quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

E se fez o espaço

     Apesar de nunca ter assistido um capítulo sequer de Pokemon ou Digimon, possuo o hábito de falar para as pessoas evoluírem. Em casos extremos, quando a pessoa não somente é atrasada em relação a algo, como ainda é teimosa, o singelo pedido vira ordem na forma de: “Evolua, filho da puta!”.
     Pois bem, nem por isso me considero em uma posição privilegiada onde posso tirar apenas proveito de pedir e/ou mandar os outros evoluírem. Nem um pouco. Tenho muita coisa, sabidamente, para evoluir. E este é o propósito deste post.
     Acho que de todas as etapas de evolução que passei, a mais recente foi a mais penosa. Também foi a que mais demorei a tomar coragem e iniciar. Ainda assim, é a que tenho mais orgulho. Não mais acumulo coisas. CDs, DVDs, livros, quinquilharias. Tudo fora. Por oito sábado mantive uma barraca na Feira da Praça XV e vendi tudo que tinha acumulado. Acabou. Tenho agora um enorme espaço vazio.
     Tinha um grande orgulho da minha diversificada biblioteca. Vendida! Meu acervo de DVDs com documentários, filmes europeus e filmografias completas. Vendido! Meus CDs que mostravam a minha passagem por vários estilos até chegar meu gosto musical atual. Vendidos. Meus quadrinhos que foram responsáveis pela minha formação como leitor apaixonado e devorador de cultura pop. Vendidos!
     Lendo somente até este ponto, pode ficar a impressão de que evoluí no quesito de não mais acumular coisas, gerando espaço e facilidade para futuras mudanças de endereço. Entretanto, como consequência teria passado ao mesmo tempo por um processo de regressão em outro aspecto. Naquele momento, me tornaria um imbecil. Sem cultura alguma. Nada de livros, músicas, filmes etc. Só que era exatamente esta consequência imediata que me fez tanto pensar em como tomar a decisão de iniciar o tal processo de evolução. E a solução veio em uma palavra que pesa menos de três quilos: IPad! É impressionante como um simples aparelho foi capaz de substituir várias prateleiras, estantes e armários sem a possibilidade de perda.
     A parte da leitura está sendo substituída aos poucos. Com raras exceções de um título ou outro mais difícil de se encontrar (mesmo que impresso), quase todos os outros possuem versões digitais disponíveis. E boa parte já foi adquirida! A vantagem? Espaço livre! A segunda vantagem? O fim daquelas coleções combinadas, nas quais temos uma biblioteca e com ela colecionamos traças, mofo, alergias e rinites. E não posso esquecer dos gibis. Todos os que costumava consultar com frequência já estão aqui. Inclusive a coleção completa da Turma do Snoopy (Complete Peanuts 1950-2000) que tanto vibrei pelo Twitter nesse início de semana.
     É bem possível que alguma pessoa presa a velhos hábitos (eu sou em alguns, mas estou evoluindo) possa retrucar dizendo que ler um livro não é a mesma coisa que ler em um IPad. Claro que não é! Concordo na hora. Ler no IPad é muito melhor! As páginas não ficam marcadas, nas faz orelha, a brochura não desmancha. Mas e o conforto? É mais leve que a maioria dos livros que possuo. Não preciso ficar segurando com ambas as mãos para não fechar. E, enquanto como, faço anotações ou qualquer coisa que precise do livro sobre a mesa, não é necessário o uso de pesos para segurar as páginas. Não tem do que reclamar. Evolua!
     Sobre os CDs, convenhamos que se trata de uma mídia morta há muito tempo. Depois do binômio MP3 e Ipod, não fazia mais sentido acumular aqueles discos cheios de arranhões, em caixas de acrílico que, ou estavam quebradas nos pinos que fazem o movimento de abrir e fechar, ou estavam quebradas nos “dentes” da parte de dentro que segura o CD. Sem falar nos encartes todos rasgados e amassados porque não entravam corretamente no case. Melhor pular de assunto.
     Sobre os DVDs, a coisa não somente é mais prática e óbvia, como também mais barata. Salve o combo: Ipad, internet de alta velocidade e Netflix. Filmes disponíveis para você a qualquer hora e por um valor mensal que equivale à compra de 1 (apenas um) DVD. Existe a possibilidade de alguém reclamar que se perde o charme de pegar a caixa e ler as informações no encarte. Ora, para isso existe um maravilhoso aplicativo no mesmo IPad para acessar diretamente o banco de dados do fenomenal IMDB. Por ali, não somente teremos as informações tão necessárias do encarte, como outras que nem sonhava em obter. Ora, mas ainda assim tem gente dizendo que o acervo do Netflix não é lá essas coisas. Sim, de fato o acervo brasileiro é nível Sessão da Tarde, mas estou falando da Netflix americana. O acervo é monstro! Daí irão admitir que o acervo americano é impressionante, mas não tem legenda. Tem legenda, sim! Só que é legenda em inglês. Não manja? Evolua, filho da puta!
    Resultado final, com o saldo positivo da venda de todo o meu acerto, ganhei espaço, independência sobre as coisas materiais e recursos suficientes para comprar tudo que fosse necessário para repor as vendas. Isto é, atualmente, tenho praticamente tudo que possuía antes, mas com dois detalhes a mais: espaço e um aparelho eletrônico sensacional que ainda pode ser útil em outras tarefas. Evolução é tudo!