terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Romantismo versus Resultado

Pornô impresso (efeito Valência)
 
Recentemente fomos bombardeados com comentários esportivos sobre o exuberante futebol apresentado pelo atual time do Barcelona. Comparações foram feitas com times e seleções de todas as épocas e nacionalidades. Citaram principalmente a máxima sobre o marco do fim do futebol arte depois do fracasso da seleção brasileira na década de 80. Dali para frente, o que importava era apenas o resultado e nada mais. Bastava chegar ao gol. Seja com “tabelinhas” ou “chuveirinhos”. Sendo cada vez mais comum a segunda opção. Esse time catalão seria uma ponta de esperança desde então. É um farol perdido no meio de um mar de mediocridade. Sem ele, é oficialmente o fim do futebol romântico e a consagração do futebol por resultado.
Não, este não será um post sobre futebol! Dentre as minhas metas para esse ano está a vontade de evoluir, ficando, entre várias decisões, cada vez mais indiferente sobre futebol. Só que isto é assunto para outro dia, não muito distante, mas que também não será esta semana. Esse início foi apenas para abrilhantar o anúncio do fim de outra era, tão semelhante e mágica como a que citei. É o fim da punheta romântica! É o início da punheta por resultado!
Imagino que uma pessoa ou outra, com o rosto corado, esteja pensando que o termo punheta será usado como metáfora para alguma coisa diferente da que a palavra realmente signifique. Não! Estou falando de o que de fato significa punheta. E é esta legítima ação que faz parte do universo masculino que perdeu seu ar romântico.
Lembro-me quando era moleque. Doze, treze anos. Era a idade saudável para um menino descobrir esta parte do corpo como algo além do final da calha da bexiga. Tínhamos o tempo do mundo, a energia que queríamos, mas faltava acervo. Ah o acervo era limitado. E quando disponível, ralo. Tão ralo quanto o esperma no final de um dia de masturbação ilimitada.
Na televisão era impossível. Não existia TV por assinatura. Filmes com apelos eróticos só os nacionais, mesmo assim depois de meia-noite. Além disso, por muitas vezes tínhamos que nos satisfazer com os seios da Ilza Carla, a bunda murcha da Regina Casé ou arbustos de candidatas à atriz que acabaram no ostracismo. Era complicado. Para piorar, os filmes nacionais eram tão ruins, que provocavam mais gargalhadas do que ereção. Não dava! A Smurfete de saia curta pelas manhãs era mais excitável.
O jeito era tentar revistas de nudez ou sexo explícito. Até que existia uma variedade considerável. O problema era convencer o jornaleiro a vender para um moleque da minha idade. Aliás, antes fosse apenas esse o problema. Eu era muito tímido. Só de me imaginar entrando na banca e parando em frente àquela estante cheia de revistas com plástico rosa me fazia suar frio. Imaginem retirar uma revista, mas depois ter de colocá-la de volta no lugar após ouvir do jornaleiro: “Ôh menino, você não tem idade para isto!”. Na realidade, na minha crise de timidez, o que se passava pela minha cabeça era o jornaleiro gritando: “Moleque punheteiro! Estás achando que vai comprar putaria? Vai porra nenhuma! Vou ligar para sua mãe!”. Só de digitar essas frases, tive uma crise contínua de sudorese descontrolada debaixo dos braços.
Nada nos ajudava! Era necessária muita imaginação. Daí vinha todo o romantismo da época. Fetiches com a vizinha que ia para a piscina do prédio com biquíni decotado. Irmã mais velha daquele amigo do futebol. As paquitas te dando palmadas, mas depois pedindo para levar umas também. Valia de tudo. Teve época que imaginava apenas uma prateleira cheia de bundas e peitos. Nada de corpos inteiros. Apenas bundas e peitos que sacudiam conforme a coisa ficava mais animada. Mas acho que isso era um reflexo do movimento do cérebro durante tanta agitação. Se é que me entendem.
Certa vez a empregada do vizinho saiu do banho sem toalha. Nuzinha, como dizia meu avô. Acho que foi uma cena de dois segundos. Céus, que dois segundos intermináveis! Eles duraram meses na minha imaginação. Fiquei vários dias de tocaia tentando capturar novas imagens, mas nada! Nos primeiros dias bastava imaginar a cena que era suficiente. Depois ficou entediante e precisei incrementar com alterações artísticas. Inicialmente, acrescentei ela se virando para mim e mandando beijinhos. Acho que essa imagem durou umas duas semanas. Depois ela não passava mais andando, e sim dançando Can Can. Essa foi de efeito curto. Acrescentei uma bandeira com meu nome escrito sendo segurada pela mão esquerda e um pompom na mão direita. Depois foi um pompom em cada mão e a bandeira presa na bunda. Foram várias alterações. Precisava de material! A última lembrança foi com ela dançando Can Can, cercada de anões jogando confete ao som de Lhamas cantantes. Acabou o sonho da empregada saindo do banho.
Hoje em dia com internet tudo ficou mais fácil para a molecada. Nem precisa mais de banca de jornal, tão pouco de TV a cabo. Existe site para tudo. É sério! Basta procurar. Perdeu a graça. Enquanto naquela época, a rápida cena de uma mulher andando pelada pela sala era idolatrada como o Santo Graal, hoje é possível conseguir milhares de fotos ou vídeos. Famosas, amadoras, lhamas cantantes. Acabou o romantismo da punheta. Agora é punheta por punheta. Enquanto antes era necessário todo um esforço (não apenas físico), hoje é apenas ligar o computador e abrir as calças. Perdeu a graça.
Um fato agravante sobre isso pode ser constatado em qualquer site de vídeos de sacanagem. Cada vídeo tem no máximo três minutos. Não adianta mais a cena do vendendor de Tupperware que é assediado pela dona da casa. Secretárias sendo sodomizadas pelos gerentes perderam a graça. Bailes de carnaval com seis pessoas encenados no quarto do diretor do filme que viravam autênticos bacanais não fazem mais efeito. Hoje o vídeo já começa direto no show do intervalo. Somente os melhores momentos! E se o vídeo com três minutos é suficiente, é sinal de que basta apenas o resultado.
Da minha geração surgiram várias pessoas com imaginação fértil e habilidosas capacidades de criar cenários e momentos para se fazer sacanagem. Já esta geração será composta por milhares de ligeirinhos que se satisfazem com 15 minutos, pois com este tempo dá para fazer muita coisa e ainda sobra tempo para ficar abraçado.