quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Histórias Reais Inventadas por Mim

 Divagações fálicas
Era uma festa de exibicionismo puro, daquelas em que o anfitrião inventa uma desculpa qualquer para chamar amigos e pessoas de influência nos mais sofisticados círculos sociais para esfregar a sua casa e conquistas em suas caras. Os convidados ficavam espalhados pelo enorme e bem cuidado jardim aos fundos da casa, todos em mesas alugadas especialmente para o evento, mas arrumadas como se fossem mobília permanente ao redor da piscina que recebia uma iluminação artística que, se não fosse provisória, nunca tinha sido acessa antes. Garçons com trajes impecáveis serviam champanhe para as madames, uísque para os marmanjos e coquetel para os que gostam de ostentar bebidinhas coloridas em mãos. Se quisesse algo diferente como rum, tequila, vodca e outras bebidas que fariam os almofadinhas contraírem todos os músculos do rosto ao beber, você tinha de ir para o bar localizado em um dos vários ambientes da obscena da sala principal da residência. Era lá que eu estava. Não pela bebida em si, pois não é todo dia que posso tomar um porre de Blue Label que era servido no jardim, mas pelo público que o frequentava.
Em volta do bar estavam as pessoas que, mesmo frequentando habitualmente este tipo de evento, possuíam um comportamento um pouco diferente dos que estavam no jardim. Nada de vocabulário pomposo, falavam sobre assuntos corriqueiros, tinham uma postura informal e, o melhor de tudo, tentavam me acompanhar na bebida. Eram pessoas mais despojadas digamos dessa forma. Mesmo assim, eu era um peixe fora do aquário, se me permitem usar uma frase-pronta clichê. Na verdade, estava em um patamar muito abaixo delas, não apenas socialmente e financeiramente, mas principalmente em reputação.
Não fazia sentido ter sido convidado. A anfitriã me odiava por ter arruinado o casamento de sua irmã mais nova, coisa que não tive culpa direta, que fique registrado. A menina tinha 23 anos e casou com um velho bundão de mais 50 anos cheio da grana. Ele a enchia de presente e mimos, pagava viagens, deixava uma horda de funcionários à sua disposição, coisas que toda mulher sonha. Acontece que uma menina naquela idade sonha com isso, mas também tem vontades carnais, e nisso o cara não chegava junto. Bem, o resto já podem concluir, né? Enfim, um dia o cara descobriu, deu um pé na bunda dela que veio correndo achando que eu iria assumir algo com ela. Claro que não! A vantagem de morar em cidade pequena é que todos sabem a sua fama e a minha era de ser solteiro convicto. Nunca casei, noivei ou namorei. Vivia de um bar frequentado por uma rapaziada alternativa de roupas rasgadas e cabelos coloridos e me divertia comendo universitárias com problemas afetivos paternos ou mulheres com casamentos fracassados. Não podia ser mais perfeito, tinha mais de 40 anos e estava no auge.
De tanto beber rum, precisava ir ao banheiro. Fui ao que parecia ser o mais distante e discreto de todos. Caso tivesse sorte, fumaria um baseado rapidamente. Peguei então um longo corredor e ao me aproximar do banheiro, a porta se abre. Era a Cristina, a anfitriã que saia dele. Ao me ver, ela parou e me analisou da cabeça aos pés. Não sei se já disse, mas se a minha presença por lá era algo incompatível, meus trajes necessitavam de um adjetivo especial pra descrever tamanha discrepância. Estava de bota, calça jeans surrada e com alguns rasgos na frente, camisa preta, jaqueta de couro e uma bandana amarrada no pulso para esconder as marcas de um incidente recente. Cristina, que vestia um vestido vinho justo ao seu corpo, que preciso dizer ser invejável, não o vestido, o corpo, principalmente se considerarmos sua idade e os dois filhos nas costas. Ela me olhou com uma expressão que não sabia se era desprezo, pena, constrangimento ou algo relacionado a um possível problema intestinal que a levou até aquele banheiro destacado. Como junto dela não veio nenhum aroma estranho, escolhi desprezo para descrever a sua expressão. O olhar durou alguns segundos e nem tinha como evitar, pois ela estava exatamente na porta obstruindo minha passagem. Eis que do nada ela me pega pelo colarinho do casaco e me puxa para dentro do banheiro, trancando a porta em seguida.
- Sempre quis fazer isso com você.
Assim que anunciou, ela ficou de costas para mim e se inclinou na direção da bancada da pia. Nada podia ser mais proibido do que foder a anfitriã de uma festa no banheiro da sua própria casa com o marido por perto, sendo ela a mulher que tanto me despreza. Não pensei duas vezes, abaixei minhas calças, dei umas duas balançadas na minha rola e ela já estava rija, pronta para a ação. Sei que provavelmente alguém vai ficar ofendido dizendo que usei um termo chulo. Pois saibam que rola é um termo técnico para o membro sexual masculino, conhecido cientificamente como pênis. Explicarei.
A cultura masculina é naturalmente competitiva, dinheiro, fama, corpo, conquistas, tudo. O homem é tão competitivo e babaca ao mesmo tempo que disputa corrida com motorista de ônibus que está cagando para ele e só está fazendo merda no trânsito. No topo da competitividade masculina está a sua cultura falocêntrica. Tanto que desenvolveram uma nomenclatura técnica para classificar o pênis de acordo com o tamanho.
A nomenclatura mais conhecida é pau, usada para classificar o pênis que tenha a medida dentro da média. E que fique claro que a média precisa ser local, pois sabemos bem que a média no Congo deve ser bem diferente da média no Japão, que estranhamente tem aumentativo no nome. Em seguida vem o termo piru, com a letra i, porque com a letra e trata-se do animal, então, se um dia seu namorado disser que vai lhe enfiar o peru, ligue para o IBAMA fazendo uma denúncia de zoofilia. Enfim, piru é necessariamente um pênis com medida ligeiramente menor que a média, digamos um, no máximo, dois desvios-padrões abaixo. Depois existe o pinto que se refere a um pênis bem abaixo da média. Algo em torno de três desvios-padrões de diferença. Qualquer coisa muito abaixo disso não possui nome técnico, mas pode ser chamado de vergonha, deboche biológico ou clitóris.
No sentido oposto da escala, existe a rola, termo que utilizei. Ele é adequado para o pênis acima da média, mas ainda dentro de um a dois desvios-padrões de diferença. Entre dois e três desvios-padrões acima da média, o pênis leva o nome de piroca. Nome bastante justo, pois para pronunciá-lo é exigido que se encha a boca e se você, minha amiga, não estiver disposta a encher a boca, você não está pronta para lidar com uma piroca. Qualquer coisa além de três desvios-padrões acima deve ser literalmente chamada de coisa, mas também de aberração, ofensa, deboche coletivo, jequitibá ou Ubirajara.
A única ressalva é o termo caralho que não entrou na classificação por estar consolidado no vocabulário como termo de diversas aplicações. Dentro das mais famosas está para situações de espanto: “Caralho, isso é enorme!”. Para orientações geográficas: “Vai para o caralho com essa coisa mini que tem no meio das pernas!”. Para intensidade: “Isso está peludo para caralho!”. Para determinar coisas com funcionamento ruim: “Esse caralho não levanta!”. Ou tudo isso junto: “Caralho, mas nem aqui, nem na casa do caralho que você vai enfiar esse caralho torto para caralho em mim!”. Claro que os exemplos não precisavam ser relacionados a pênis, isso foi apenas um recurso didático que aproveita o tema em pauta para um melhor entendimento de conceitos novos.
Voltando ao banheiro, eu tinha acabado de direcionar o meu sangue para os canais venosos do meu pau. De imediato, aproveitei que Cristina já estava naquela posição e levantei seu vestido. Antes que pudesse abaixar sua calcinha, ela se virou rapidamente para mim:
- Você está louco – ela fez uma pausa ao reparar que estava de pau de fora e continuou. – Qual o seu problema?
Daí que notei que ela tinha acabado de montar algumas carreiras de cocaína na bancada da pia e já tinha uns restinhos de pó na ponta do nariz. Constrangido, tentei explicar rapidamente o que tinha passado pela minha cabeça, mas ela estava doida demais para entender. Tudo que fez foi me dar um canudo e voltou a enfiar a cara na farinha. Ficamos ali como dois tamanduás inalando tudo que tinha para ser inalado. Ela de vestido ainda levando e bunda de fora, eu de calças arriadas e com o pau duro encostado na pia. Não transamos um minuto sequer e, não sei na cabeça de vocês, mas na minha, isso foi a maior sacanagem da minha vida. Em ambos os sentidos.