria um email com aquelas fotos? Sério! Para quem? Pois é, prevejo um merdelê longo sendo aproveitado por toda a imprensa marrom. E, é claro, que separarei a pipoquinha e o óculos 3D.
     Agora, saindo do cara sério, com dó da vítima (e dela tenho sempre dó), ignorando o crime em si e pensando somente na exposição, podemos dizer que ela se deu muito mal. Mais ainda que pensamos. Passou a vida inteira se negando a posar nua por respeito ao marido, consideração aos filhos e tal. Agora, existem fotos dela peladinha, sem Photoshop, rodando o mundo inteiro de graça. E para piorar, além de não ter ganhado um centavo sequer, pagou uma fortuna para o advogado dos encrencados limpar a barra dela. Quero dizer, ajudar a sacudir a polícia para correr atrás dos suspeitos. Não poderia ser pior.
     A situação me remete bastante a insistência da Xuxa em pagar mesada para um cara não lançar no mercado um filme muito ruim, só porque nele ela aparece nua com um menor. Ora, eram os anos oitenta. Lá, tudo era possível. Para se ter uma ideia, basta procurar no Youtube pelo vídeo com o nome “tá duro Mussum”.
     Enfim, voltando ao assunto. O que temos é o resultado de uma pessoa entediada em casa com uma câmera na mão, algo mal explicado motivando a enviar a foto para terceiros, o descuido dessa pessoa permitindo a invasão do seu email e o completo amadorismo de quatro jovens que pensaram ser capazes de achacar uma pessoa de fácil acesso à mídia. Muitos saíram perdendo. Até eu, que com as fotos tive a minha longa paixonite por ela reanimada após ver as fotos. Só que isso fica para outro dia...

quinta-feira, 29 de março de 2012

Histórias Reais Inventadas por Mim

Pan's Lightball (Efeito Vibe)



Alçapão e inocência (Parte I)


     O antigo estádio do América em Vila Isabel foi por muitos anos um clássico do futebol carioca. Era pequeno, desconfortável, mal cuidado, mas vivia com um bom público. Todos possuíam um espaço no coração para o Ameriquinha. Era comum vascaenses na torcida vermelha em jogos contra o Flamengo, por exemplo, assim como tricoletes e flamenguistas em jogos dos seus rivais. Só era difícil encontrar torcedor do Botafogo fazendo isto. Vai ver que era pela disputa direta com o próprio América de o maior dos menores clubes.
     Era um sábado, jogo contra o Fluminense no meio da tarde. Fazia sol, mas não estava muito quente. Com pouco mais de uma hora de antecedência, Silvinho, um moleque flamenguista de 15 anos já estava na arquibancada atrás de um dos gols. Ele se infiltrou na torcida Sangue Jovem, ajudou a separar as bandeiras, rolos de papel higiênico e instrumentos musicais. Conversou com algumas pessoas por lá, decorou algumas músicas e a escalação dos times. Sem sombras de dúvidas, Silvinho estava lá apenas pela bagunça. Morava perto, não pagava a entrada, não tinha o que fazer em casa, então nada melhor do que ir infernizar (com trocadilho com o mascote do América) a vida dos outros.
     Os times entram em campo. Euforia com a entrada do time do América e vaias para o time do Fluminense. Do outro lado do estádio, atrás do outro gol, a torcida do Fluminense fazia o inverso. Silvinho aguardou ansiosamente por este momento. Ficou quase quarenta minutos com dois rolos de papel higiênico, um em cada mão. Treinou como jogaria diversas vezes para que tivesse certeza que passaria por cima do alambrado e cairia no campo. Quando chegado o momento, o primeiro rolo foi jogado, bateu no meio da grade e voltou. Ele desceu correndo a arquibancada, uns dez degraus, pegou o rolo e jogou novamente, agora ali debaixo. Ideia pior ainda. Se antes não conseguiu porque estava muito longe e acabou batendo no meio da grade, agora estava perto demais, mas também muito baixo. Acabou batendo quase que na mesma altura de antes. Ele tentou umas trinta vezes sem soltar o outro. No início, ninguém na torcida notara aquela cena ridícula. Se fosse uma guerra e no lugar do rolo, uma granada, estavam todos mortos.
     Quando acabou o entusiasmo com a entrada das equipes, finalmente, grande parte da torcida notou a árdua missão de Silvinho em jogar o rolo de papel higiênico sobre o alambrado. Virou algo coletivo. Silvinho pegava o rolo e enquanto se preparava a torcida gritava em coro:
     – Vai! Vai! Vai! Vai! – Até que batia na grade e voltava, para que todos também em coro gritassem. – Uuuuuuuh!
     Dentro de campo, os jogadores nada entendiam. Mesmo focados no início da partida, era inevitável, os gritos da torcida estava chamando muita atenção. Principalmente quando o primeiro rolo, finalmente, passou sobre o alambrado. Parecia gol do América. Comemoração generalizada. Silvinho, que não dominava a arte do sarcasmo, achava que estavam mesmo solidários a sua epopeia. Tanto que na comemoração pulou com os braços erguidos, todo sorridente, virado para a horda animada. Era quase um atacante comemorando seu gol à beira do gramado com a torcida inflamada. Tamanha emoção, que ele se virou para o campo, preparou o arremesso do outro rolo, quando:
     – Agora chega, moleque – disse um cara bem alto tomando o rolo de suas mãos. – O jogo vai começar. Chega de palhaçada!
     Parte da torcida riu, outra parte lamentou, outra ficou a seu favor. Virou um verdadeiro furdunço! Silvinho mesmo assim achou que virou o mascote da rapaziada. Bem, pelo menos foi assim que entendi a versão que ele me contou.