“Interrompemos suas
comemorações pela vitória do Brasil para mentir que acabou a cerveja e assim
poder prestar atenção no que temos para falar.”
Tivemos
ontem a tão aguardada abertura da Copa do Mundo no Brasil e a tão esperada
estreia da seleção brasileira em campo. E após rever todos os momentos
minuciosamente várias vezes, pois somente isso que passava em todos os canais
não nos dando uma opção diferente sequer, alguns pontos precisam ser
destacados.
Para
a frustração de muitos, a festa da abertura ficou abaixo do nível das aberturas
das olimpíadas. O que a maioria das pessoas não sabe é que tradicionalmente a
abertura da copa costuma ser uma festa mais discreta, principalmente se
comparada com a abertura das olimpíadas. Já o que o pessoal da organização da
copa não sabe é que a abertura da copa não precisa ser necessariamente um nível
abaixo da festa junina do Peixoto no bairro de Copacabana.
Mesmo
sendo coreografada por um profissional belga, com um projeto de imagem feito
por designers da Rede TV e sistema de áudio equalizado por técnicos do canal
CNT, a festa teve grandes momentos, principalmente quando o brasileiro Juliano
Pinto, paraplégico voluntário em programa de pesquisa do neurocientista Miguel
Nicolelis, deu um chute com a ajuda de um exoesqueleto. A cena, mesmo pouco
explorada na festa, provocou reações espantadas na torcida: “Olha, mãe! Estão
falando daquele filme do diretor do Tropa de Elite, o Robocop!”, “Que porra é
aquela acontecendo ali?” e “Grandes coisas! No culto lá na Vila Madalena o
pastor fez um tetraplégico sambar!”. E se isso não são reações espantadas, já
não sei o que é.
Na
entrada da seleção brasileira, para finalmente estrear no campeonato, a torcida
teve uma reação mista de euforia e estranhamento. A euforia era pelo motivo
óbvio de enfim ver o time surgir em campo para disputar uma copa dentro do
próprio país. O estranhamento era pelas crianças que acompanhavam nossos
atletas. Todas eram louras, de pele muito clara e aparentavam ser bem
alimentadas. Criou-se então uma dúvida no ar: Seria a FIFA totalmente ignorante
sobre como são nossas crianças, ou seriam aquelas crianças suplentes, pois as
originais que entrariam em campo teriam sido adotadas pelo casal Angelina
Jollie e Brad Pitt?
Minutos
antes de iniciar a partida, três crianças brasileiras (um pardo morador do
Leblon, uma oriental de João Pessoa e um índio de Joinvile) soltaram pombas
brancas para pedir paz. A cena que tinha uma intenção ingênua gerou confusão.
Representantes do governo criticaram a cena por não atender ao sistema de cotas
e permitir apenas pombas brancas. O deputado Jean Willys também questionou a
escolha, disse que houve preconceito homossexual ao não colocarem um pavão com
as pombas, por mais trabalhoso que fosse para uma criança leva-lo no colo até o
meio de campo. A protetora dos animais Luiza Mel chorou com a cena, mas isso
não é parâmetro algum. E os paulistanos retrucaram dizendo que era preferível trocar
crianças soltando pombas brancas pelo Silvio Santos e seus aviõezinhos de dinheiro.
Iniciada
a partida, com onze minutos de jogo o Brasil já perdia por 1 a 0, por conta de
um gol contra de seu lateral esquerdo. Pela primeira vez, todo o país pode
sentir na pele como é torcer para o atual time do Flamengo. Para felicidade
nossa, antes do intervalo a seleção canarinho conseguiu o seu gol de empate com
um belo gol do atacante Neymar e depois, no segundo tempo, com ajuda do império
Globo/FIFA/Flamengo, o juiz inventou um pênalti para nos favorecer e assim
chegarmos à vitória. O terceiro gol do Oscar virou detalhe depois.
Ao
final do dia, a sensação era de saldo positivo. A seleção ganhou, o estádio
Itaquerão não desabou e torcida eufórica xingou e vaiou o Presidente Lula vestido
de mulher idosa dentuça. Ruim apenas foi a padaria da esquina ter informado no
intervalo que a Stelinha acabou, me obrigando a beber Antártica e acordar com
dor de cabeça hoje. A dúvida que permanecia no ar era o que o Tino Marcos
queria saber ao perguntar para o jogador Kaká qual a sensação de ver aquela
cena se materializando ali.