quarta-feira, 11 de junho de 2014

Plantão da Copa



“Interrompemos o seu acelerado deslizar da timeline para postar mais um texto gigante que não vai ler, o que nos permite manter em 100% o índice de pessoas que não gostam das nossas publicações.”
Se em condições normais de temperatura e pressão o trânsito do Rio de Janeiro já é ruim, imagine com a chegada da Copa do Mundo. Pois bem, agora pense em um ônibus de uma delegação atravessado no meio de uma das principais avenidas da zona sul. Essa era a cena que muitos cariocas presos no trânsito encontraram ao tentar ir de São Conrado para o Leblon. A vista do ônibus da seleção da Inglaterra imóvel no meio de duas pistas era uma imagem perturbadora para quem precisava se deslocar por aquele trecho da cidade.
- O ônibus quebrou? – Perguntava uma mulher pela janela do seu carro.
- Hyundai é uma merda! – Gritava outro motorista de dentro do seu poderoso Palio 2004 1.0.
- Isso é um 438 maquiado ! – Esbravejou o motorista de uma van.
O que ninguém sabia era o motivo do ônibus parado. O jogador Gary Cahill tinha sido esquecido no hotel pela delegação. Exatamente, caro leitor! Anos depois, a síndrome de Macaulay Culkin que tanto aterrorizou mães e filhos de famílias férteis durante a década de 90 se repetia em plena cidade maravilhosa.
O comunicado que o porta-voz da delegação soltou para a impressa alega que o jogador se atrasou durante o tradicional processo do Tea Time. Para quem não sabe, o Tea Time é uma tradição britânica que exige todo um requintado cerimonial, no qual são servidos vários tipos de acompanhamentos para o chá, os quais devem ser degustados em uma ordem específica. Tudo começa com os sanduíches, que podem ser de peixe, queijo ou pepino. Em seguida, é a hora dos scones, uma espécie de pão doce, normalmente de geleia de morango, ou de creme. Por fim, temos os pastries, que são doces finos, podendo ser de chocolate, ou biscoitos escoceses, tortas etc.
Ainda segundo o comunicado, o problema se deu porque o hotel não estava preparado para satisfazer tamanha exigência e, na tentativa de improvisar, acabou desagradando ao zagueiro em questão. Os demais jogadores pouco se importaram e optaram pelo café-com-leite brasileiro mesmo, mas o zagueiro, por vir de uma tradicional família do sul da cidade de Satisfaction, próximo ao povoado de I Can Get No, se recusou a aceitar o oferecido e disse que só sairia após um legítimo Tea Time. O hotel tentou se justificar dizendo que, mesmo improvisando, ofereceu opções sofisticadas e de fino trato para o zagueiro.
- Mentira – retrucou o zagueiro. – Logo de início me ofereceram um sanduíche de atum, com queijo prato e um pedaço de rúcula no pão francês. FRANCÊS!
- Mas foi feito pelo Claude Troisgros – replicou o gerente do hotel.
O zagueiro também reclamou muito do que foi oferecido no lugar dos scones. Para ele, ofereceram uma iguaria de culinária que incentiva a obesidade.
- Esta informação não procede – discordou o gerente. – Colocamos à disposição dele algo tão clássico para o brasileiro, quanto o chá é para o britânico.
- Que tradicional que nada – resmungou o zagueiro. – O porteiro saiu correndo do hotel, parou um homem com uma carrocinha de madeira branca coberta por um plástico grosso e trouxe duas coisas massudas do tamanho de uma bola de baseball transbordando doce de leite.
Extremamente consternado com a situação, o zagueiro disse que a parte final foi tão trágica que fecharia com chave de merda o Tea Time improvisado pelo hotel. Segundo ele, foi um show de horrores a começar pela substituição dos deliciosos biscoitos escoceses por porcarias branquelas sem gosto.
- São tradicionais biscoitos de nata – exaltou-se o gerente.
- Eram sem sabor – manteve-se irredutível o zagueiro para depois prosseguir. – Sem falar nos suplentes dos pastries.
- Reclamar disso é um absurdo – indignou-se o gerente. – Oferecemos um sucesso nacional: Biscoito Goiabinha da Piraquê.
- Eles estavam murchos de tão velhos – rebateu o zagueiro.
- ELES SÃO SEMPRE ASSIM – o gerente encerrou de maneira constrangedora a discussão.
O que se sabe é que o zagueiro desistiu da segunda tentativa do hotel em corrigir o ato falho e foi correndo ao encontro do ônibus que o aguardava no meio da rua. Já o gerente, ficou esbravejando sobre o quanto é difícil agradar aos britânicos e por isso preferiria que tivesse recebido os jogadores da Bélgica. Tanto que para fazer com que se sentissem em casa, compraram vários chocolates Batom e cerveja Itaipava.