terça-feira, 27 de março de 2012

Histórias Reais Inventadas por Mim

Prostitutas (Efeito Polar)
Almoço Grátis

Acho que aquela foi a ideia mais estúpida que tinha ouvido em toda minha vida. Na realidade, eu não achava. Eu tinha certeza! Tanto que expressei claramente minha opinião para ele:
– Essa é a ideia mais estúpida que já ouvi!
Não sei se ele não acreditou muito no que falei, se achou que estava brincando, ou a informação foi muito forte para ser absorvida rapidamente. Sei apenas que ele ficou parado olhando para mim sem reação. Até que repeti de forma mais informal:
– Porra – o uso do porra, apesar de paradoxal, sempre ajuda a dar um tom menos agressivo. – Você só pode estar me zoando! Essa ideia é a pior do mundo. Principalmente vindo de você!
– Cara, mas você não entendeu – disse ele usando as mãos como meio de amenizar. – A ideia é promissora. Não é para ficar rico. É apenas um meio de ajudar aos outros.
Pois é, ele estava seriamente convencido que sua ideia teria algum valor sob alguma perspectiva aleatória que determinara. Somente ele para achar que criar um projeto de recuperação de prostitutas seria algo válido de dar prosseguimento.
– Recuperar prostitutas? Recuperar de quê? Vai colocar silicone nelas? Fazer plástica? Trocar o figurino?
– Não – ele respondeu virando os olhos impacientemente. – Recuperar da vida! Dar a elas outras chances. Elas merecem algo melhor.
– Isso vindo de você é um deboche – e era mesmo. – Você é o maior consumidor do mercado do sexo que conheço. Pega umas três piranhas por semana e agora quer falar de algo melhor para elas?
– É questão de ajudar, cara!
– Ajudar? Quer ajudar? Aumenta a frequência de três para sete vezes por semana. Uma diferente por cada dia. Vai fazer o dinheiro correr de forma mais justa entre elas.
– Não estou falando de caridade!
– Até porque se estivesse seria meio estranho. Imagine só, doar dinheiro para prostitutas.
Sabia que aquela discussão iria longe. E não somente pelo conceito inicial absurdo da ideia dele, mas também porque ele é péssimo argumentando. Ficaria dando voltas e não sairia do lugar. Seria como brigar com um bêbado com os braços amarrados.
– Ok – gesticulo para sinalizar um tom apaziguador. – Fale do seu projeto.
– A ideia é simples. Recolherei algumas garotas de programa e levaremos para escolas, empresas e tal para contar sobre suas vidas. Mostrar para as pessoas o quão difícil é a vida de uma garota de programa.
– Porra, você só pode estar me zoando – juro que queria me controlar. – Desde quando você se preocupa com a dificuldade das garotas de programa?
– Eu sempre fui um cara correto com elas, apesar de ser um consumidor assíduo.
– Mentira – coloco a mão direita na cabeça não acreditando na cara-de-pau dele. – Você mesmo, outro dia, parou o carro no meio da Ponte Rio-Niterói só porque a piranha não queria que você a chamasse pelo nome da sua ex.
– Era frescura dela. Qual o problema em ser chamada de Rosana? Aposto que o nome que ela me deu nem era o verdadeiro.
– Ah sim, frescura – aceno positivamente. – Muito bem. E isso justificava sair com o carro e deixar a garota lá no meio da ponte, senhor me importo com a vida das putas?
– Não chama de puta – disse ele franzindo a testa. – É pejorativo!
– Meu deus – dessa vez coloco ambas as mãos na cabeça. – Você raramente as chama pelo nome. Outro dia mesmo parou o carro no meio-fio e mandou “e aí? Quanto tá esse cuzinho?”. Quer mais desrespeitoso do que isso?
– Eu disse pejorativo – ele tenta justificar. – Enfim, acho que a ideia é boa.
– Claro! Muito boa – faço cara de deboche. – E quantas garotas de programa você conhece que tenha capacidade de se expressar corretamente para uma plateia?
– Ah, tem algumas, sim!
– Imagino – a cara de deboche não se desfaz. – Que tal a Zuleide?
De todas as putas mequetrefres que ele já pegou, Zuleide era a pior. Já começa pelo nome. Ela se chamava Zuleika. Mas achou que este nome não tinha muito apelo, então preferiu manter a primeira sílaba e juntou com a palavra que significa dama em inglês. Pois é, daí temos Zuleide. Ela era tão ruim, tão pobre, tão beira de calçada, que se a metáfora rodar bolsinha fosse real, ela rodaria sacola plástica de supermercado.
– Sempre exagerado – disse ele balançando negativamente a cabeça. – Ela era uma tragédia. Você sabe disse.
– Então quem?
– Estou vendo – responde ele com ar de empreendedor. – Já fiz algumas entrevistas essa semana. Estou com uma lista de mais de 30 interessadas no projeto.
– Puxa – mostro minha surpresa exibindo o lábio inferior. – Fiquei impressionado. De verdade!
– Só nessa semana foram 4 entrevistas.
– E como se saíram?
– Er... Bem.
– Como assim? Se expressam bem?
– Er... Um pouco.
– Peraí? Você entrevistou ou não entrevistou?
– Mais ou menos.
– Elas nem foram, né?
– Sim, elas foram.
– E?
– A entrevista começava sempre bem. Mostrava meu projeto. Elas ficavam interessadas. Se animavam, falavam bastante.
– E aí?
– Eu acabava comendo elas.
– Todas?
– Sim!
– Seu cagalhão! Pelo menos, o senhor caridoso que sem preocupa com as garotas de programa, pagou pelo sexo, né?
– Não!
– Não?
– Não – ele responde, depois ri exalando alegria.
– Cara, seu projeto é fantástico! Precisa de um sócio?
– Não te disse? Vamos alinhar nossas agendas...

– Estou sempre com as tardes de quarta e quinta livres.