segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Uma piada suja, errada e sem graça

Sesta (Efeito Hudson)

     No último sábado, enquanto voltava para casa, aventurei-me a ouvir o jogo do Flamengo pelo rádio. Confesso que tem tempo que não faço algo do tipo. E, também admito, que trata-se de algo que sempre gostei. Mesmo estando no estádio, ou vendo em casa pela televisão, o rádio sempre ficava “na orelhinha” ligado na Rádio Globo. Parei por causa do tal delay. Enquanto no rádio o jogador estava comemorando o gol, na televisão aberta ele ainda não tinha chutado e, sequer recebido a bola, na televisão por assinatura. Não dava. Era confuso e sem graça. Fiquei apenas com a televisão.
     Voltando ao sábado. Como estava dirigindo, não tinha muitas opções. Ou era isso, ou era ficar alienado à partida. Optei pelo rádio e, por ser no carro dos meus pais, ficou sintonizado na Tupi, pois era a que estava programada. Enfim, rádio sintonizado, partida rolando, tudo para me distrair. Certo? Errado!
     É verdade que com o passar do tempo a transmissão da Rádio Globo começou a ficar com um tom mais solto, divertido, mas sem perder o lado profissional de informar de forma clara sempre. E o principal, era um dos poucos ambientes nos quais os comentaristas, pelo menos, tentavam analisar as formações das equipes, o desenrolar da partida e por aí vai. Pois bem, na Rádio Tupi o comentarista (não sei o nome do pobre profissional) é tudo, menos comentarista de futebol.
     A primeira impressão é que se trata de um daqueles nerds gordinhos nervosos atrás dos teclados, que com seus dedos engordurados de Cheetos, destilam toda a sua ira pela proteção intocável do mundo virtual. Ele não comenta, não analisa, não faz a leitura do jogo, apenas critica todo mundo. Não existe jogador com um mínimo talento. Todo indivíduo em campo possui uma característica negativa que precisa ser grifada a qualquer custo. Fominha, pé-torto, fora de forma, burro, fraco, basta escolher um adjetivo não elogioso. Fala de forma colérica, impaciente e, algumas vezes, desgosto, quase como se estivesse contrariado por estar lá.
     Não bastasse isso, ainda temos a maneira como ele se expressa. Palavrões são constantes. Assumo que sou arbitrariamente desbocado, inclusive em sala de aula. Mas não é por isso que iremos considerar normal ou aceitável que um “profissional” de rádio use a palavra porra para pontuar frases ou dar ênfase em exclamações. E, ainda assim, se não fosse o uso do esperma como artifício gramatical, temos, para compensar, a falta de concordância ou uso correto de tempo verbal. Posso até estar sendo injusto, afinal, não sabemos se o comentarista é fruto da lei que não exige diplomados para exercer a função. Ou sequer se é produto do excelente sistema de alfabetização público inspirado no modelo econômico do ex-presidente o qual reduzia o uso do “s” ao final das palavras como estilo de locução. Mas o fato é que ele não domina muito bem o português. Quem sabe o brasileiro...
     Satisfeitos? Muito? Ah, mas esperem um pouco! Pois iremos juntar tudo isso e acrescentar à tendência Thiago Leifert de ser sempre engraçadinho para suprir a falta de informação. Exatamente! Como não fosse suficiente o nobre comentarista ser um exemplo de como não atuar, ele ainda se aventura no campo dos comentários cretinos e inoportunos. Substitui a informação por trocadilhos infames e/ou deixas que, como o próprio nome diz, deveriam ser deixadas, mas são usadas como pontes.
     Infelizmente, como estava dirigindo, não pude fazer anotações como de hábito (sou muito esquecido). Logo, detalhes sórdidos ficarão perdidos. Uma pena! Afinal, recordo-me que teve um momento que em uma única frase ele começou com um palavrão, matou a língua portuguesa e fez uma piada tão ruim que foi cortado pelo locutor com um fúnebre: “Pois é...”.
     Pois bem, antes que me eternizem como um velho ranzinza amargo, fato que sou assumido, preciso dizer que nada tenho contra pessoas desse tipo. Até gostaria de ter, mas a lei do desarmamento não me permite mais. Enfim, só gostaria que cada um ocupasse o seu devido espaço. Na rádio, um veículo extremamente peculiar, no qual apenas o áudio será usado para desenhar a partida, cada palavra emitida seja devidamente usada para ilustrar o que se passa de fato. Não precisa ser sério como a Voz do Brasil, entretanto, não precisa beirar o Zorra Total. E quanto aos problemas gramaticais, bem isso é algo que envolve RH e processos seletivos nada minuciosos. Vai além do meu pensamento.