domingo, 3 de abril de 2016

Histórias reais inventadas por mim

Cafajeste
Naquele primeiro momento não entendi ao certo qual era o intuito da corretora de imóveis ao me alertar sobre certo Leleco. Tantas coisas mais importantes para ela comentar, mas preferiu por dizer que na vizinhança tinha tal de Leleco que era um cafajeste. Preferia que ela tivesse me alertado sobre a feira de rua que acontecia toda terça. Sim, feira de rua em dias de semana são coisas que não devem ser apenas comentadas, precisam ser alertadas com antecedência. Ela não falou sobre, daí, na minha primeira semana morando aqui na Rua Jorge Rudge, uma rua conhecida de Vila Isabel, fiquei presa na minha própria garagem, proibida de sair de carro para trabalhar. Eram oito e quinze da manhã e deveria estar cruzando a Linha Vermelha rumo à Nova Iguaçu. Só que não! Estava negociando com tal de Belmiro a possibilidade de mover sua barraca de tomates para que pudesse sair com meu carro.
- Não vai rolar, não, madame – ele respondeu em definitivo. – E por mais que chegasse para o lado, você nem ia conseguir andar dois metros. Olhe quanta barraca! Olhe como está estreita a rua. Mal passam dois velhotes com carrinhos de feira ao mesmo tempo.
Ele tinha razão. Precisava de uma nova solução então. Ir de taxi estava fora de cogitação. Sou diretora da empresa, mas não sou rica. Até porque, se fosse, não moraria em Vila Isabel, mas na Tijuca. Existia a possibilidade de ir boa parte do caminho de trem e depois continuar de taxi. Que horror! Já me basta morar em Vila Isabel, agora tenho de andar de trem? Ficarei em casa e farei home office.
Como estava arrumada, aproveitarei para ir à padaria da esquina e tomar café. Não é a cafeteria da empresa, mas ao menos não vou sujar a louça de casa. Confesso que a ideia até foi divertida. Os olhares dos feirantes e vizinhos, os comentários e gracejos me fizeram bem ao ego. Carne nova na área. Estar com quarenta anos de idade e divorciada há um mês arrebenta com a estima de qualquer mulher. Preciso dizer que não tenho problemas com autoestima. Seja baixa, seja alta. Tenho consciência que sou uma mulher de quarenta, não mais uma garotinha. O fato é que me cuido, estou muito bem em forma e chamo a atenção. Tanto que os amigos do maldito do meu ex-marido estão me cercando doidos para me comer. Não vou fazer isso por vários motivos. Primeiro que o cadáver ainda está quente e, se eles não têm respeito pelo próprio amigo, eu ainda tenho este sentimento respeitoso por ele. Segundo, não sou piranha de ficar dando para todo mundo por aí. Terceiro, convenhamos, já passei da fase de aventuras. Talvez, neste momento, tudo que eu precise seja um período amoroso sabático.
Fiquei uns dez minutos na padaria e sequer o café recebi. Preciso dar um desconto porque, desses dez minutos, seis foram gastos para tentar explicar para a atendente que canoa é um termo muito comum para pão na chapa. Essa minha mania de querer ampliar o conhecimento alheio ainda vai me envelhecer precocemente. A espera pelo café e a canoa até que estava sendo agradável. Apesar de ser uma padaria pequena, fiquei analisando vários produtos que poderia comprar por ali em alguma emergência. Eles têm até alguns produtos de limpeza.
- BOM DIA, MEUS QUERIDOS!
Minha nossa senhora, que horror! Um homem acabara de entrar na padaria falando alto. Coisa desnecessariamente espaçosa. Típico de gentinha da Zona Norte. O pior foi a surpresa quando me virei e vi exatamente o oposto da imagem que tinha em mente. Era um homem bonito. Devia ser um pouco mais velho que eu. Alto, olhos claros, cabelos cheios e sedosos também claros, sem falar de um sorriso interessante. Mesmo assim tudo se estraga em segundos, não é mesmo? Ele estava de chinelos, bermuda e sem camisa. Minha gente! Os apartamentos por aqui são tão baratos, como não sobra dinheiro para comprar discernimento e bom gosto? Estava muito mal acostumada com a vida de casada no Flamengo. Esse negócio de dar dois passos para trás para pegar impulso depois do divórcio não foi uma boa. Sabia que deveria ter escolhido algo em uma área mais nobre. Fechando a cena com chave-de-ouro, os outros funcionários responderam com mais falatório alto. Uma algazarra desnecessária, mesmo se não fosse tão cedo. Quando pensei em falar para o atendente que o meu seria para viagem, assim comeria em casa longe daquele escarcéu, ele se vira para o homem e pergunta se seria o de sempre. Ao final da pergunta ele usa o vocativo Leleco:
- Ah Leleco – exclamei em voz alta como quem conclui que só poderia ser ele.
- Desculpe – ele ouviu e se aproximou para falar comigo. – Você me chamou?
- Eu? Não! Impressão sua!
- Vai ver foi – ele se aproximou mais um pouco. – Nos conhecemos?
- Não, não nos conhecemos. Nem tem uma semana que me mudei para esta rua.
- Tem razão – ele fez uma pausa e deu uma longa e detalhada conferida em mim da cabeça aos pés. – Com certeza me lembraria de você, broto.
Naquele momento, tudo que queria era ligar para a corretora. Precisava falar para ela que tinha conhecido o tal Leleco e que não concordava com ela. Não, ele não era cafajeste. Não! Não mesmo! Ele era cafona! Cafona, não! Piegas! Sim, piegas! Clichê! Quem usa o termo broto em pleno ano de 2016? Isso era coisa de vocabulário do falecido Armação Ilimitada. Broto não é usado nem mais pelo Evandro Mesquita.
Com seu sorriso que já tinha notado logo de início, ele se apresentou. Leleco. Brinquei perguntando que mãe colocaria aquele nome em uma criança e ele levou na esportiva bem demais. Usou a deixa para falar que seu nome era Alexandre, mas insistia em Leleco porque era a marca de roupa de praia que ele vendia. Claro! Leleco, o cafajeste do bairro, vendia biquínis e maiôs. A deixa perfeita para ver a mulherada trocando de roupa, elogiar seus corpos e comer, no mínimo, um terço da clientela. Ele criara uma nova categoria para o termo clichê.
- Você deveria ao menos tentar – ele falou quando sinalizei que não tinha interesse em conhecer sua nova linha. – Não precisa comprar. Quero apenas que entenda o que vou lhe falar. Até mulheres que têm um corpo bonito como o seu, quando experimentam um biquíni apropriado para o seu corpo, cor de pele e cabelos ficam estonteantes. É algo como uma massagem tailandesa no ego. Deixe-me fazer isso só para que entenda. Como disse, não precisa comprar. Sequer ligarei a minha máquina de cartão. Aposto que será uma manhã maravilhosa para você.
O cachorro era um baú sem fundo de cretinices. Já não iria trabalhar mesmo, topei então participar da brincadeira dele. Eu precisava apenas ter o controle da situação. Sugeri que levasse as peças para prová-las na minha casa. Ele topou imediatamente com aquele sorriso indecente no rosto e meia hora depois lá estava ele com uma bolsa enorme. Eram biquínis e maiôs de todas as cores, estampas e modelos. Pedi que nem perdesse o tempo com maiôs. Eu queria colocar os biquínis e esfregar meu corpo na sua cara. Não literalmente, claro! Apesar de ele ser uma gracinha, não daria esta vitória. A ideia era fazer dele o que fazia provavelmente com as outras mulheres.
Já tinha experimentado uns oito modelos e era sempre a mesma cena. Saía do quarto, ele me olhava pasmo, tentava disfarçar e depois disparava um elogio tão cafona que não colaria sequer com as meninas da minha recepção. Coloquei então um todo preto com uns detalhes metálicos puxados para o dourado o qual a parte de baixo era muito pequena. Nunca tinha usado um fio dental tão cavado. Estava me sentindo uma deusa e ele confirmou assim que viu. Pela primeira vez, ficou sem palavras. Quando voltou a falar, disse que estava torto. O cretino queria uma desculpa para passar a mão na minha bunda. Tadinho. Eu estava totalmente no controle da coisa e ele se achava capaz de tirar proveito de algo.
- Claro – virei-me para ele que se levantou do sofá. – Pode ajeitar.
De mão cheia, ele reposicionou o fio dental. Dava para perceber que ele queria tocar em mim, mas suas mãos tremiam de ansiedade. Um ordinário daqueles não fica nervoso. Empinei exageradamente minha bunda para ele e perguntei como ficou. Mais uma vez sem palavras, ele apenas se limitou a apontar para o espelho da sala como quem diz para ver por si próprio. Na virada então para o espelho dei uma esfregada proposital com a minha bunda em sua perna. Pelo volume, ele ficou excitado. Muito!
- Broto, não faz isso comigo – ele disse se aproximando.
- Não diga broto, por favor!
Afastei o Leleco apoiando a minha mão estrategicamente sobre seu pau. Ele estava muito duro e acabei o segurando com vontade por cima das calças. Leleco enlouqueceu e tentou uma nova aproximação. Apertei seu pau com mais vontade e neguei. Ele tentava encostar em mim enquanto eu reagia falando que não e apertando seu pau. O puto estava cada vez mais fora de si. Não conseguia me beijar, não pode me segurar pela cintura e nem tocar em outra parte do meu corpo. Em contrapartida, lá estava eu literalmente masturbando ele por cima das calças.
Depois de quase vinte minutos comigo o instigando e manuseando seu pau sem encostar nele de verdade, Leleco gozou como um adolescente. Tamanha foi a sujeira que ficou com uma bela mancha de molhado na bermuda. Ele pediu para ir ao banheiro para se limpar.
- Acho melhor não – respondi com uma ponta de sorriso cruel no rosto. – As coisas aqui saíram um pouco do controle. Não acredito que essa seja a relação esperada entre você e cliente. Melhor você ir embora mesmo.
Visivelmente constrangido, o famoso Leleco se foi com sua fama de cafajeste manchada. Bem, a bermuda também. Tamanho era seu embaraço que nem percebeu que me deixou por lá vestindo seu micro-biquini, sendo que não paguei um centavo por ele. Aquilo foi uma vitória grandiosa para mim. Estava com a autoestima abalada por conta do divórcio e, não somente me senti desejada, como consegui fazer o cara, que supostamente se achava o comedor do bairro, agir como um garoto nas mãos de uma verdadeira mulher. Ele, que estava acostumado a ser o macho alfa a cada abordagem a uma mulher, naquela manhã virara um passivo. Um objeto sendo manuseado por uma mulher dominadora e, o pior para ele, à prova do que ele considerava as melhores cantadas já vistas. Nunca uma folga foi tão prazerosa.
- Cuidado com o Leleco uma ova – disse depois que fechei a porta de casa.
No sábado daquela mesma semana encontrei com a corretora na fila do mercadinho ali da região. Brinquei com ela sobre não ter me alertado sobre a feira e o fato que me obrigou a não ir trabalhar. Ela pediu desculpas e alegou que provavelmente outra coisa a distraiu de algo tão importante:
- Ah sim – concordei com ela. – Você preferiu ficar me alertando sobre o tal Leleco. Acredite que já esbarrei com ele?
- Já?
- Já! Mas não foi nada daquilo que você me falou. Sabe como é, né? Sou uma mulher poderosa e que desestabiliza corações – brinquei com ela.
- Eu tinha percebido isso. Por isso o meu medo me fez esquecer da feira e lhe alertar para se manter distante do meu marido.
- Ah sua desgraçada!