quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Histórias reais inventadas por mim

Sem solução
- Não! Não! Esquece! NÃO!
- A larga de ser chato. É para me ajudar. Por favor.
- Não, isso é patético.
- Patético é ter um amigo que não está disposto a te ajudar.
- Cadu, eu te ajudo com várias coisas. Vou te ajudar em tudo que pedir. Só que isso é demais.
- Por quê? O que tem de especial no que te pedi para ficar tão ofendido?
- Como não sabe? Não vou brincar de mulher.
- Não, Cesinha! Não quero que brinque de mulher. Quero apenas encenar um diálogo com você, no qual você finge que é a mulher. Eu não sei chegar em mulher na noite. Você é o rei da noite! Três palavras e a calcinha já caiu. Por favor! Diga-me onde estou errando.
- Quer saber onde está errando? Está errando ao ficar num sábado de noite com um macho na sua casa pedindo para ele fingir ser mulher.
- Eu não pedi isso. Para também, Cesinha! Vai! Colabora!
- Cara, isso é muito constrangedor. Vamos a um bar, chegamos em dupla em duas amigas e vemos como você se sai.
- Não, nem pensar! Eu vou falar besteira, gaguejar, te envergonhar e provavelmente provocar uma golfada nos seus pés.
- Como você pode provocar uma golfada puxando assunto?
- Uma vez esbarrei com uma mulher saindo do banheiro daquele pub irlandês. Ela estava tampando o nariz. Daí disse para ela: “Está reclamando do cheiro? Precisa ver o cagalhão boiando na privada do masculino.”.
- Porra, Cadu? Você mordeu o cagalhão? Comeu no café-da-manhã com Sucrilhos? Quem puxa assunto falando de merda?
- Pois é, eu sei! Eu fico nervoso e falo a primeira coisa que me vem à cabeça.
- Você deve ter alguma deficiência ou demência. Não é possível que, uma pessoa, ao se deparar com uma mulher, pense antes de qualquer outra coisa em merda.
- É que fazia sentido a deixa dela com as mãos cobrindo o nariz.
- NÃO! NÃO FAZIA SENTIDO! Fazia sentido oferecer uma bebida para ela aliviar o sofrimento. Fazia sentido comentar sobre seu pescoço cheiroso. Fazia sentido até falar para ela cheirar a sua virilha.
- Nossa que grosseria.
- Jura? Grosseria? Sério mesmo, senhor cagalhão boiando?
- Então! É isso que quero que me ensine. Quero ter um raciocínio rápido para situações em que me aproximar de uma mulher e puxar assunto de maneira adequada. Não quero falar de cagalhões, velório da minha avó, cálculo diferencial, tipos de animais que mais comumente são atropelados nas estradas ou possíveis doenças provocadas pelo consumo excessivo de amendoim.
- Quem puxa assunto falando sobre cálculo diferencial?
- Jura? Em uma lista com velório de avó e potenciais filhotes de patos atropelados, cálculo diferencial que chamou a sua atenção?
- Bem colocado.
- Então, por favor! Dá aquela ajuda. Vai! Vou chegar em você, tá?
- Hum...
- Estou chegando em você. Oi! Tudo bem?
- Sai fora, viado! Sou hétero!
- Colabora, Cesinha. Só hoje. Só para mim.
- Se disser isso novamente, te dou uma porrada.
- Tá! Ok! Pode entrar no jogo?
- Ok. Vai!
- Oi! Tudo bem?
- Tudo bem. E você?
- Tudo ótimo agora.
- Não, Cadu. Porra! Tudo ótimo agora? Só faltou dar aquela ajeitada no pau. Não precisa forçar tanto logo de início. Fala que está bem também.
- Qual seu nome?
- Ai, que grosso! Nem respondeu o que perguntei.
- Ah não sabia. Desculpe. Estou bem também.
- Agora não quero mais papo com você. Com licença.
- Porra, Cesinha. Vai na boa.
- Tá!
- Então?
- Então o quê?
- Cesinha! O seu nome! E se responder Cesinha vou ficar puto.
- Valricélia.
- Ah caralho! Colabora, Cesinha.
- Não, burro! Vai por mim. É uma boa deixa. Nomes exóticos são uma boa deixa para bons minutos de papo se mostrando interessado na garota.
- Boa! Não tinha pensado nisso. Então... Que diferente seu nome. Acho que já vi em algum lugar.
- Jura? Onde?
- Certa vez estudei com duas meninas. Uma se chamava Célia e a outra Valéria. Imagine que legal se fossem irmãs. Ou irmãs siamesas. Teria o seu nome.
- PORRA, CADU! Seus pais são primos? Qual o seu problema?
- Eu sei! Eu fico nervoso.
- Mas comigo?
- Pois é. Estou com aquele frio na barriga que tenho sempre que vou puxar assunto com uma mulher.
- MAS COMIGO?
- Vai ver eu sou inapto para este tipo de coisa. Tipo uma patologia.
- Não sabia que era tão grave assim. Temos de pensar em algo ou vai ficar mais... Mais... Há quanto tempo não transa?
- Conta puta?
- Não!
- Então sou virgem.
- PORRA, CADU! Como nunca falou comigo sobre isso? Que parada bizarra!
- Você não ia levar a sério. E até então, antes de ficar desesperado, tinha vergonha de falar sobre.
- Ah cara! Comigo? Logo eu que, até aceitar fingir que sou mulher, aceitei.
- Foi mal!
- Foi péssimo! Mal é sua situação.
- Ah obrigado.
- Desculpe. Então vamos fazer algo. Vamos montar um roteiro básico para você seguir e ver no que dá.
- Tipo decorar falas?
- É, tipo isso! Montamos algumas combinações e daí é só seguir que não vai ter erro.
- Não acho uma boa ideia.
- Por que não?
- Não sou bom nesse negócio de texto preparado.
- Como sabe disso? Você não é ator, apresentador, nem palestrante. De onde tirou isso?
- Eu sei. Tanto que pratiquei por dias essa nossa conversa de hoje e saiu tudo ao contrário.
- Ao contrário? Mas você explicou direitinho o seu problema e pediu minha ajuda de maneira razoável.
- Se fosse realmente este o problema que me trouxe aqui, né?
- Ah não é este o problema? Então qual é?
- Na realidade estou apaixonado por você, me enrolei todo e achei que com essa encenação poderia fazer coisas que iriam te conv...
- PERAÍ CARALHO! VOCÊ ESTÁ APAIXONADO POR MIM? DESDE QUANDO?
- Então... Tem uns dois ou três anos, desde que dividimos a cama naquela pousada vagabunda em Paty dos Alferes. Dormir do seu lado me ajud...
- CALMA AÍ, PORRA! VOCÊ É GAY E AINDA ESTÁ APAIXONADO POR MIM, CADU? QUE PORRA É ESSA?
- Não fala assim, Cesinha. Não me deixe nerv...
- Nervoso? Eu quero morrer! Eu prefiro estar morto a ouvir esta notícia bombástica.
- Bem, Cesinha, se você fosse uma cotia e estivesse atravessando uma estrada de Melbourne, suas chances seriam bem favoráveis.

- Cadu, você é mesmo uma tragédia. Não me faça te beijar por pena.