domingo, 20 de março de 2016

Histórias reais inventadas por mim

Lorotas
Era uma sexta-feira de noite. Não! Sábado de madrugada. Já tinha passado de meia-noite. Quase uma da manhã e quando cheguei ao limite do entediado me levantei do sofá, peguei a minha toalha na varanda e fui para o banheiro. Meu amigo que divide o apartamento comigo perguntou o que estava acontecendo e respondi que iria na rua comprar cigarro. Ele estranhou o fato de tomar banho para apenas comprar cigarro, mas repliquei dizendo que iria de carro e não queria sentar suado no banco de couro.
- E precisa de carro para comprar cigarros no bar aqui debaixo?
- Não, mas eu vou comprar lá na principal. Aproveito e coloco gasolina para trabalhar durante a semana.
Não acreditando nos meus argumentos, ele franziu a testa, deu de ombros e voltou a jogar videogame. Entrei no banho e quinze minutos depois já estava atravessando a sala rumo à porta da rua. Meu amigo novamente questionou eu estar tão arrumado para comprar apenas cigarros. Ora, um tênis, uma calça jeans e uma camisa polo não é tão arrumado assim, certo? Tanto que nem dei muita trela e perguntei apenas se ele queria algo. Ele respondeu que queria que eu não mentisse tanto para ele. Vejam só! O cara divide o apartamento comigo e pensa que é minha esposa. Para o inferno! Saí e nem me despedi. Só não bati a porta porque teria de pagar o conserto depois.
Depois de penar à procura de uma vaga, lá estava no meu pub favorito, Drunk Duck, ou mais conhecido intimamente pelos seus frequentadores como DD. Apesar de estar em um continente do outro lado do oceano, o Daft Duck não fazia feio perto dos pubs europeus. Inclusive os britânicos. Um enorme balcão de madeira maciça ao comprido com os famosos bancos bunda de fora era o símbolo principal do pub. Como cheguei muito tarde, não consegui lugar ao balcão. Tampouco conseguiria pelas mesas altas espalhadas pelo resto da casa. A solução seria andar pela casa com a caneca de chope em mãos.
Depois de duas voltas sozinho vagando como um espírito, achei melhor ir para o andar de cima. No segundo andar tem uma pista de dança que toca rock inglês, na sua maioria dos anos 70 e 80. Tocadas duas ou três músicas, reparei em uma menina morena sozinha de canto. Estava deslocada como eu, seria uma boa chance de me dar bem. Parei ao seu lado, sorri, ela correspondeu e puxei assunto. Disse um breve olá e perguntei seu nome, só que em inglês. Ela me respondeu também em inglês.
- Meu nome é Graciane. Você não fala português?
- Oh não! Apenas inglês mesmo.
- Mas você é de onde? Seu inglês tem um sotaque diferente de todos que já ouvi.
Claro que era diferente de todos. Aprendi inglês ouvindo música pop nos anos 90 e vendo seriado de ficção científica sem legenda. Obviamente responder isso para ela acompanhado de que morava no Meier seria muito patético. Quem continuaria a falar com um carioca que em pleno Rio de Janeiro puxa assunto em inglês? Pois é! Achei melhor dizer que era da República Tcheca. Não é que ela já tinha visitado à República Tcheca? Quais as chances? Ao me perguntar de onde era, para não correr riscos, falei que vinha de uma cidade pequena do interior cujo nome inventado quando pronunciei foi basicamente uma pigarreada. Ela pediu que repetisse umas quatro vezes até entender. Vai ver não entendeu porque cada uma das vezes saía de uma maneira diferente.
- Puxa, nunca ouvi falar – ela exclamou o óbvio. – Como é a cidade?
Bem, fazia parte do cerimonial jogar um pouco de papo fora até a primeira tentativa de beijá-la. Então, por que não ocupar esse tempo descrevendo sua cidade natal imaginária? Falei da geografia, do povo, do clima e do comércio local. Descrevi até uma feirinha de artesanato e produtos rústicos. Se ela fosse uma pouco mais atenta ou tivesse viajado mais para dentro do país do que para o exterior, teria sacado que falei por longos minutos sobre Nova Friburgo. De tanto me aproximar dela para que pudesse me escutar por conta do som alto, notei que ela exalava cheiro de nicotina. Estava aí a deixa para sairmos da barulheira e ir para um local mais tranquilo.
- Topa dar um pulo lá fora para fumar um cigarro?
- Eu estou sem aqui. Acabou antes de entrar na casa.
- Eu tenho. Vamos?
Já lá fora, sem barulho e mais à vontade, comecei a desenvolver o papo dos elogios. Sorriso bonito! Ela abria um sorrisão agradecendo. Olhos enigmáticos! Ela envergonhada cobria o e depois agradecia mais uma vez. Na tentativa de cortar meus avanços, ela lamenta que o cigarro acabou. Saco um maço do bolso, entrego em suas mãos e pergunto se posso continuar me divertindo descobrindo seus atributos. Com um cigarro na boca, ela disfarça um sorriso tímido e acena com os olhos que sim. Aproveito e prossigo como uma metralhadora de galanteios. Adoro cabelos cacheados! Você tem uma altura boa! Acho tão sexy pintinhas no rosto! Quase todos exagerados ou incoerentes com a realidade. Exceto o sobre como é elegante a forma de segurar o cigarro. Ela não consegue mais disfarçar que está lisonjeada. Avanço ferozmente e a beijo. Ficamos nos beijando por longos minutos até que em uma breve pausa, falo com meu inglês peculiar:
- As pessoas estão começando a nos olhar. Acho que estamos empolgados demais. Vamos lá do outro lado da rua que está mais sossegado?
Ela aceitou e, assim que nos encostamos em um carro, já a peguei de jeito deixando clara minha intenção. Acompanhando minha pegada, ela foi fundo no calor da coisa e nos agarramos intensamente. Aquele pedaço da calçada era bem escuro por conta de uma lâmpada de rua queimada e muitas árvores ao redor. No meio da empolgação, Graciane pediu para que falasse alguma sacanagem na minha língua mãe. Fiz uma bela pigarreada recheada com vogais e ela ficou eufórica. Perguntou o que significava e respondi que era algo como vou te lamber toda. Excitada com o momento, ela pediu mais, só que em inglês. Fiquei bem aliviado, pois se pedisse para repetir o que tinha dito antes, não acertaria uma sílaba sequer:
- Vou te lamber toda da cabeça aos pés. E, ao final, fazer tudo novamente para ter certeza que não esqueci parte alguma.
- Nossa – ela me apertava. – Fale mais.
- Vou te dominar, mostrar quem manda. Farei de você minha putinha.
- Vai? Onde?
- Aqui e dentro do meu carro! No quarto do meu hotel! No banheiro do hotel! Na varanda, na piscina e no elevador. Na sua cama e no sofá da sua sala.
- Sério? Mas isso requer muito tempo.
- Eu vou ficar duas semanas por aqui e vou te comer todos os dias para nunca mais me esquecer.
Foi nesta hora que ela se descontrolou de vez, abriu minhas calças, colocou meu pau para fora e com a mão cheia começou a me masturbar. Não precisei de pouco mais de um minuto para gozar. Foi uma lambança enorme. Respingou nos dois e no carro. Muita atenciosa, ela limpou meu pau, colocou para dentro das calças e a fechou. Depois sugeriu para irmos para o hotel terminar as coisas. E agora? Poderia sugerir um motel com a conveniência logística. Estávamos na Lapa, ela morava em São Cristóvão e disse que o hotel ficava na Barra. Logo, leva-la para o hotel seria, supostamente, uma enorme contramão para ela depois ir embora. Tinha em mãos uma desculpa para optarmos por um motel fuleiro qualquer do centro da cidade. Contudo, a verdade é que não tinha mais coisa alguma para terminar. Tinha bebido uns chopes, fumado uns cigarros, beijado na boca, ganhei uma punheta e gozei com um desempenho olímpico. Tudo que queria na verdade era minha cama.
Sem que ela percebesse, derrubei a chave do meu carro para cair entre o meio-fio e a roda do carro que estávamos encostados. Ela caiu perfeitamente escondida onde mirei. Andamos até meu carro e lá fiz toda aquela cena de chave perdida. Convoquei Deus, Madre Vasconcelos, São Longuinho e outras personalidade cristãs voltadas para o milagre do aparecimento de objetos esquecidos em gavetas desarrumadas.
- E agora?
- Relaxa. Vamos fazer o seguinte, você pega um táxi e vai para casa. Eu vou ter de acionar a locadora do carro. Sabe como é, né? Turista só anda de carro alugado.
- Tem certeza?
- Tenho. Amanhã nos encontramos em frente ao hotel, pegamos uma praia e depois retomamos o que ficou incompleto aqui. Eu quero muito repetir isso. Você gostou?
- Uhum – ela respondeu meio seca. – Mas como faremos?
- É só me dar seu telefone. Digita aqui no meu celular e disca para ter uma chamada perdida.
- Está bem – ela pegou meu telefone, digitou os números e pressionou a tecla chamar.
- Está tocando?
- Sim, está vibrando aqui na minha bolsa.
- Tem certeza?
- Tenho!
Trocamos mais dois beijos de despedida, chamei um táxi e quando ela estava partindo disse que a ligaria pela manhã. Ela sorriu e foi embora para o meu alívio. Podia em paz voltar para casa. Peguei minha chave no mesmo local onde derrubei, fui até meu carro e antes de entrar tirei meu celular do bolso de trás como de hábito. Três ligações não atendidas. Era o mesmo número que a Graciane digitou. Menina ansiosa! Não ia retornar mesmo. Coisa chata. O celular volta a tocar. Que saco! Atendi:
- Oi, Graciane – falei em inglês.
- Quem está falando? – Perguntou uma voz masculina em português.
- É o taxista? – Perguntei desta vez em português.
- Que taxista, porra?
- Este celular não é da Graciane?
- Que Graciane, porra? Meu nome é Eduardo! Estava dormindo até me incomodarem. Quem está me ligando às quatro da manhã?
- Desculpe, Eduardo. Parece que uma filha da puta mentiu para mim.