Clássicos do cinema em versões mais realistas e factíveis. O texto a seguir pode conter
termos chulos e ofender pessoas frescas que não sabem lidar com sarcasmo ou
imaturidade gratuita.
Poltergeist
– O Fenômeno
O
bairro tem novos vizinhos, uma família está de mudança para a casa que por tanto
tempo estava à venda. O casal Freeling e seus três filhos acabam de chegar com
mala, cuia, caixas de papelão, móveis de MDF com prestações ainda por pagar,
mas nunca ficarão firmes novamente e o projeto de construir uma piscina no
quintal. A ideia original era que, com a mudança, teriam novos ares e, com
novos ares, uma nova vida. Só que eles não sabem o que está por acontecer. Até
porque, se soubessem, não teriam se mudado, daí não fariam o filme e a
garotinha não morreria nas filmagens. Mentira, isso é só uma lenda.
Logo
no primeiro dia, eventos estranhos começam a acontecer pela casa. O primeiro é
presenciado pela esposa Diane. Ela está cozinha, se vira para pegar um copo e
ao retornar, segundos depois, todas as portas dos armários estão abertas e as
cadeiras sobre a mesa. Impressionada com a cena, ela grita: “Alzira!”. A
faxineira chega e leva um esporro: “Já não tem falei que não quero a cozinha
bagunçada? Está arrumando a sala? Termine a cozinha primeiro. Um cômodo por
vez, mulher. Que não se repita!” A empregada sai sem nada entender.
Na
noite do mesmo dia, acontece o segundo evento. Dana, a filha mais velha que
está na adolescência, escuta um barulho estranho vindo do quarto de sua irmã
mais nova. Ela entra para ver o que está acontecendo e se depara com o boneco
Bozo de quase um metro de altura andando pelo quarto. O boneco então para de
andar, aponta para ela, passa o dedo indicador pelo pescoço como quem diz que
vai cortar a jugular de alguém e começa a rir. Dana sai correndo, entra em seu
quarto e liga para o namorado. Assim que ele atende, ela grita: “Caralho, seu
filho da puta! Esse ácido é muito louco! Não tem ideia das merdas que estou
vendo.”.
No
meio da madrugada começa a cair um temporal, ventos uivantes, trovões que fazem
tremer as paredes e raios que iluminavam até os quartos com cortinas fechadas.
Em sua cama, Robbie, o filho do meio está assustado com todos aqueles sons e
luzes. Ele não consegue pegar no sono e vai para o quarto dos pais que estão dormindo.
Depois de acordar o pai, ele conta que está com medo. Steve, o pai, fala que é
bobagem. “Basta contar entre um trovão e outro, se o tempo aumentar é sinal que
a tempestade está se afastando”, diz para o filho. O garoto então volta para o
seu quarto se cagando de medo. O primeiro trovão explode o ensurdecendo. Ele
então fala em voz baixa: “Que pai filho da puta. Estou cheio de medo e ao invés
de me dar um abraço ou me chamar para dormir com eles, me manda contar e ficar
prestando atenção nas merdas dos trovões que estão me assustando.”. Antes que
pudesse completar a próxima frase, outro trovão estoura. Assustado, ele corre
para a janela e vê a amendoeira que fica logo em frente criar vida e esticar os
galhos em sua direção para pegá-lo. Ele grita, volta correndo para o quarto dos
pais acordando o casal e conta o que aconteceu. Sua mãe não hesita e diz: “Robbie,
todo véspera de prova você inventa uma palhaçada. Cansei. Ouviu? Cansei! Pode
voltar para o seu quarto que amanhã você vai para o colégio fazer a maldita
prova de matemática.”. Ele então, não mais assustado, mas frustrado, volta para
o quarto, anda até a janela, abre e grita para a árvore: “Me leve com você para
longe desses pais desnaturados.”. A árvore se vira para ele e diz: “Está
pensando que sou o Barbárvore, moleque? Se enxerga!”. Ela então se solta do
terreno e vai embora.
Ainda
na madrugada, assim que a tempestade para, Carol Anne, a filha mais nova, é
acordada com o som da televisão do quarto dos pais chiando. Ela se aproxima do
aparelho que está apenas com chuvisco em tela, pois o canal está fora do ar, e
depois de alguns segundos a encarando bem perto, ela sorri e começa a conversar
com a TV. Ela diz uns “oi”, “olá”, “viva os Teletubbies” e de repente uma mão
sai da tela e a puxa para dentro da TV. Toda essa ação provoca um ruído que
acorda o casal. Eles olham para a imagem da televisão e parecem incrédulos com
o que veem. Um olha para o outro, até que o marido chama a responsabilidade
para ele, pega o telefone da cabeceira, disca um número, espera e quando é
atendido grita: “Vocês da SKY são uma merda mesmo! Mal pode cair uma chuvinha e
o sinal já some! Amanhã vou cancelar essa bosta!”.
Na
manhã seguinte, pai, mãe e dois filhos estão à mesa para tomar o café-da-manhã,
mas não pensem que é uma família unida. O pai e os filhos que são uns
imprestáveis preguiçosos que exploram a mãe para fazer tudo. Tanto que bem
depois perceberam que Carol Anne não aparecera para comer. Eles resolvem
vasculhar a casa e nada. Não existem dúvidas, a caçula desapareceu sem sair de
casa. Decididos a fazer algo para recuperar a filha, tomam a decisão mais
acertada que uma família de classe média poderia optar, ligam para o
Fantástico.
Algumas
horas depois a equipe de filmagem aparece. Tadeu Schmidt inicia os trabalhos
usando o detetive virtual para achar alguma fraude na casa. Ele nada encontra e
ainda consegue frustrar a todos com suas piadinhas colegiais. Marcio Atalla
perde o foco da visita e fica recriminando a comida estocada pela casa. Gloria
Maria é confundida com uma assombração e sequer deixam que entre na casa. Acaba
sobrando para Renata Ceribelli que fica por horas chamando pela criança, mas
sem sucesso, ela não responde. E também nunca responderia. A apresentadora,
assim como a maioria dos imbecis que viram o filme, insistia em chamar a menina
de Carolaine (escreve-se Caroline). Daí fica difícil que a caçula responda, ela
não é adivinha.
Frustrados
com a ação fracassada da equipe global, a família então recorre ao Ratinho que
não titubeia e manda um grupo de paranormais para a o local. Assim que chegam,
Rosamaria de Oxossi, a líder do grupo crava a primeira premonição: a filha está
dentro da TV. A família estupefata não entende como isso pode acontecer e
pergunta quem está por trás de tamanha atrocidade. A especialista então crava a
segunda premonição: a culpa é do local onde levantaram aquela casa. A mãe, de
tanto ouvir estórias por aí durante a vida, cogita que a casa foi construída em
cima de um cemitério indígena. Só que sua hipótese é rapidamente descartada
pela líder da equipe: “Se fosse um cemitério indígena, sua filha não estaria na
TV, mas sim em uma cumbuca, canoa ou dentro daquele quadro de tecido cafona
pendurado na sua sala de jantar. Esta casa foi construída sobre um antigo posto
de saúde do SUS onde diversas pessoas morreram na sala de espera enquanto
assistiam TV.”. Convencida, a mãe corre para a televisão e pergunta como pode
fazer para falar com a filha. Rosamaria diz que precisam sintonizar no último
canal antes dela ser abduzida, para isso bastava apertar a tecla que dá o
comando de voltar ao canal antes assistido. É o que mãe faz. A TV sintoniza no
canal erótico que passa o filme “Todo mundo na bundinha da Suzana” e todos
olham para o pai que rapidamente se justifica: “Ai caralho! Minha filha está
desaparecida, fiquei tenso, precisava relaxar!”.
Depois
de muito tempo, passando de canal em canal, finalmente conseguem sintonizar no
que Carol Anne está presa. A equipe então inicia uma conversa com ela para
entender melhor como farão para resgatá-la. A equipe faz várias perguntas, toma
nota de algumas respostas, tira fotos da casa, usa uns aparelhos estranhos que
piscam e fazem barulhos irritantes. Em seguida, se reúnem na sala e em alguns
minutos traçam o plano de ação: “Entraremos pelo armário do quarto de Carol
Anne e sairemos com ela pelo teto da sala!”. Dana retruca a decisão: “Mas isso
não faz sentido alguma!”. A líder com toda sua experiência acalenta o coração
da jovem: “Sua irmã está em um TV. Preciso dizer algo mais?”.
Com
todos devidamente informados de como devem proceder, a equipe se prepara para
entrar em ação. Erivelton, rapaz afeminado e enrustido, por ser o mais leve é
escolhido para entrar no armário, por mais irônico que isso soe. Com uma corda
amarrada em uma cintura ele inicia a caminhada. Após dados os primeiros passos,
o rapaz grita assustado clamando pelo Senhor. As pessoas perguntam o que foi e
ele responde: “Que horror esse monte de roupas da C&A, Renner e Marisa.
Coisa cafona!”. Diane argumenta: “Precisamos apertar algumas contas por causa
da compra da casa.” Robervaldo, irmão de Rosamaria e pai de Erivelton, vai
contando a quantidade de corda que entra no armário como um recurso para saber
o quão fundo o rapaz está: “Um metro. Dois metros. Três metros. Nárnia. Cinco
metros.”
Com
o passar do tempo e preocupada com a filha, a mãe começa a gritar para orientar
a pequena: “Não olhe para luz, Carol Anne! Não vá para a luz, Carol Anne!”.
Robbie retruca: “Legal! Vocês são foda. Estou me cagando de medo e me mandam de
volta para o quarto. Minha irmã está sozinha sabe-se lá onde e vocês mandam ela
fugir da luz e ir para o escuro. Só pode ser brincadeira.”. Certa de sua
decisão, Diane continua com as mensagens para Carol Anne que responde estar com
medo. Enquanto isso, Rosamaria pergunta a Erivelton como estão as coisas e ele
diz que aquilo é terrível. Ela pede que ele se esforce e encontre a menina.
Erivelton pede um tempo, todos se calam por uns minutos, até ele próprio quebrar
o silêncio para dizer que a achou, mas logo depois gritar assustado. Diane
desesperada pergunta o que houve e ele responde: “O horror! O horror! Esta menina
com este pijama da feirinha de Petrópolis. Que coisa medonha! Joaninhas,
ursinhos e brigadeiros por todos os lados. Meus olhos!”. Rosamaria ordena que
ele pegue a menina e corra para a saída.
A
cena que se segue é antológica. Todos no quarto parados, praticamente
petrificados, catatônicos, com olhos vidrados apontados para o armário de Carol
Anne. Silêncio. Tanto no quarto, quanto no armário. De repente, um enorme
estrondo vindo da sala. Todos correm para lá e se deparam com uma enorme
cagada. Erivelton e Carol Anne estão de volta. Ao sair pelo teto, ficaram completamente
cobertos de plasma espectoral áureo, mais conhecido como geleca nojenta. Não
bastante, nenhum imbecil ficou na sala para segurá-los quando caíssem do teto.
Resultado, se espatifaram na mesa de centro de vidro, ficaram com cortes pelo
corpo todo e sujaram o que não estava cagado de gosma com sangue. A mãe não se conteve
de felicidade e gritou: “Minha filha está de volta! Que alegria, meu Deus! Só
não te dou um abraço porque está toda nojentinha, né? Vamos tomar um banho antes?”.
Rosamaria anuncia que não dá tempo, todos precisam sair correndo da casa que,
logo em seguida, começa a tremer. Primeiro sai a equipe paranormal, depois mãe,
filhas, filho e por último o pai que demorou porque voltou para salvar o Blackberry
da empresa que se sumisse seria descontado. A casa então desaparece, resta
apenas o terreno, o buraco de onde seria a piscina e um envelope pardo. O pai
se aproxima, abre o envelope pardo, checa o que tem dentro e grita: “SEUS
FILHOS DA PUTA!”. Eram as prestações a vencer da hipoteca.