sexta-feira, 13 de junho de 2014

Plantão da Copa



“Interrompemos suas comemorações pela vitória do Brasil para mentir que acabou a cerveja e assim poder prestar atenção no que temos para falar.”
Tivemos ontem a tão aguardada abertura da Copa do Mundo no Brasil e a tão esperada estreia da seleção brasileira em campo. E após rever todos os momentos minuciosamente várias vezes, pois somente isso que passava em todos os canais não nos dando uma opção diferente sequer, alguns pontos precisam ser destacados.
Para a frustração de muitos, a festa da abertura ficou abaixo do nível das aberturas das olimpíadas. O que a maioria das pessoas não sabe é que tradicionalmente a abertura da copa costuma ser uma festa mais discreta, principalmente se comparada com a abertura das olimpíadas. Já o que o pessoal da organização da copa não sabe é que a abertura da copa não precisa ser necessariamente um nível abaixo da festa junina do Peixoto no bairro de Copacabana.
Mesmo sendo coreografada por um profissional belga, com um projeto de imagem feito por designers da Rede TV e sistema de áudio equalizado por técnicos do canal CNT, a festa teve grandes momentos, principalmente quando o brasileiro Juliano Pinto, paraplégico voluntário em programa de pesquisa do neurocientista Miguel Nicolelis, deu um chute com a ajuda de um exoesqueleto. A cena, mesmo pouco explorada na festa, provocou reações espantadas na torcida: “Olha, mãe! Estão falando daquele filme do diretor do Tropa de Elite, o Robocop!”, “Que porra é aquela acontecendo ali?” e “Grandes coisas! No culto lá na Vila Madalena o pastor fez um tetraplégico sambar!”. E se isso não são reações espantadas, já não sei o que é.
Na entrada da seleção brasileira, para finalmente estrear no campeonato, a torcida teve uma reação mista de euforia e estranhamento. A euforia era pelo motivo óbvio de enfim ver o time surgir em campo para disputar uma copa dentro do próprio país. O estranhamento era pelas crianças que acompanhavam nossos atletas. Todas eram louras, de pele muito clara e aparentavam ser bem alimentadas. Criou-se então uma dúvida no ar: Seria a FIFA totalmente ignorante sobre como são nossas crianças, ou seriam aquelas crianças suplentes, pois as originais que entrariam em campo teriam sido adotadas pelo casal Angelina Jollie e Brad Pitt?
Minutos antes de iniciar a partida, três crianças brasileiras (um pardo morador do Leblon, uma oriental de João Pessoa e um índio de Joinvile) soltaram pombas brancas para pedir paz. A cena que tinha uma intenção ingênua gerou confusão. Representantes do governo criticaram a cena por não atender ao sistema de cotas e permitir apenas pombas brancas. O deputado Jean Willys também questionou a escolha, disse que houve preconceito homossexual ao não colocarem um pavão com as pombas, por mais trabalhoso que fosse para uma criança leva-lo no colo até o meio de campo. A protetora dos animais Luiza Mel chorou com a cena, mas isso não é parâmetro algum. E os paulistanos retrucaram dizendo que era preferível trocar crianças soltando pombas brancas pelo Silvio Santos e seus aviõezinhos de dinheiro.
Iniciada a partida, com onze minutos de jogo o Brasil já perdia por 1 a 0, por conta de um gol contra de seu lateral esquerdo. Pela primeira vez, todo o país pode sentir na pele como é torcer para o atual time do Flamengo. Para felicidade nossa, antes do intervalo a seleção canarinho conseguiu o seu gol de empate com um belo gol do atacante Neymar e depois, no segundo tempo, com ajuda do império Globo/FIFA/Flamengo, o juiz inventou um pênalti para nos favorecer e assim chegarmos à vitória. O terceiro gol do Oscar virou detalhe depois.
Ao final do dia, a sensação era de saldo positivo. A seleção ganhou, o estádio Itaquerão não desabou e torcida eufórica xingou e vaiou o Presidente Lula vestido de mulher idosa dentuça. Ruim apenas foi a padaria da esquina ter informado no intervalo que a Stelinha acabou, me obrigando a beber Antártica e acordar com dor de cabeça hoje. A dúvida que permanecia no ar era o que o Tino Marcos queria saber ao perguntar para o jogador Kaká qual a sensação de ver aquela cena se materializando ali.