quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

E se fez o espaço

     Apesar de nunca ter assistido um capítulo sequer de Pokemon ou Digimon, possuo o hábito de falar para as pessoas evoluírem. Em casos extremos, quando a pessoa não somente é atrasada em relação a algo, como ainda é teimosa, o singelo pedido vira ordem na forma de: “Evolua, filho da puta!”.
     Pois bem, nem por isso me considero em uma posição privilegiada onde posso tirar apenas proveito de pedir e/ou mandar os outros evoluírem. Nem um pouco. Tenho muita coisa, sabidamente, para evoluir. E este é o propósito deste post.
     Acho que de todas as etapas de evolução que passei, a mais recente foi a mais penosa. Também foi a que mais demorei a tomar coragem e iniciar. Ainda assim, é a que tenho mais orgulho. Não mais acumulo coisas. CDs, DVDs, livros, quinquilharias. Tudo fora. Por oito sábado mantive uma barraca na Feira da Praça XV e vendi tudo que tinha acumulado. Acabou. Tenho agora um enorme espaço vazio.
     Tinha um grande orgulho da minha diversificada biblioteca. Vendida! Meu acervo de DVDs com documentários, filmes europeus e filmografias completas. Vendido! Meus CDs que mostravam a minha passagem por vários estilos até chegar meu gosto musical atual. Vendidos. Meus quadrinhos que foram responsáveis pela minha formação como leitor apaixonado e devorador de cultura pop. Vendidos!
     Lendo somente até este ponto, pode ficar a impressão de que evoluí no quesito de não mais acumular coisas, gerando espaço e facilidade para futuras mudanças de endereço. Entretanto, como consequência teria passado ao mesmo tempo por um processo de regressão em outro aspecto. Naquele momento, me tornaria um imbecil. Sem cultura alguma. Nada de livros, músicas, filmes etc. Só que era exatamente esta consequência imediata que me fez tanto pensar em como tomar a decisão de iniciar o tal processo de evolução. E a solução veio em uma palavra que pesa menos de três quilos: IPad! É impressionante como um simples aparelho foi capaz de substituir várias prateleiras, estantes e armários sem a possibilidade de perda.
     A parte da leitura está sendo substituída aos poucos. Com raras exceções de um título ou outro mais difícil de se encontrar (mesmo que impresso), quase todos os outros possuem versões digitais disponíveis. E boa parte já foi adquirida! A vantagem? Espaço livre! A segunda vantagem? O fim daquelas coleções combinadas, nas quais temos uma biblioteca e com ela colecionamos traças, mofo, alergias e rinites. E não posso esquecer dos gibis. Todos os que costumava consultar com frequência já estão aqui. Inclusive a coleção completa da Turma do Snoopy (Complete Peanuts 1950-2000) que tanto vibrei pelo Twitter nesse início de semana.
     É bem possível que alguma pessoa presa a velhos hábitos (eu sou em alguns, mas estou evoluindo) possa retrucar dizendo que ler um livro não é a mesma coisa que ler em um IPad. Claro que não é! Concordo na hora. Ler no IPad é muito melhor! As páginas não ficam marcadas, nas faz orelha, a brochura não desmancha. Mas e o conforto? É mais leve que a maioria dos livros que possuo. Não preciso ficar segurando com ambas as mãos para não fechar. E, enquanto como, faço anotações ou qualquer coisa que precise do livro sobre a mesa, não é necessário o uso de pesos para segurar as páginas. Não tem do que reclamar. Evolua!
     Sobre os CDs, convenhamos que se trata de uma mídia morta há muito tempo. Depois do binômio MP3 e Ipod, não fazia mais sentido acumular aqueles discos cheios de arranhões, em caixas de acrílico que, ou estavam quebradas nos pinos que fazem o movimento de abrir e fechar, ou estavam quebradas nos “dentes” da parte de dentro que segura o CD. Sem falar nos encartes todos rasgados e amassados porque não entravam corretamente no case. Melhor pular de assunto.
     Sobre os DVDs, a coisa não somente é mais prática e óbvia, como também mais barata. Salve o combo: Ipad, internet de alta velocidade e Netflix. Filmes disponíveis para você a qualquer hora e por um valor mensal que equivale à compra de 1 (apenas um) DVD. Existe a possibilidade de alguém reclamar que se perde o charme de pegar a caixa e ler as informações no encarte. Ora, para isso existe um maravilhoso aplicativo no mesmo IPad para acessar diretamente o banco de dados do fenomenal IMDB. Por ali, não somente teremos as informações tão necessárias do encarte, como outras que nem sonhava em obter. Ora, mas ainda assim tem gente dizendo que o acervo do Netflix não é lá essas coisas. Sim, de fato o acervo brasileiro é nível Sessão da Tarde, mas estou falando da Netflix americana. O acervo é monstro! Daí irão admitir que o acervo americano é impressionante, mas não tem legenda. Tem legenda, sim! Só que é legenda em inglês. Não manja? Evolua, filho da puta!
    Resultado final, com o saldo positivo da venda de todo o meu acerto, ganhei espaço, independência sobre as coisas materiais e recursos suficientes para comprar tudo que fosse necessário para repor as vendas. Isto é, atualmente, tenho praticamente tudo que possuía antes, mas com dois detalhes a mais: espaço e um aparelho eletrônico sensacional que ainda pode ser útil em outras tarefas. Evolução é tudo!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Uma piada suja, errada e sem graça

Sesta (Efeito Hudson)

     No último sábado, enquanto voltava para casa, aventurei-me a ouvir o jogo do Flamengo pelo rádio. Confesso que tem tempo que não faço algo do tipo. E, também admito, que trata-se de algo que sempre gostei. Mesmo estando no estádio, ou vendo em casa pela televisão, o rádio sempre ficava “na orelhinha” ligado na Rádio Globo. Parei por causa do tal delay. Enquanto no rádio o jogador estava comemorando o gol, na televisão aberta ele ainda não tinha chutado e, sequer recebido a bola, na televisão por assinatura. Não dava. Era confuso e sem graça. Fiquei apenas com a televisão.
     Voltando ao sábado. Como estava dirigindo, não tinha muitas opções. Ou era isso, ou era ficar alienado à partida. Optei pelo rádio e, por ser no carro dos meus pais, ficou sintonizado na Tupi, pois era a que estava programada. Enfim, rádio sintonizado, partida rolando, tudo para me distrair. Certo? Errado!
     É verdade que com o passar do tempo a transmissão da Rádio Globo começou a ficar com um tom mais solto, divertido, mas sem perder o lado profissional de informar de forma clara sempre. E o principal, era um dos poucos ambientes nos quais os comentaristas, pelo menos, tentavam analisar as formações das equipes, o desenrolar da partida e por aí vai. Pois bem, na Rádio Tupi o comentarista (não sei o nome do pobre profissional) é tudo, menos comentarista de futebol.
     A primeira impressão é que se trata de um daqueles nerds gordinhos nervosos atrás dos teclados, que com seus dedos engordurados de Cheetos, destilam toda a sua ira pela proteção intocável do mundo virtual. Ele não comenta, não analisa, não faz a leitura do jogo, apenas critica todo mundo. Não existe jogador com um mínimo talento. Todo indivíduo em campo possui uma característica negativa que precisa ser grifada a qualquer custo. Fominha, pé-torto, fora de forma, burro, fraco, basta escolher um adjetivo não elogioso. Fala de forma colérica, impaciente e, algumas vezes, desgosto, quase como se estivesse contrariado por estar lá.
     Não bastasse isso, ainda temos a maneira como ele se expressa. Palavrões são constantes. Assumo que sou arbitrariamente desbocado, inclusive em sala de aula. Mas não é por isso que iremos considerar normal ou aceitável que um “profissional” de rádio use a palavra porra para pontuar frases ou dar ênfase em exclamações. E, ainda assim, se não fosse o uso do esperma como artifício gramatical, temos, para compensar, a falta de concordância ou uso correto de tempo verbal. Posso até estar sendo injusto, afinal, não sabemos se o comentarista é fruto da lei que não exige diplomados para exercer a função. Ou sequer se é produto do excelente sistema de alfabetização público inspirado no modelo econômico do ex-presidente o qual reduzia o uso do “s” ao final das palavras como estilo de locução. Mas o fato é que ele não domina muito bem o português. Quem sabe o brasileiro...
     Satisfeitos? Muito? Ah, mas esperem um pouco! Pois iremos juntar tudo isso e acrescentar à tendência Thiago Leifert de ser sempre engraçadinho para suprir a falta de informação. Exatamente! Como não fosse suficiente o nobre comentarista ser um exemplo de como não atuar, ele ainda se aventura no campo dos comentários cretinos e inoportunos. Substitui a informação por trocadilhos infames e/ou deixas que, como o próprio nome diz, deveriam ser deixadas, mas são usadas como pontes.
     Infelizmente, como estava dirigindo, não pude fazer anotações como de hábito (sou muito esquecido). Logo, detalhes sórdidos ficarão perdidos. Uma pena! Afinal, recordo-me que teve um momento que em uma única frase ele começou com um palavrão, matou a língua portuguesa e fez uma piada tão ruim que foi cortado pelo locutor com um fúnebre: “Pois é...”.
     Pois bem, antes que me eternizem como um velho ranzinza amargo, fato que sou assumido, preciso dizer que nada tenho contra pessoas desse tipo. Até gostaria de ter, mas a lei do desarmamento não me permite mais. Enfim, só gostaria que cada um ocupasse o seu devido espaço. Na rádio, um veículo extremamente peculiar, no qual apenas o áudio será usado para desenhar a partida, cada palavra emitida seja devidamente usada para ilustrar o que se passa de fato. Não precisa ser sério como a Voz do Brasil, entretanto, não precisa beirar o Zorra Total. E quanto aos problemas gramaticais, bem isso é algo que envolve RH e processos seletivos nada minuciosos. Vai além do meu pensamento.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Poesia for dummies



Minha vizinha


Era bem de manhãzinha
Ainda estava sonado
Me recordo, era sábado
Quando chegou a minha vizinha

Família, caixa e mala
Um carro e uma vanzinha
Largavam tudo pela sala
A mudança da minha vizinha

Pai mandava e gesticulava
Mãe limpava e arrumava
Na varanda bem quietinha
Lá estava a minha vizinha

Cabelos escuros e cacheados
Pele clara e pintadinha
Pernas finas, seios fartos
Que gracinha a minha vizinha

No meu quarto, pela janela
Fazia parte da vida dela
Ela ia, ela vinha
Vigiava a minha vizinha

Nunca ouviu palavra minha
Não faltou oportunidade
Por timidez ou vaidade
Não sei o nome da minha vizinha

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Mais uma dose (shot 2.1)

Josias (Efeito Color Splash)



     Acordei com o barulho do telefone de casa tocando. Sabe quando você acorda subitamente, ficando assustado e perdido? Foi assim. Estava no sofá e quase caí dele. Demorei alguns segundos para entender que som era aquele. Ainda deitado, estiquei o braço e pequei o telefone na mesinha. Atendi. Do outro lado era o Negão.
     – Fala aí, patrão! – Ele sempre me chamou de patrão, nunca pelo nome. – Hoje é folga? Não vai abrir?
     A mente ainda está devagar. Fecho e abro os olhos com força para acordar. Coço a cabeça e sento-me na beirada do sofá.
     – Que horas são?
     – Já são seis e vinte – Disse ele. – A Carlinha está aqui também te esperando.
     Céus, perdi a hora. Estava muito lento. Olhei para baixo e vi que ainda estava com a mesma roupa. Precisava de um banho, café, roupas limpas e ir ao encontro deles.
     – Preciso de meia hora – Digo para o Negão. – Quem você disse que está aí?
     – A Carlinha – Minha filha estava lá à minha espera. – Você está bem, patrão?
     – Sim – Respondo seco e rápido. – Já estou chegando. Pede para ela me esperar.
     Enquanto tiro a roupa para entrar no banho, uma sequência de tossidos me perturba. Um, dois, três e pausa para respirar. É assim por umas cinco ou seis vezes. Até brinco falando em voz alta comigo mesmo que devia parar de fumar. E é só terminar a frase que os tossidos voltam. Entro no box, tusso mais umas quatro vezes e me sinto enjoado. Encosto a bunda na parede de frente ao chuveiro, apoio as mãos no joelho e solto mais uns dois tossidos. No final do segundo acabo vomitando. Ele sai com uma cor estranha. E olha que quem está falando é alguém que comumente inicia o dia vomitando. Tento enxergar melhor, mesmo do alto, mas outros dois jatos saem. Desisto. Ligo o chuveiro e fico empurrando a água com os pés para que o vômito escorra pelo ralo.
     Durante o banho e enquanto me vestia, continuei tossindo um pouco, mas só. Nada mais foi colocado para fora. Acho que também nem dava tempo tamanha a velocidade com que me enxuguei e vesti.
     Quando fui pegar a chave da moto na bancada próxima à porta principal, vejo que tem outro chaveiro. Lembrei. Era do tal carro que não sei a quem pertencia. E agora? Na dúvida, opto em ir de moto. Vai que o carro é roubado mesmo. Não vou dar a bobeira de ir para o trabalho com um carro roubado. Peguei a moto e fui.
     A Rua General Polidoro é uma das principais do bairro Botafogo. Ela começa praticamente na fronteira com os bairros Humaitá e Copacabana e vai até o Aterro. No seu início tem um grande cemitério, o São João Batista. Em frente ao cemitério, várias pequenas oficinas de carros e de motos, um grande supermercado, um breve sequência de floriculturas e um pub chamado Ni Knights. Era ali que eu ganhava a vida. O nome era uma homenagem aos cavaleiros que só falam ni do clássico filme Monty Phyton e o Cálice Sagrado. Não era muito grande. Na realidade, era bem estreito, com um longo balcão de madeira escura, algumas mesas ao comprido e um espaço no final onde tinha uma grande televisão para exibir shows e outras coisas.
     Cheguei pouco além dos trinta minutos que tinha pedido. Sentados à porta estavam Negão, Carlinha e mais dois clientes que comumente chegam cedo no sábado. Nunca soube o nome deles. Não que tenha esquecido, apenas acho que nunca falaram. Sempre chamava um pelo apelido de “Cabelo”, por causa dos longos cabelos escuros que quase batiam na cintura. O outro, eu chamava de “Amigo do Cabelo”. Era a preguiça de bolar um apelido para ele. Ambos atendiam por esses nomes e sempre riam quando os usava.
Encosto a moto de frente mesmo. Praticamente à porta do pub. Jogo as chaves para o Negão. Ele se levanta e começa a abrir as portas. Continuo na moto. Carlinha vem à minha direção com aquela cara de paisagem de sempre. Os outros dois se levantam e entram junto com o Negão. Carlinha se apoia no guidão e diz:
     – Ai, pai – Ela toma mais conta de mim do que eu dela. – O que foi dessa vez?
     – Quer a verdade?
     – Tenho medo – Ela diz, brincando de fazer careta com os olhos arregalados. – Vai conseguir se superar desta vez?
     – A verdade... – Faço uma pausa para rir e coçar os olhos. – A verdade é que não tenho a menor ideia.
     – Pai!
     – Ok – Falo me recostando na moto. – Eu sei apenas um breve resumo, mas sem detalhes. É sério! Não me lembro do que aconteceu, apenas do que me contaram.
     – Tá bom – Diz ela me dando um tapinha na perna. – Vamos! Me conta lá dentro. Estou morrendo de calor aqui fora.
     De fato, em janeiro, mesmo de noite, o calor aqui em Botafogo é infernal. Acho que o nome veio daí. Faria todo sentido. Entramos. Ela senta em um banco ao lado dos rapazes, eu vou para o outro lado do balcão e Negão está lá nos fundos iniciando os trabalhos na cozinha.
     – Cerveja? – Pergunto apontando para os dois rapazes.
     – Sim! – Respondem ao mesmo tempo os dois e Carlinha.
     Abro o refrigerador que fica abaixo do balcão e pego quatro garrafas de long-neck. Coloco uma na frente de cada um deles e a quarta eu mesmo abro para beber. Carlinha interrompe meu gole inicial.
     – E aí?
     – E aí, o quê? – Pergunto eu.
     – Não vai contar de ontem? – Ela insiste.
     – Sério que você quer mesmo saber? – Tento fazê-la esquecer dessa ideia. – Você não tem idade para tal história libidinosa.
     – Pai – Ela coloca a garrafa que estava em suas mãos no balcão e com um olhar sério fala. – Eu tenho dezessete anos! E, além disso, não acredito que sua história seja algo além de muita bebida, terminando sozinho no sofá da sala.
     – Você, definitivamente, pegou o lado cruel da sua mãe.
     – Anda – Agora é o Cabelo quem pede. – Conta logo que estou curioso também!
     – É – Fala o Amigo do Cabelo. – Nem dormi direito de tanta curiosidade.
     – Ei! – Digo apontando para eles com a garrafa na mesma mão. – Olha o deboche!
     Os dois começam a rir. Eu fico com cara de bobo sem entender do que se trata. Carlinha ri também, mas da risada deles. E Negão vem da cozinha na mão com um CD pedindo para colocar para testar, pois tinha acabado de comprar. Aceno que sim, e volto-me para os rapazes:
     – Qual a graça? – Falo sério. – Vocês sabem por acaso do que ela está falando?
     – Porra, Jim! – Cabelo responde quase babando a cerveja que acabara de beber. – Claro que sabemos da parada na Barra.
     – Peraí – Viro-me para Carlinha e pergunto. – Você contou alguma coisa para eles?
     – Eu não! – Ela responde gesticulando com as mãos levantadas. – Nem sabia que tinha ido para a Barra. Fala logo, pai!
     – Tem razão! – Digo para ela me afastando do balcão, encostando na bancada das bebidas “quentes” e voltando a perguntar ao Cabelo. – Como você sabe que fui para a Barra?
     Ele responde alguma coisa gesticulando com os braços, mas não entendo. Tudo porque nesse exato momento o CD do Negão começa a tocar em um som absurdamente alto. Era uma música de estilo rock progressivo. Na entrada, um teclado e um baixo acompanhados de uma virada de bateria, quase como um chute no meio dos peitos.
     – Diminui essa porra, Negão! – Grito para ele que está na outra ponta do balcão, quase ao fundo do pub. – Que som é esse?
     – Cab – Ele responde, diminui o volume e responde mais uma vez gritando. – CAB!
     – Troço bom – Falo apontando para ele. – Deixa isso tocando aí.
     Volto-me para os rapazes que estão rindo mais ainda. Que bobagem.
     – Não entendi o que você falou – Digo para o Cabelo que não para de rir com os outros dois. – Dá para repetir? Ei! Cabelo! Porra, Cabelo! Como sabe que fui para a Barra?
     Amigo do Cabelo colocou cerveja para fora pelo nariz. Agora que eles não vão mais parar de rir. Lá estão os três rindo freneticamente, eu com cara de bobo aqui e Negão tocando um baixo invisível a caminho da cozinha. Vou precisar de paciência.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Histórias reais inventadas por mim

Fonte (Efeito Brannan)
Número 2 e timidez

O professor Antonio Jardim certa vez disse que era um absurdo falar que se vai ao banheiro fazer cocô ou xixi. A pessoa já vai ao banheiro com a bosta ou a urina pronta. O que ela vai fazer mesmo é cagar ou mijar. De fato, faz todo o sentido.
Já minha mãe tem repulsa a esses dois termos. Mesmo já burro velho, toda vez que falo que vou cagar ou mijar, ela sempre diz a mesma coisa:
– Que termos são esses, meu filho? Onde estão seus modos? – E balança a cabeça em reprovação.
Só resta saber o motivo pelo qual ainda anuncio coisas desse tipo para ela. Mas isso fica para outro post, não é mesmo?
Bem, mas o que importa é Suzaninha. Ela não somente tinha problemas com esses termos, como também tinha sérios problemas com a execução deles. Literalmente! Vou explicar.
Suzaninha, como a maioria das mulheres, tinha grandes dificuldades para ir ao banheiro para fazer o chamado Número 2. Seu intestino era muito preguiçoso. Funcionava uma vez por semana e olhe lá. Eram dias e mais dias com aquilo constipado dentro dela. Era tanto tempo que ela chegava a criar uma relação com ele. Quase um afeto. Quando finalmente funcionava, lacrimejava. Não de dor! Mas de saudade prematura. Foram tantos dias e momentos juntos que, quando seu organismo finalmente ejetava suas sobras, era uma separação. Quase uma despedida de portão de rodoviária.
Na realidade, isso só era possível quando ela tinha sossego. Seu irmão mais novo, Silvinho, passou a perceber um padrão em Suzaninha quando ia ao banheiro. Era fácil decodificar quando era banho, xixi, escovar os dentes ou quando finalmente era o alívio dos reprimidos. Ele, como era um moleque atentado, ficava de tocaia atrás da porta. Esperava alguns minutos. E quando notava que a coisa (literalmente) ia sair, ele cantava em voz alta:
“Cocô, seu vacilão!
Sai desse cú que não pertence a você, não!”
Silvaninha gritava algo como: “Saí daí, moleque dos infernos!”. Ele saía correndo com passos pesados que seriam escutados por ela no banheiro. Contudo, ele voltava logo depois em passos de gato. Chegava bem perto da porta e agora, cantando mais alto ainda, soltava:
“Ta no banheiro!
Mas que gracinha!
Fazendo força,
contraindo a bundinha!”
Pronto, ela travava de vez e uma próxima tentativa somente daqui a dois ou três dias. Isso para ela era terrível. O intestino ficava cada vez mais acumulado. O afeto só aumentava. O desespero para ir ao banheiro se tornava fobia. Dizem que foi assim que começou o seu complexo. Suzaninha não conseguia mais ir ao banheiro dar aquela cagadinha pensando que alguém sabia que lá estava ela para isso. Muita coisa mudou quando Suzaninha entrou para a Tavares e Bastos. Algumas melhoraram, outras pioraram
Tavares e Bastos era uma grande empresa de contabilidade que ocupava todo um andar de um prédio no final da Avenida Presidente Vargas. Eram muitas salas repletas de pessoas, mesas, cadeiras, telefones, papéis, impressoras etc. Todas as salas eram ligadas por um único corredor longo. E, nele, existiam dois banheiros, um masculino e um feminino. O banheiro masculino tinha quatro pias, seis mictórios e seis cabines. O feminino, oito pias e dez cabines.
Uma das melhorias que Suzaninha obteve trabalhando por lá foi que seu intestino nunca funcionou tão bem. Tudo graças à secretária Alzira. Mulher de meia-idade, maquiagem carregada e mania de se intrometer na vida de todo mundo. Mesmo que fosse nas intimidades fisiológicas das pessoas. Muito brócolis no almoço, pão integral e aveia de manhã e frutas durante à tarde, ela disse para Suzaninha, que obedeceu e seu intestino em uma semana virou um relógio suíço e passou a funcionar todos os dias.
O chato nessa melhoria foi que esse tal relógio suíço, para Suzaninha, devia estar no fuso horário da Austrália ou algo do tipo. Era pontualmente após o almoço. Parecia uma pata! Comia e já estava o de ontem na portinha querendo sair. Acontece que para ela, isso seria impossível. Nunca iria fazer no banheiro do trabalho.
Nos primeiros dias ficou segurando até chegar em casa. Eram em média 4 horas no trabalho, mais uma e meia no ônibus, segurando ao máximo. Aliás, no ônibus ela ia em pé, só para não ficar em uma posição muito convidativa e o intestino acabar cedendo após tantas horas de retenção forçada.
É claro que isso não durou muito tempo. As pessoas chegaram a desconfiar que ela era hipertensa. A carinha branca que chegava todos dias, com o passar das horas ia ficando rosa, vermelha, até o final do expediente, quando estava roxa, com os olhos lacrimejando. Não dava mais. Era muita pressão (literalmente), fora as cólicas que o intestino começou a provocar como argumento de persuasão. Ia ter de ser no banheiro do trabalho mesmo.
O primeiro bloqueio de timidez era aquele sobre alguém saber que ela ia ao banheiro para cagar. Ora, isso era uma grande bobagem. Excetuando a possibilidade dela ir com uma plaquinha no pescoço escrito “Vou falar com o Ary Barroso!”, as pessoas não tinham como saber disso. Afinal, diferentemente dos homens, as mulheres só podem fazer ambas as necessidades na cabine. Entretanto, para ela, tímida toda vida, e todo tímido é megalomaníaco, sempre que entrasse na cabine e alguém a visse, esse alguém pensaria: “Lá vai a cagona!”
Apenas por isso, o início do processo era composto de várias tentativas, dependendo da sua sorte. Ela entrava no banheiro, se tinha alguém na cabine, em frente ao espelho, nas pias, qualquer pessoa, ela disfarçava fingindo que tinha ido apenas lavar as mãos, espremer uma espinha ou algo do tipo e saía.
Esse processo se repetia exaustivamente até que finalmente o banheiro estava vazio. Ela sorria de alívio e entrava correndo na última cabine, é claro. Mas aí iniciava o segundo martírio, a sonoplastia.
Como ainda ficava muito tempo segurando por conta das várias tentativas, os gases eram inevitáveis, sem falar da sonoridade de longo alcance deles. Para piorar, na alegria de obter finalmente sua liberdade, a merda saía em tamanha felicidade e velocidade que ao bater na água fazia mais barulho ainda. Ela tinha agora um novo problema. Disfarçar todo aquele concerto, pois para ela, o som de trompete enferrujado que ela emitia ou a sequência de mergulhos parecendo uma modalidade olímpica de esporte aquático, eram suficientes para alguém reconhecê-la.
– Ah, já está Suzaninha cagando na cabine!
Sua primeira estratégia foi levar folhas impressas que ficavam na sua mesa. Para ela, era genial. Nas várias tentativas que fazia, até ir em definitivo ã cabine, estaria com as mãos ocupadas com papel, dando entender que estava atarefada. De quebra, sempre que o peido saía, ela rasgava uma folha com entusiasmo. O segundo som era mais alto e abafava o apito do trem bosta que estava por vir. O mesmo quando o tolete caía em um mergulho carpado invertido. Rasgava uma folha e o barulho que se ouvia era esse. Pronto, solucionado o problema. Quer dizer na cabeça dela. Quem mais acharia barulho de papel sendo rasgado vindo de uma cabine de banheiro normal?
Mesmo assim, esse seu planinho teve de ser abortado. Em uma reunião, sua chefe disse que estava desconfiada que existia um espião na empresa, pois eram encontrados, com frequência, relatórios rasgados no banheiro. Pois é, uma funcionária complexada precisava ter uma chefe complexada para elaborar tal teoria absurda. Mas enfim, Suzainha precisava de uma nova técnica.
Agora ela usaria de duas técnicas juntas. Para abafar o som dos gases, ela arrastava a lixeira no chão, como alguém querendo ajeitar as coisas na cabine. Para os mergulhos, passou a adotar uma longa folha de papel higiênico dobrada boiando na água. Além de abafar o som, evitava que a água respingasse de volta na sua bunda. Isso era ótimo. Finalmente, depois de tanta luta para entrar na cabine, poderia soltar seus filhotinhos de forma discreta. Mesmo que parecesse uma dança das lixeiras na cabine.
O problema agora seria sair. Enquanto tivesse alguém no banheiro, ela ficava na cabine. Para isso, controlava cada movimento. Alguém abriu a porta, entrou na cabine, deu a descarga, e lá ia ela acompanhando os sons. Quando entravam mais pessoas, ela fazia um controle coletivo. Era quase um talento. Às vezes ficava uns vinte minutos, já aliviada, limpinha, vestida e agachada dentro da cabine, esperando a primeira brecha para sair.
Tudo veio abaixo em uma sexta-feira. Dona Jorginéia, uma senhora baixinha da faxina, entrou no banheiro para fazer a limpeza de fim de semana. Sempre com ela, seu rádio de pilha tocando o programa do Evanildo Orestes. Silvaninha entrou em pânico. Sabia que aquilo demoraria pelo menos uns trinta minutos.
Assim que entrou no banheiro, Dona Jorginéia foi para a primeira cabine soltar um xixizinho. Colocou seu rádio no chão, atrás da privada e se aliviou. Ao se levantar para iniciar a faxina, se sentiu mal, ficou tonta e saiu às pressas para o posto médico. Quando saía do banheiro, ao mesmo tempo, entrava outra pessoa. Não deu para Suzaninha perceber que foi uma troca. Nas suas contas apenas uma pessoa entrara naquele momento e agora eram duas no banheiro.
Depois que a segunda pessoa saiu, Suzaninha ainda contava com Dona Jorginéia lá dentro. Ainda mais com o rádio esquecido ligado atrás da privada. Naquele dia, Dona Jorginéia passara muito mal e foi levada para um hospital. Seu rádio permanecera esquecido ali.
Com o pânico instalado e a timidez gritando, Suzaninha foi incapaz de discernir o tempo absurdo que Dona Jorginéia supostamente demorava na cabine. Acabou ficando por lá até domingo pela noite, quando em uma crise súbita de coragem, saiu da cabine e foi direto para casa.
Depois desse dia, seu intestino voltou a ser aquela complicação de antes. O único saldo positivo foi que, por desatenção de pessoal dos recursos humanos, acabou ganhando uma boa grana em horas extras naquele final de semana de rainha sentada no trono. Mesmo sem fazer coisa alguma. Nem rasgando um relatório sequer.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Mais uma dose (shot 1.3)

Gôndola do dia seguinte (Efeito Walden)
     Entro pela porta do carona e rapidamente passo para o banco do motorista. Ela, parada com a mão na maçaneta, ainda do lado de fora, ri. Acena negativamente com a cabeça, dá a volta no carro, entra pela porta do carona e me entrega as chaves. Coloco-as na ignição, ligo o carro e pergunto: “Para onde, baby?”. Brincando de fazer cara de birra, ela apenas acena com as mãos como quem diz para seguir em frente.
     Saímos do condomínio, pegamos o único retorno disponível para cair na Avenida das Américas. Entramos em mais um retorno e, ainda pela mesma avenida, seguimos na direção da Zona Sul. Ela vai me orientando. Na realidade, ela apenas diz uma meia dúzia de vai seguindo em frente para depois falar que devo entrar na rua atrás da igreja. Andamos mais um pouco e paramos em frente a uma padaria. Vazia. Está abrindo. O cheiro do pão fresquinho é absurdo. Dá para sentir de longe.
     – Você vai adorar – Diz ela enquanto sai do carro. – Esse é o melhor pão que comi na minha vida!
     Faço uma nota mental de passar a ranquear os pães que como. Saio do carro e vejo uma farmácia do outro lado. Nela, uma pequena janela iluminada. Tem atendimento vinte e quatro horas. Digo para ela ir sentando na padaria que vou até a farmácia. Ela pede para que compre teste de gravidez. Paro no meio da rua e olho assustado para ela, que ri escandalosamente. Garota doida.
     Peço duas cartelas de Dipirona. O atendente me entrega, pago e vou para a padaria. Lá, ela está falando com o rapaz do balcão que toma nota do seu pedido. Interrompo.
     – Eles não têm KY – Digo eu, fazendo ambos me olharem estupefatos. – Mas me indicaram uma geléia de morango que além de escorregar tão bem quanto KY, as sementes do morango viram esfoliantes, tirando espinhas, cravos e badalhocas da sua bunda.
     O rapaz, visivelmente constrangido, deixa o caderninho no balcão e vai para o fundo da padaria. Ela precisa abaixar a cabeça de tanto rir. Perde o fôlego. Lacrimeja. Antes que possa falar algo, digo a ela:
     – Viu? Não é a única capaz de deixar os outros sem graça! Já pediu algo?
     – Claro que não! – Ela grita com um resto de fôlego. – O menino que ia anotar saiu daqui. Vai ver foi contar para o cozinheiro que você quer fazer da minha bunda o seu waffle.
     Ficamos rindo por mais alguns minutos. Ela é doida mesmo! Uma doida do bem. Gostei dela. Levanto-me, vou até uma geladeira, pego uma Coca-Cola para tomar o Dipirona. Pergunto se ela quer. Ela responde com uma pergunta. Odeio isso!
     – A Coca ou o remédio?
     – Escolhe!
     – Estou brincando – Diz ela acenando para que o menino ao fundo da padaria venha nos atender. – Não vou beber esse veneno cedo da manhã.
     – Olha, levando em consideração aquela vodka que bebi, acho que detergente seria limonada. – Logo após engulo dois comprimidos com um bom gole de Coca.
     O rapaz chega. Ela pede um pão na chapa, um café-com-leite e uma fatia de queijo minas separado. Eu peço um café puro em um copo grande de vidro, um Nescau gelado batido no liquidificador e um pão com ovo e queijo na chapa. O rapaz anota tudo e pergunta se queremos algo mais. Os dois respondem juntos:
     – A geléia de morango!
     Durante a espera ficamos jogando conversa fora. Coisas como vai fazer sol, observações sobre a padaria, preferência de remédios para dor de cabeça. Nada de muito especial. Confesso que estou incomodado. Foram tantas as surpresas nessa noite. Tantas informações incompletas que a insistência dela comigo me assusta. Também é possível que ela esteja me dando mole. Ela é bonitinha, engraçada, tem uma tatuagem pequena no pescoço e duas enormes bem coloridas, uma em cada braço. Mas ainda não sei ao certo qual é a dela. Prefiro deixar rolar.
     A comida chega. A fome é negra. Atacamos sem falar uma palavra sequer. O café puro quente desce rapidamente em três goles. Sem açúcar, nem adoçante. Precisava disso. O sanduíche acaba em cinco dentadas. O Nescau, bem cremoso, vai em duas etapas. Na primeira, rodando o copo, bebo apenas a espuma no topo. Já a segunda é composta de apenas um gole alvoroçado que é suficiente para esvaziar o copo por completo. Com uns cinco guardanapos na mão limpo a boca de forma brusca e rústica. Faço uma bolinha com eles, jogo dentro do copo e com as mãos no ombro dela digo:
     – Estou lá fora fumando um veneno!
     Saindo da padaria, já pego o maço, separo um cigarro, coloco na boca e acendo. Uma tragada para acender. Duas profundas, bem dadas, para relaxar. Nessa última, solto a fumaça bem devagar. Primeiro pela boca, depois o restante pelo nariz, levantando calmamente a cabeça para a direção do céu. Ele está azul, sem nuvens. Ao terminar de soltar a fumaça digo para mim mesmo em voz baixa: “Bom dia, sábado!”. Ela sai da padaria e fala:
     – Conversando sozinho, doido? – Sorrio e respondo.
     – Estou oficializando o início do dia – Esfrego os olhos com a região hipotenar das mãos. – Acabei de realizar que não vou conseguir dormir mais. Então, que o dia comece.
     – Mesmo sem o anterior terminar?
     – O anterior foi complicado – Encosto no capô do carro e pergunto. – Você pode me explicar o quê aconteceu?
     – Pode ser a versão resumida?
     – Pode!
     – Você chegou na festa muito louco, arrumou uma briga louca, bebeu uma loucura de bebida, ficou mais louco ainda, conheceu uma louca e aqui está! – Ela termina dando um pulinho com os braços abertos.
     Fico parado, sem expressão olhando para ela. Não pisco. Não mexo um músculo. Ela continua parada naquela posição metade Cristo Redentor, metade personagem de mangá. Isso demora quase dois minutos até que resolvo falar:
     – Você é uma demente!
     – Ei – Ela grita e ri. – Isso magoa!
     – Ahan, drama queen – Respondo com indiferença, jogando as chaves do carro para ela. – Vamos lá! Me leva para casa!
     – E como volto para minha depois, patrão?
     – De carro! – Digo apontando para o próprio.
     – Mas ele não é meu!
     – Não? – Pergunto enquanto entrava no carro. – Então de quem é?
     – Sei lá! Você que chegou com ele!
     – Eu? – Pergunto assustado. Sem encenações. Abro o porta-luvas, pegos os documentos e leio em voz alta. – Rodrigo Galeano Castrini. Rodrigo Galeano Castrini. Rodrigo...
     – Galeano Castrini – Ela me interrompe. – Já decorei! O que tem ele?
     – Não sei! Não sei quem é! – Enquanto falo, ela ri. Chega a engasgar.
     – Brigão, bêbado, aproveitador de desacordadas e agora ladrão de carros!
     – Não, porra! – Respondo rindo também. Mas acho que de nervoso. – Não sei quem é. Mas sei que não foi roubado.
     – E agora?
     – Ah, liga essa merda! Vai para sua casa que depois eu volto com ele para a minha.
     – Tá bom! Mais alguma coisa?
     – Sim! Como conseguiu as chaves se eu que cheguei com ele?
     – Elas caíram no chão na hora da briga e peguei.
     – Só isso que caiu?
     – Caiu um grampo de dinheiro também!
     – E cadê?
     – Como acha que paguei o nosso café-da-manhã?
     – Cretina – Exclamo para depois rir. – Vai! Dirige logo essa budega! E me devolve o grampo pelo menos.
     Ela prontamente faz o que peço. Reparo que está desfazendo o trajeto que percorremos para chegar até a padaria, mas pouco importa. A cabeça está voando longe. Acendo mais um cigarro. Ela faz uma pergunta.
     – Está querendo descobrir quem é o dono, não é?
     – Não faço a menor ideia ainda – Respondo rindo. Agora achando graça. – Nem me liguei que o carro poderia estar comigo. Aliás!
     – Aliás o quê?
     – Aliás – Faço uma pausa dramática. Proposital. Mas bem feita. – Por quê, raios, não vim com a minha moto?
     – Ah, se fode aí – Ela responde rindo – Algumas perguntas eu sei responder, outras não.
     – Mas então... – Ela não me deixar terminar.
     – Mas então coisa nenhuma. Chegamos. Tchau! Tchau!
     – Ei – Digo olhando ao redor – Esse é o condomínio de onde saímos!
     – Sim, eu sei – Ela responde saindo do carro.
     – Você mora na casa da festa?
     – Não! – Ela responde falando mais alto, já que está se afastando do carro. – Moro em uma casa no condomínio
     – E não vai me ajudar com as minhas dúvidas?
     – Sim! – Ela diz abrindo o portão do condomínio.
     – Mas quando?
     – Um dia! – Já está entrando no condomínio.
     – Mas como? – Estou gritando. – Não sei seu nome! Seu telefone! Nem você sabe os meus!
     – Vamos nos esbarrar – Ela berra de dentro do condomínio.
     – Como?
     – Sei lá!
     Ela some do meu campo de visão. Fico parado perdido. Tantas dúvidas. Tantas perguntas. Nem uma resposta sequer. Quero dizer, pelo menos sei que hoje é sábado. Em outras épocas desceria do carro e iria atrás dela até conseguir pelo menos a metade da história. Mas não tenho idade, nem paciência para joguinhos. Sou curioso e impulsivo, mas também sou experiente o suficiente para saber que esta merda que aconteceu aqui na Barra, vai morrer por aqui. E como nunca venho para Barra, o assunto está encerrado. Voltarei para casa.
     Chegando em casa, demoro um pouco para achar vaga na rua. Por isso que tenho moto. Estacionar no Catete já é um inferno. Imagine em um sábado. Deixo o carro em uma rua que fica a três quadras da minha vila. Entrando na vila, vejo a minha moto na estacionada na porta. Intacta e aparentemente sem um defeito que justifique precisar de um carro alheio. Nela, um bilhete:
     “Te procurei no bar, mas estava fechado! Em casa não está! Celular só fora de área! Pensei que faríamos algo hoje. Me liga estou preocupada. Te amo...”
     Entro em casa, pego o telefone e faço uma ligação. Ela atende, pela bina já sabe quem é. Diz um oi seco e rápido. Eu falo:
     – Ai, filha, desculpa. Seu pai é um merda. Depois te explico. Tudo que preciso agora é um banho e descansar.
     Desligo. Sento no sofá, apoio os braços sobre os joelhos e exclamo comigo mesmo: “Merda!”

domingo, 8 de janeiro de 2012

Poesia for dummies

Calha (Efeito Earlybird)
Eduardo

Seu nome é Eduardo!
Cara culto e educado.
Sofisticado,
letrado
e formado.
Com mestrado
e doutorado.
Fino e requintado.
Sarado,
malhado,
arrumado
e alinhado.
Não era viado.
Tão pouco afeminado.
Era um cara conformado
com seu estilo bem regrado.
Comportado.
Nunca tocado.
Praticamente encabaçado.

Esse poema foi sonhado
em uma soneca de sábado.
Dia que quebra o rimado,
mas precisava ser informado.

Se tivesse acordado
pouco além do combinado,
ele estaria acabado.
Ou quem sabe engraçado.
Agora está digitado.
Revisado.
Publicado.
Para sempre eternizado,
nesse blog malfadado.
O sonho foi registrado.
És um momento todo errado.
Nem dá para ser explicado.
Ou tão pouco recordado.
Meu pedido será dado
como ouvido e acatado.
Quero que seja ignorado.
esquecido, renegado.
Esse sonho sequelado,
deveria ser guardado
em um cofre reforçado
com senha e cadeado.
Só quero ficar isolado
repensando no Eduardo.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Mais uma dose (shot 1.2)

Garrafa azul (efeito Hudson)
 Acho que a única tragada que dei naquele cigarro foi a primeira. Uma tragada para acender e lá ficou ele acesso queimando na minha mão esquerda. Na direita, a garrafa intocada de vodka vagabunda. Por mais que estivesse com sede, seria muita estupidez dar outro gole naquela desgraça.
Fiquei olhando o quintal. Pelo canto do olho notei que ela ficava me encarando. Ignorei. Estava tão distante que o silêncio naquele momento não me incomodou. O cigarro continuava queimando. Do grupo de jovens que estava no meio do quintal, sai um garoto na direção da varanda. Alguém grita para ele: “Trás umas dez latinhas!”.
– Meu deus, eles vão beber mais ainda? – Perguntei em voz alta.
Ela riu, pude perceber. A menina deitada no colo do namorado encostado na árvore levantou a cabeça e pediu para o garoto trazer duas latinhas. Ele passou por mim fazendo uma corrente de ar que derrubou a cinza do cigarro sem apagá-lo, e entrou na cozinha. Acompanhei seu trajeto com o rosto e fiquei olhando para a porta esperando por ele. Menos de dois minutos depois ele sai carregando um monte de latinhas no colo como se fosse um bebê muito grande. Continuei acompanhando seu trajeto atentamente. Umas duas ou três latinhas caíram pelo caminho. O cigarro continuava queimando e a garrafa de vodka permanecia no mesmo nível.
Chegando ao grupo, a cena se parecia com caminhões de mantimentos no meio da África. Ele foi praticamente atacado por eles. Só sobraram duas latinhas. A menina se levantou do colo do namorado foi até ele, pegou as duas, dei um beijo no rosto dele e voltou para os pés da árvore. Fiquei ali parado acompanhando cada momento da cena. Desde o momento em que ele se levantou até agora, ali parado, todo molhado do suor das latinhas e de mãos vazias. Ele voltou para pegar uma das latinhas que caiu pelo caminho para beber. Ela sorriu rapidamente. Balancei negativamente a cabeça enquanto o cigarro chegava ao fim. A brasa, ao chegar perto do filtro, tocou meus dedos e me queimou. Joguei, por instinto, o cigarro longe e sacudi a mão por reflexo, exatamente quando nos queimamos. Senti dor. Não era da queimadura. Levantei a mão à frente do meu rosto e virei suas costas para meus olhos. Minha mão estava vermelha tendendo para roxa e um pouco inchada.
– É, mas ele mereceu – disse ela.
– Como? – Perguntei, enquanto ainda parado encarava a minha mão esquerda.
– O machucado! Foi por causa da briga! Veja a outra mão.
Assim que ela acaba de falar, olho para a mão direita. Tão machucada como a esquerda. Aliás, um pouco mais machucada que a esquerda. Sou destro.
– Que briga? – Pergunto, agora olhando para ela.
– Na realidade não foi uma briga – explica ela. – Para ser uma briga, assim como para ser um diálogo, são necessárias duas pessoas em ação. Aquilo foi uma surra! Um monólogo!
Não me lembro de coisa alguma. Até pouco tempo sequer sentia dor nas mãos. Fiquei preocupado. Só tinha moleque na casa. A faixa etária era entre 17 até 25 anos. Será que esmurrei um menino?
– Não esquenta – ela continuava falando. – Ele mereceu!
– Ele quem?
– O Vicente! Ele é um escroto!
– Não me diga que esse Vicente é um moleque de 17 anos – peço quase implorando por um não dela como resposta.
– Não! Galalau! Burro velho! Escroto toda vida!
Pelo visto ela não guardava bons sentimentos dele. Sua opinião seria tendenciosa. Pergunto se o cara ainda estava na casa, afinal era uma preocupação. Não sabia por qual motivo bati em alguém, tão pouco imagino como seria a cara dele. Se ainda estivesse na casa, não teria como evitar ser surpreendido por um revide dele.
– Ele saiu daqui carregado por dois amigos – disse ela. – Mas não sei dizer se eles voltam. Sabe como é esse pessoal, né?
– Como assim esse pessoal? Policial? Bandido? Viking?
– Não – ela grita e ri ao mesmo tempo. – Está com medinho?
– Conhece a história do não sei o motivo porque te bato, mas você sabe o motivo porque apanha? Então! Odeio ser a exceção da regra e acabar apanhando sem saber do que se trata.
– Relaxa – ela continua rindo um pouco – Eu quis dizer esse pessoal que só anda em grupinho. Playboys! Covardes! Gaivotas!
– Gaivotas? Você é doida – falo enquanto me levanto.
– Onde vai?
– O dia está amanhecendo – digo enquanto aponto para o céu acobreado ao fundo do quintal. – Vamos tomar café em uma padaria?
– E você sabe onde está?
Não sabia. Menor ideia. Que sensação horrorosa! Estou acostumado a acordar na minha cama sem me lembrar de como cheguei em casa. Às vezes tento, mas não consigo recordar como a pessoa ao meu lado foi parar ali também. Já tiveram momentos de sequer recordar como a noite anterior começou. Só que felizmente, para a minha sorte, isso sempre culminava comigo em casa! Local seguro, limpo, pacato e conhecido. Agora não sei onde estou, não sei como cheguei, não sei quem esmurrei, tão pouco o motivo. Tudo que sei é que vou sair dali para tomar café sabe-se lá onde na companhia dessa garota. Essa garota! Céus, nem o nome dela eu sei!
– Saint Tropez – diz ela.
– Seu nome é Saint Tropez?
– Meu nome? Sim, claro! Me chamo Saint Tropez da Silva – ela mesma se interrompe e começa a rir. – Como assim?
– Foi mal – coloco a mão no rosto de vergonha – Estava pensando aqui que sequer sei seu nome.
– Você está no Saint Tropez!
– Isso é um bairro? Parece bairro da Califórnia! Eu saí do Rio de Janeiro?
– Não – ela grita e ri novamente. – É o nome do condomínio! Você está no meio da Barra! Sorria, você está na Barra!
– Barra – solto um sorriso de canto de boca, meio que surpreso, meio que debochado. – Eu nunca vou para a Barra!
Ela se levanta, entra na cozinha primeiro do que eu e logo depois para. Coloca uma das mãos sobre a boca aberta e com a outra aponta para a bancada da pia. Está surpresa. Fica assim por alguns segundos, se vira para mim, ainda com uma das mãos sobre a boca e a outra apontada para a bancada e diz não acreditar no que está vendo. Faço cara de quem não está entendendo patavinas. E convenhamos, não estava entendendo patavinas, bulhufas e necas de bitibiriba. Então ela vai até a bancada e pega a garrafa azulada retangular. Ainda de boca aberta coberta por um das mãos e agora segurando a garrafa com a outra, ela fala: “Você bebeu tudo!”. Depois abaixa a cabeça, começa a rir e meio que exageradamente grita: “Você é doido!”.
Se antes já estava confuso na varanda, agora com uma garrafa a qual supostamente bebi todo o seu conteúdo desconhecido ficou melhor ainda. Pergunto para ela o que tinha na garrafa. Ela diz não saber e continua rindo. Acho que não dava para ela ser mais misteriosa ou vaga do que aquilo. Mesmo assim, passou por mim rindo e foi para a sala. Fui atrás. Confuso, é claro. E insisti em saber o que tinha ali. Ela responde:
– Não sei mesmo! Só sei que essa aí – disse enquanto apontava para a menina ainda desacordada atrás da mesa. – bebeu um bom gole antes de ficar assim.
Ela passa pela menina, abre a porta principal e fica ali a minha espera. Passo pela menina. O cheiro de vômito. É insuportável. Mesmo assim me aproximo e ajeito a blusa de tal forma que o peito ficasse coberto novamente. Depois me levanto e vejo que ela continua rindo para mim enquanto sai de vez da casa falando:
– Você deve ser um cara muito bonzinho mesmo!
– Que nada – respondo eu com cara de deboche. – Foi minha chance de passar a mão em um peitinho nesse fim de noite.
– Tem razão – ela concorda, rindo mais ainda. – Se fosse bonzinho mesmo, teria tentando acordá-la para saber se está bem.
– Ei – viro-me de volta para a casa e antes de entrar, ela me interrompe.
– Relaxa! Ela vai ficar bem. Você já a salvou do pior. Acredite!
– Como?
– Eu te conto no caminho – disse ela enquanto desarmava à distância o alarme de um Gol preto. – Entra aí que eu vou dirigindo.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Romantismo versus Resultado

Pornô impresso (efeito Valência)
 
Recentemente fomos bombardeados com comentários esportivos sobre o exuberante futebol apresentado pelo atual time do Barcelona. Comparações foram feitas com times e seleções de todas as épocas e nacionalidades. Citaram principalmente a máxima sobre o marco do fim do futebol arte depois do fracasso da seleção brasileira na década de 80. Dali para frente, o que importava era apenas o resultado e nada mais. Bastava chegar ao gol. Seja com “tabelinhas” ou “chuveirinhos”. Sendo cada vez mais comum a segunda opção. Esse time catalão seria uma ponta de esperança desde então. É um farol perdido no meio de um mar de mediocridade. Sem ele, é oficialmente o fim do futebol romântico e a consagração do futebol por resultado.
Não, este não será um post sobre futebol! Dentre as minhas metas para esse ano está a vontade de evoluir, ficando, entre várias decisões, cada vez mais indiferente sobre futebol. Só que isto é assunto para outro dia, não muito distante, mas que também não será esta semana. Esse início foi apenas para abrilhantar o anúncio do fim de outra era, tão semelhante e mágica como a que citei. É o fim da punheta romântica! É o início da punheta por resultado!
Imagino que uma pessoa ou outra, com o rosto corado, esteja pensando que o termo punheta será usado como metáfora para alguma coisa diferente da que a palavra realmente signifique. Não! Estou falando de o que de fato significa punheta. E é esta legítima ação que faz parte do universo masculino que perdeu seu ar romântico.
Lembro-me quando era moleque. Doze, treze anos. Era a idade saudável para um menino descobrir esta parte do corpo como algo além do final da calha da bexiga. Tínhamos o tempo do mundo, a energia que queríamos, mas faltava acervo. Ah o acervo era limitado. E quando disponível, ralo. Tão ralo quanto o esperma no final de um dia de masturbação ilimitada.
Na televisão era impossível. Não existia TV por assinatura. Filmes com apelos eróticos só os nacionais, mesmo assim depois de meia-noite. Além disso, por muitas vezes tínhamos que nos satisfazer com os seios da Ilza Carla, a bunda murcha da Regina Casé ou arbustos de candidatas à atriz que acabaram no ostracismo. Era complicado. Para piorar, os filmes nacionais eram tão ruins, que provocavam mais gargalhadas do que ereção. Não dava! A Smurfete de saia curta pelas manhãs era mais excitável.
O jeito era tentar revistas de nudez ou sexo explícito. Até que existia uma variedade considerável. O problema era convencer o jornaleiro a vender para um moleque da minha idade. Aliás, antes fosse apenas esse o problema. Eu era muito tímido. Só de me imaginar entrando na banca e parando em frente àquela estante cheia de revistas com plástico rosa me fazia suar frio. Imaginem retirar uma revista, mas depois ter de colocá-la de volta no lugar após ouvir do jornaleiro: “Ôh menino, você não tem idade para isto!”. Na realidade, na minha crise de timidez, o que se passava pela minha cabeça era o jornaleiro gritando: “Moleque punheteiro! Estás achando que vai comprar putaria? Vai porra nenhuma! Vou ligar para sua mãe!”. Só de digitar essas frases, tive uma crise contínua de sudorese descontrolada debaixo dos braços.
Nada nos ajudava! Era necessária muita imaginação. Daí vinha todo o romantismo da época. Fetiches com a vizinha que ia para a piscina do prédio com biquíni decotado. Irmã mais velha daquele amigo do futebol. As paquitas te dando palmadas, mas depois pedindo para levar umas também. Valia de tudo. Teve época que imaginava apenas uma prateleira cheia de bundas e peitos. Nada de corpos inteiros. Apenas bundas e peitos que sacudiam conforme a coisa ficava mais animada. Mas acho que isso era um reflexo do movimento do cérebro durante tanta agitação. Se é que me entendem.
Certa vez a empregada do vizinho saiu do banho sem toalha. Nuzinha, como dizia meu avô. Acho que foi uma cena de dois segundos. Céus, que dois segundos intermináveis! Eles duraram meses na minha imaginação. Fiquei vários dias de tocaia tentando capturar novas imagens, mas nada! Nos primeiros dias bastava imaginar a cena que era suficiente. Depois ficou entediante e precisei incrementar com alterações artísticas. Inicialmente, acrescentei ela se virando para mim e mandando beijinhos. Acho que essa imagem durou umas duas semanas. Depois ela não passava mais andando, e sim dançando Can Can. Essa foi de efeito curto. Acrescentei uma bandeira com meu nome escrito sendo segurada pela mão esquerda e um pompom na mão direita. Depois foi um pompom em cada mão e a bandeira presa na bunda. Foram várias alterações. Precisava de material! A última lembrança foi com ela dançando Can Can, cercada de anões jogando confete ao som de Lhamas cantantes. Acabou o sonho da empregada saindo do banho.
Hoje em dia com internet tudo ficou mais fácil para a molecada. Nem precisa mais de banca de jornal, tão pouco de TV a cabo. Existe site para tudo. É sério! Basta procurar. Perdeu a graça. Enquanto naquela época, a rápida cena de uma mulher andando pelada pela sala era idolatrada como o Santo Graal, hoje é possível conseguir milhares de fotos ou vídeos. Famosas, amadoras, lhamas cantantes. Acabou o romantismo da punheta. Agora é punheta por punheta. Enquanto antes era necessário todo um esforço (não apenas físico), hoje é apenas ligar o computador e abrir as calças. Perdeu a graça.
Um fato agravante sobre isso pode ser constatado em qualquer site de vídeos de sacanagem. Cada vídeo tem no máximo três minutos. Não adianta mais a cena do vendendor de Tupperware que é assediado pela dona da casa. Secretárias sendo sodomizadas pelos gerentes perderam a graça. Bailes de carnaval com seis pessoas encenados no quarto do diretor do filme que viravam autênticos bacanais não fazem mais efeito. Hoje o vídeo já começa direto no show do intervalo. Somente os melhores momentos! E se o vídeo com três minutos é suficiente, é sinal de que basta apenas o resultado.
Da minha geração surgiram várias pessoas com imaginação fértil e habilidosas capacidades de criar cenários e momentos para se fazer sacanagem. Já esta geração será composta por milhares de ligeirinhos que se satisfazem com 15 minutos, pois com este tempo dá para fazer muita coisa e ainda sobra tempo para ficar abraçado.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Desejos para 2012 - Parte I

Máquina antiga (efeito Kelvin)


Pretendo, mesmo que tardiamente, elaborar dois posts sobre meus desejos para 2012. Um (este) será focado na parte literária, tanto livros que gostaria de ler este ano, quanto minha própria produção. O segundo (ainda nesta semana), será mais para a parte visual. Filmes, séries, programas, qualquer coisa do tipo. Vamos ao foco deste post, começando pelos livros de autores que nunca li.
No topo da lista está Buckowski. Apesar de ser um autor muito mais cultuado nos EUA que no restante do mundo, tenho uma enorme curiosidade sobre seu trabalho. Não ouso compará-lo com outro autor, até porque nunca li uma linha dele, mas tenho a impressão que gostarei pelos mesmos motivos que gosto de Nelson Rodrigues. Não sei por qual título começar! E dispenso conselhos sobre, isso só me causa ansiedade. De qualquer forma, acho que ele terá uma grande influência na linha do que pretendo focar este ano em produção (mais à frente, entro em detalhes).
Ainda na lista de autores nunca antes explorados por quem vos fala está Stephen King. Sim, acreditem, nunca li uma linha dele. Assim como me envergonho de ser um nerd que não gosta de Star Wars, Star Trek e Matrix, assumo minha vergonha por nunca ter lido Stephen King. Mesmo sendo fã de vários filmes baseados em suas obras. Contudo, isto não significa que li, necessariamente, algo dele.
Para esse autor em específico, já fiz uma pequena pilha de títulos a ler. Desde os mais clássicos até os mais, digamos assim, Lado B. São eles: Christine, Buick, It, A Incendiária, Colheita Maldita, Cujo e A Mulher do Quarto. Espero que goste para, enfim, poder me deliciar com a interminável saga A Torre Negra.
Existem títulos de autores que nunca li antes que constam na minha lista, mas não são o caso de querer me aprofundar em suas obras. Trata-se apenas do desejo de conhecer aquele título e só. Não descartando é claro a possibilidade de criar uma afinidade e começar a procurar mais coisas do mesmo autor. É como ir ao show The Wall. Aquilo é um clássico. Toda pessoa deveria presenciá-lo pelo menos uma vez. Mesmo que por DVD. Se depois disto, você está suficientemente envolvido e quer procurar pelos álbuns Dark Side of the Moon e Division Bell, já é uma consequência não prevista. Nesta lista de futuras leituras de autores que nunca toquei tenho clássicos como O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Bronte), nomes não tão conhecidos como A Chave de Michelangelo (S.U.Amorim), farofa moderna como As Esganadas (Jô Soares), coisas mais técnicas como O Andar do Bêbado (Leonard Mlodinow), o tão desejado há anos Bufo e Spallanzi (Ruben Fonseca), entre outros que estão listados em algum pendrive perdido entre gavetas.
Além desses, existem outros títulos de autores que já tenho certa “intimidade” e estou cada vez mais familiarizado com suas obras. Entre eles: Crônicas Saxônicas e Stonehenge do excelente Bernard Cornwell, O Gene Egoísta de Richard Dawkins e o clássico Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas. Em especial, dessa lista, destaco A Menina sem Estrela de Nelson Rodrigues. Motivado pelo desejo de conhecer Buckowski, estou determinado a me aprofundar no chamado Mundo Nelson Rodriguiano. Pretendo caçar o máximo de contos, títulos, textos espalhados, tudo. Esse vai ser o ano destes dois. Vai ser um ano sujo!
Já na parte de produção, pretendo manter algo a partir de 3 posts por semana. Sem cobrança de conteúdo, formato ou assunto. Além disso, pretendo escrever meu primeiro livro este ano ainda. Mas calma! Não tenho a pretensão de publicá-lo. Quero apenas encerrar por inteiro o processo de elaboração. Aceitação por uma editora, mais lançamento já é outra coisa. Isso se eu achar que vale a pena.
Este livro não será de crônicas ou contos breves. Não! Fazer isso seria muito fácil. Bastava reunir vários arquivos espalhados por aí e juntar. Não! Vai ser um romance. Ou novela. Tanto faz. Será uma coisa única com início, meio e fim. Um ínfimo pedaço eu publiquei no post anterior. A ideia será criá-lo em pedaços pequenos os quais, quando lidos separadamente, possam parecer contos breves com relativa independência. Entretanto, quando reunidos, formariam uma coisa concisa e conexa. Não sei até quando conseguirei manter o padrão de pedaços pequenos independentes. De qualquer forma, manterei no título uma referência para, caso alguém esteja lendo, não se perca. Só não falarei muito sobre o que pretendo escrever, mesmo sendo uma sinopse, pois está em processo de evolução. Vamos ver para que direção andará.
Acho que é isso... Para semana coloco a segunda parte dos planos para 2012 conforme prometi no primeiro parágrafo.