sexta-feira, 1 de julho de 2016

Pedaços de uma vida encenada

Ombro amigo - Cena 1
Teo está dormindo. É tarde da madrugada e seu quarto está escuro, quando o celular toca. Ele atende com esforço. Tela se divide em duas: em uma metade Teo de bruços na cama, Luiza no sofá com cobertor na outra metade.
[Teo] Alô.
[Luiza] Acordado?
[Teo] Não!
[Luiza] Preciso de você.
[Teo] Ai porra.
[Luiza] Por favor. É sério. Preciso muito.
[Teo] Peraí.
Teo se ajeita na cama ficando recostado. Em seguida liga o abajur na cabeceira.
[Teo] Fala.
[Luiza] Preciso que me distraia.
[Teo] Luiza, são três da manhã. Amanhã... ou hoje... que seja... é segunda-feira. Ainda estou bêbado. É mais uma crise de carência?
[Luiza] Não. Desculpe-me, mas dessa vez é serio. Preciso de atenção.
[Teo] Tá! Fala. O que aconteceu?
[Luiza] O Gil me deu um corte.
[Teo] Ah caralho.
[Luiza] O que foi?
[Teo] Estava torcendo muito para ser um problema financeiro. Já tinha me preparado para abrir o notebook e fazer uma transferência para você.
[Luiza] Antes fosse. Ele me deu um pé na bunda mesmo.
[Teo] Como se leva um pé na bunda sem estar sequer namorando?
[Luiza] O Gil acha que estou envolvida demais ao mesmo tempo em que ele não está. Não se enxerga emocionalmente preparado.
[Teo] E por que não continuam do jeito que tudo estava até alguns minutos antes de me acordar? Qual o problema de continuarem se pegando sem compromisso e complicações?
[Luiza] Eu não me sinto à vontade sabendo que não quero ficar com mais ninguém, enquanto ele se mantém disponível para outras pessoas.
[Teo] Ai meu pai. Que complicação desnecessária. Onde que em um relacionamento sem compromisso se fala sobre essas coisas? A ideia era se comerem, checarem exames de doenças e gravidez esporadicamente. Pronto! Fórmula do sucesso. Quem colocou a carta do tema polêmico e inoportuno na mesa?
[Luiza] Eu.
[Teo] Ah porra, Luiza! Sempre falei que esse seu problema em não conseguir pegar no sono depois de transar ia dar em merda. Você fica acordada com esses olhos esbugalhados, só de canto de olho, implorando para a pessoa puxar algum assunto. Mas a pessoa não puxa. A pessoa quer dormir. O que você faz? Hein? Hein? Sapeca de surpresa um “você está querendo sair com outras pessoas?”. Aposto que o pau do rapaz nem deve ter abaixado até então.
[Luiza] Tão bom ter um amigo que me entende e fala as coisas certas no momento que mais preciso.
[Teo] Você sabe que eu falo o que precisa ser dito. Tanto que foi por isso que me ligou.
[Luiza] Não... Te liguei porque sei que era a única pessoa acordada para conversar nesta hora.
[Teo] Ah mas errou feio, hein?
[Luiza] Pois é. Se arrependimento matasse...
[Teo] Você nunca teria me dado pela primeira vez.
[Luiza] FILHO DA PUTA! [Luiza ri]
[Teo] Vejam só! Consegui te distrair.
[Luiza] Não é essa distração que preciso. Quero algo para acalmar o meu coração. Algo que me faça me sentir bem. Daí vem você falando que deveria abaixar o pau do Gil e deitar como um cadáver ao lado dele, só para o conforto de todo mundo.
[Teo] Todo mundo é muita gente. Mas o fato é que, se você não tivesse feito a pergunta, eu pelo menos estaria dormindo no meu conforto.
[Luiza] Escroto... Enfim, a pergunta foi feita, mas não... Não foi após o sexo. Muito menos foi a pergunta que você disse. Apenas comentei com ele que as coisas estavam esfriando. Não sentia mais aquela reciprocidade vindo dele para querer me ver, me beijar, me comer. Estava tudo meio no automático, em uma mesmice sem graça. Ele meteu um papo sobre estar sem grana, que com isso não sai mais e fica desmotivado.
[Teo] Tá, mas isso não tira tesão de homem. Cara que tem tesão na mulher, mas não tem grana, leva para trepar na escada do prédio, praia, carro, canil. Mentira! Canil só a Luciana Gimenez com o Mick Jagger.
[Luiza] Sério isso?
[Teo] Sei lá. Sempre rolou essa lenda de que ele a engravid...
[Luiza] Não, estou perguntando do tesão. Mesmo sem grana o tesão continua?
[Teo] Ah sim. Até porque é tesão. Não é vontadezinha de se ver apenas. Tesão por alguém quando bate, faz o cabra dar o jeito dele para conseguir.
[Luiza] Bem... Eu não sabia disso. Mesmo assim acabei perguntando se isso estava afetando apenas a maneira dele me ver. Isto é, se ele via outras meninas de maneira diferente, ou se via de maneira desinteressada também.
[Teo] E ele?
[Luiza] Não disse sim, nem não.
[Teo] Filho da puta. Ficou calado?
[Luiza] Não! Ele falou que não se achava um pegador, putão, sei lá o termo que usou. Daí não conseguia se imaginar olhando para outras mulheres para poder me responder. Depois falou que isso também não o impedia de se envolver ou ter atração por outras.
[Teo] Que filho da puta! Está tristinho porque a mesadinha acabou. Está tristinho e acha que isso está tirando a vontade dele em te ver. Legal! Mas ficar tristinho para querer pegar outras... ah aí é outra história... Vamos colocar a dúvida no ar, não é mesmo?
[Luiza] Pois é. Achei a mesma coisa. Cheguei a falar algo, mas ele me interrompeu. Disse que gostava de mim, que me curtia... Curtia! Rá! Sonho de toda mulher, um cara que diz “eu te curto”. Enfim, ele falou que gostava de mim, que o sexo não tinha mudado, apenas estava repensando as coisas, pois eu era a primeira pessoa que ele dava prosseguimento depois do término do namoro dele.
[Teo] Como assim dar prosseguimento?
[Luiza] Ele supostamente saiu com outras pessoas, mas só deu uma trepada aleatória e nada mais. Comigo ele prolongou. Entendeu?
[Teo] Ah tá! Estão saindo tem quanto tempo?
[Luiza] Desde agosto... Então... Umas sete semanas.
[Teo] E transaram quantas vezes?
[Luiza] No início não transamos, nem saíamos muito. Depois passamos a nos ver toda semana e transávamos sempre. Sei lá! Acho que umas cinco.
[Teo] É... Vou te falar então... De todo esse tempo que esteve com ele, a melhor coisa que lhe aconteceu foi aquela nossa trepada bêbados no aniversário na casa da sua prima.
[Luiza] FILHO DA PUTA! Sabia que ia falar isso. [risos dos dois]
[Teo] Desculpa, mas a deixa foi muito mais forte. Prossiga.
[Luiza] Ele disse que estava preocupado com o fato de que não queria ter um relacionamento sério. Achava que prolongar algo comigo sabendo disso seria sacanagem e poderia perder a minha amizade, algo que ele disse ter mais valor do que tudo.
[Teo] É, ele está querendo pular fora e está tentando ser fofo.
[Luiza] O argumento principal dele foi que tinha a certeza que eu queria algo e ele, em contrapartida, não. Ele acredita que esse impasse já é algo para não continuarmos juntos.
[Teo] É, ele quis ser fofo, mas é apenas covarde.
[Luiza] Covarde?
[Teo] Sim, covarde. Provavelmente já estava com isso em mente tinha algum tempo. E quando digo isso, me refiro a pular fora. Você veio puxar um assunto delicado, ele usou como ponto de partida.
[Luiza] Sério? Covarde?
[Teo, enquanto fala, se levanta e vai para a sala] Sim. O cara que quer pular fora tem a suas mãos vários recursos, sejam eles detestáveis ou não. Simplesmente sumir e fingir que nada aconteceu, por exemplo, requer muito culhão. Além de falta de caráter, obviamente. Precisa ter culhão para ignorar mensagens cobrando o sumiço, esbarrar na rua e ser indiferente, até mesmo não se incomodar com o outro lado. Como disse, existem diversos recursos e esse é um deles. O Gil foi covarde. Não tomou iniciativa no primeiro momento que cogitou pular fora. Esperou uma desculpa dada por você. É patético, clichê e ao final soa tão ruim quanto o detestável sumiço. Acredito que, na cabeça dele, tudo fez sentido e sua ação foi digna de ser elogiado na mesa de jantar com a família. Não é legal sinalizar para a outra pessoa que entendeu as intenções dela em querer um relacionamento quando não é recíproco. Até porque, quando a outra pessoa quer um relacionamento, a última coisa que ela precisa ouvir é que você não está na mesma vibe.
[Teo faz uma voz forçada] Veja bem, eu sei que você está doidinha por mim, só pensa em mim e está depositando várias fichas em mim, mas tchau. Acredite, é para o seu bem.
[Teo] Ora, fica parecendo que, no momento que era apenas sexo sem expectativas, a ideia era genial. Agora que ela quer algo... Opa... Cadê o botão ejetar?
[Luiza] É, talvez tenha sido isso.
[Teo] Pense da seguinte forma... Suponhamos que ele seja uma alma realmente evoluída... Desastrada na maneira de lidar com as coisas, mas evoluída... Ele percebeu que você está se apaixonando... Ele não está sequer perto de sentir isso por você... Então ele resolve que o melhor é matar o relacionamento. Ora, não se fala isso. O esperado é que...
[Luiza] Eu entendi. Agora já era. Só queria conversar. Achei muito babaca da parte dele, mesmo antes de conversar com você. A diferença é que agora existem mais argumentos para achar ele um babaca. Enfim, essas porradas que me cansam mais que o Gil propriamente dito. Tinha esperanças que saísse algo mais legal dali. Acabei levando na cabeça.
[Teo] Não me faça repetir Paulo Francis. Ele dizia que a vida só é democrática na desgraça.
[Luiza] É, na minha tem rolado muita democracia. Acho que vou diminuir o ritmo mesmo. Aliás, já tinha diminuído. Transei com três caras apenas este ano. Um no carnaval que não aguentei as pontas. Depois fiquei meses sem transar até conhecer o Gil. Além de, nesse meio tempo, um estrupício em uma festa recente.
[Teo] EU! EU!
[Luiza] E nem no canil foi! [risos dos dois]
[Teo] É bem possível que você estivesse indo direitinho no caminho com ele. Você é calejada. Vai ver faltou algo por parte dele. Tipo, ele mandou os sinais errados. Era para dar sinal amarelo e colocou um verde brilhante.
[Luiza] Analisando com calma tudo que disse, eu concordo.
[Teo] Com o que especificamente? Com a falta de calejamento? Que a melhor coisa do seu ano foi a nossa foda?
[Luiza] Também... [risos dos dois] Mas agora quero falar apenas de calejamento.
[Teo] Ok... Ele era amigo antes, não?
[Luiza] Era.
[Teo] Então. Território amigo. Zona segura. Isso cria uma falsa confiança que tira os pés atrás e nos colocam de quatro.
[Luiza] Ui que delícia.
[Teo] Olha só! Já está falando sacanagem! Viu como sou a melhor pessoa para conversar?
[Luiza] Não, você é péssimo! Você é uma alma estabanada, nada evoluída, mas que ao menos diverte falando merda.
[Teo] Isso magoa!
[Luiza] Aham... Que mude a direção das mágoas esta madrugada apenas uma vez.
[Teo] Ok, justo.
[Luiza] Se ele me procurar, você me ajuda?
[Teo] Ajudar como? Sou péssimo de briga. O máximo que posso fazer é preparar umas piadas sarcásticas para usar com ele.
[Luiza] Não, apenas me ajude no que devo fazer.
[Teo] Nada.
[Luiza] Não vai me ajudar?
[Teo] Não, lesada! É para fazer nada! Coisa alguma.
[Luiza] Mas é difícil.
[Teo] Vou te dar uma dica de algo que faço com frequência e é infalível. Apague ele dos seus contatos para não correr o risco de cair em tentação amém e mandar mensagem para ele. Quando ele mandar por conta própria, nem entre na conversa. Apague por fora mesmo. Vai constar eternamente que recebeu e nunca leu. Uma hora ele entende.
[Luiza] Vou tentar. Bem, obrigado. Agora pode voltar a dormir.
[Teo] Ah, já perdi o sono. Nem mais estou no quarto.
[Luiza] Hum... Desculpe-me. Vou tentar dormir então.
[Teo] Não.
[Luiza] Não?
[Teo] Não! Quero aproveitar e falar de outra coisa com você.
[Luiza] Diga então.
[Teo] Suelen.
[Luiza] O que tem a Suelen?
[Teo] Você tem certeza que ela é menina? [Luiza cai na gargalhada]
[Luiza] Claro! Sei lá! Por que está perguntando isso? Vocês não ficaram naquele dia no bar na sexta passada e foram para a sua casa?
[Teo] Sim.
[Luiza] Então? Ela pelada não é menina? Ou você não sabe diferenciar as coisas?
[Teo] Claro que sei diferenciar! Sim, ela pelada é uma menina. A pergunta é: ela sempre foi menina? Ela foi menina a vida toda?
[Luiza] Meu Deus! Sabia que você ia encrencar com isso. A Suelen talvez tenha uns traços rústicos. A voz não ajuda muito, é verdade. Ela é meio grande também. Ainda assim eu garanto que ela é menina. Por que dessa neura?
[Teo] Luiza, escute o que vou te falar. Aquilo que ela tem no meio das pernas não é uma boceta normal. [Luiza ri descontroladamente] Eu estou falando sério. Preste atenção em mim. Eu já vi muitas na minha vida e aquela coisa não era uma boceta natural.
[Luiza] Como não era normal? Era torta? Parecia um porta-níquel? Tinha dentes? [Luiza volta a rir alto]
[Teo] Estou falando sério. Era totalmente fora da posição normal. Não estava alinhada com o corpo.
[Luiza fala rindo] Vou pegou um par de esquadros para constatar isso, Teo?
[Teo] Luiza, pare de fazer graça com isso. Não era algo natural. Era muito áspera.
[Luiza] Vai ver estava seca.
[Teo] Como seca? Eu fiz as preliminares direitinho.
[Luiza] Vai ver você chupa boceta mal, né?
[Teo] Ei! Eu chupo mal?
[Luiza] Sei lá?
[Teo] Como sei lá? Já te chupei algumas vezes.
[Luiza] Teo, eu não vou fazer DR sobre a sua chupada. Vai ver ela não curtiu como você estava fazendo. Ou então não estava solta o suficiente para ficar lubrificada. Quem sabe você não a acendeu suficientemente?
[Teo] Como não? Ela que sugeriu ir para o meu apartamento.
[Luiza] Daí na hora H ela te viu pelado... [Luiza ri] É meio broxante mesmo.
[Teo] Para, porra! Podemos focar no ponto que estou querendo provar aqui?
[Luiza] Tá bom! Sei lá. Então... Sei lá... Você já tinha transado com negras antes?
[Teo] Nunca.
[Luiza] Então é isso! A boceta delas deve ser diferente. Ou demoram mais para entrar no clima.
[Teo] Hum... Talvez isso seja uma possib...
[Luiza] Sim, é uma possibilidade. Acabamos com a neura?
[Teo] Não!
[Luiza] O que foi agora?
[Teo] Preciso te confessar uma coisa.
[Luiza] Já estou com medo.
[Teo] Sonhei que saía com ela novamente.
[Luiza] Olha aí que bom sinal! É um indício que você curtiu.
[Teo] É, mas no sonho transamos novamente.
[Luiza] Pelo seu tom de voz, já vi que não conseguiu deixar a menina animadinha.
[Teo] Pior.
[Luiza] Broxou?
[Teo] Pior.
[Luiza] Desisto.
[Teo] Eu chupava o pau dela.
[Luiza tem uma crise de risos e vai para a cozinha pegar água para não se engasgar]
[Teo] Estou aqui abrindo uma confissão minha e você se diverte. Depois reclama de mim. Tomara que morra engasgada com sua saliva.
[Luiza] Melhor com saliva que com pau de travesti. [Luiza volta a rir]
[Teo] Filha da puta.
[Luiza] Ah relaxa, Teo. Você sempre foi meio viado mesmo. Aproveita e sai do guarda-roupas truculento.
[Teo] Não sei por qual motivo exponho isso para você?
[Luiza] Eu também não sei. Afinal de contas, fui EU quem ligou. E o fiz unicamente para te contar o quanto sou frouxa e o quanto tinha chorado. Levando em consideração o meu rosto naquele momento, eu era mais lubrificada que a xoxota da travesti que você comeu.
[Teo] TRAVESTI, NÃO! TRANSEXUAL! Respeite minha namorada. [Os dois caem na risada]
[Luiza] Ah a sua namorada da xoxota torta.
[Teo] Pois é, preciso levar a sua amiga na funilaria.
[Luiza] Ela não é minha amiga.
[Teo] Como não? Você me apresentou como sua amiga.
[Luiza] Eu dei uma forçada para te ajudar a ter assunto com ela. Eu a conheço lá de onde moro. Sempre morou em duas ruas acima da minha. Esbarrávamos pelas ruas e temos amigos em comuns há anos. E só!
[Teo] Droga. Contava com sua intimidade com ela para confirmar a minha desconfiança.
[Luiza] Para quê desconfiança? Você a viu pelada, Teo. Qual o problema?
[Teo] Presta atenção, Luiza. Eu entrei em vários sites de transexuais.
[Luiza] Meu pai, você é mais pervertido que imaginava.
[Teo] Sério! Sem perversão. Apenas curiosidade. Pesquisa de campo.
[Luiza] Pesquisa de campo? Tá, fala.
[Teo] Não tinha uma boceta que parecesse natural. Eram todas em formatos... Digamos... Como posso falar?
[Luiza] Não natural?
[Teo] Isso! E o pior.
[Luiza] Você ficou excitado?
[Teo] Não! Deixa eu falar, caceta!
[Luiza] Caceta quem tem é a sua namorada. Digo, tinha!
[Teo] Engraçadinha. O pior é que nenhuma é igual a outra. São todas estranhas e diferentes ao mesmo tempo. É tipo artesanato. Sabe aquelas banquinhas de artesanato que vende bonecas mucamas de argila? Então? São todas assim. Estranhas e diferentes entre si.
[Luiza] Ai, Teo. Você está me cansando. Se eu chamasse agora mais umas cinco amigas minhas e ficássemos todas peladas na sua frente, você veria que nenhuma é igual.
[Teo] Sim, isso é a essência da natureza. Mas sob as mãos de técnicas médicas as tendências é que fiquem sempre iguais, pois seguem o mesmo gabarito.
[Luiza] Gabarito, Teo? GABARITO? Você sabe que xoxota e prédios são coisas diferentes, né?
[Teo] Tá, eu me expressei mal. Só preciso ter a certeza se ela é uma transexual ou não.
[Luiza] Você quer sair de novo com ela se for transexual?
[Teo] Não!
[Luiza] E se for mulher?
[Teo] Também não! Não disse que o sexo foi estranho?
[Luiza] Porra! Que diferença faz então?
[Teo] Só quero acalmar essa ansiedade em mim. Eu tive pesadelos. PESADELOS! Eu sonhei que chupava um pau. Sabe quantas vezes já sonhei com isso?
[Luiza] Se me disser que aquela não foi a única vez, eu juro que você é viado.
[Teo] Então... Presta atenção...
[Luiza] Foi mais de uma? VOCÊ JÁ SONHOU ISSO ANTES?
[Teo] Luiza...
[Luiza] FALA!
[Teo] Já, já sonhei antes. Na época que jogava polo aquático no Hebraica, tinha aquele banho coletivo após o treino. Sempre que me sentava no banco para começara me vestir, um dos meninos do time ia pegar as coisas no armário e ficava com aquela piroca a dois palmos do meu rosto. Tentava ignorar, mas aquela jeba ficava balançando como um pêndulo de relógio. TIC TAC TIC TAC. Era impossível não olhar. É como um pombo atropelado. Ele está lá, você sabe que é nojento, mas acaba olhando.
[Luiza] Teo, eu nunca sonhei que estava comendo um pombo atropelado.
[Teo] Ah, experimente ficar toda terça e quinta por dois anos encarando um pombo atropelado tão perto. Você ia sonhar que ele era membro da sua família, chamaria de Tio Aloísio e até conseguiria imaginar ele fazendo a piada do Pavê no Natal.
[Luiza] Você é doente. Boa noite, manjador de pau alheio.
[Teo] Sério. Me ajuda.
[Luiza] Como vou te ajudar? Eu não sou amiga dela. Sequer tenho intimidade com ela. O Fábio disse que ela comentou que tinha curtido você naquele dia e pediu que intercedesse. Só isso.
[Teo] É que você falou sempre se esbarrava com ela pelas ruas desde nova. Vai que tinha algum indício.
[Luiza] Teo, ela sempre foi menina.
[Teo] Ela podia ser hermafrodita.
[Luiza] AI CARALHO! E como vou saber se ela era hermafrodita se nem falava com ela?
[Teo] Sei lá! Alguma pista. Sempre jogava bola?
[Luiza] Machista.
[Teo] Batia nos outros meninos?
[Luiza] Machista frouxo.
[Teo] Ela era masculina e sensual ao mesmo tempo?
[Luiza] Bicha enrustida.
[Teo] Quando se sentava, escapava o saco ou o pau?
[Luiza] Manjador de rola.
[Teo] É serio!
[Luiza] Estou falando sério também. Além de estar incrédula em ter essa conversa logo após expor todo o meu drama. Aliás, esqueça meu drama. O seu drama psiquiátrico é muito pior. Preciso dormir.
[Teo] Calma! Ela sempre jogava de zagueiro estilo Odvan? [Som de telefone desligado] Luiza? LUIZA? Merda! Será que tem algum travesti na Glória uma hora desta para consultar?