quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Transbordando o ácido


Games e a raivinha descontrolada


O tema mais discutido no momento é a chacina de uma família de policiais militares no Estado de São Paulo. Tema mais recorrente, a suspeita de o filho de 13 anos ter feito tudo sozinho.
Confesso que não me aprofundei nem um pouco sobre os maiores detalhes do caso para emitir uma opinião sobre. E, mesmo se tivesse, não tenho energia para esse tipo de discussão. A minha motivação para falar sobre o assunto é o retorno àquele batido argumento de que os jogos violentos que o menino era fã foram potencialmente cruciais para influenciá-lo nesse tipo de comportamento.
A ladainha começou quando os jornais, revirando os perfis de redes sociais das vítimas, notaram que a foto principal do menino era de um personagem de jogo de tiro, mortes, sangue e outras nojeirinhas supostamente influenciadoras de personalidade. Daí, a coisa se desenrola (ou piora) quando um amigo diz que ele era viciado em jogos deste tipo. Pronto, começam as opiniões dos especialistas em nada, e normalmente esses são os mais procurados para dar entrevista. Pois bem, já publicaram, ficou por dias nas capas de jornais, revistas e portais de notícias. Não vou discutir, vou usar a mesma premissa e ver onde errei.
Iniciei minha vida nesse meio dos jogos pelo Atari. Meu jogo favorito era Pitfall. Foram anos e mais anos pulando jacarés, me balançando em cipós e, ainda assim, na única vez que tive a oportunidade de usar um cipó, minhas mãos não aguentaram e caí de costas no chão. Talvez por tanto jogar com aquele controle maldito do Atari, minhas mãos ficaram frágeis demais e não suportaram tamanha aventura selvagem.
Outra influência, ainda sobre este jogo, que deixei escapar, foi a certeza de que nunca me perderia. Bastava continuar correndo que chegaria ao mesmo ponto que passei alguns minutos atrás. E, diga-se de passagem, esta influência do jogo, somada aos cenários dos desenhos do Manda-Chuva, criava a eterna sensação que de estamos sempre andando em círculos. Ainda assim, continuei andando por aí prestando atenção no caminho para não me perder. Não foi dessa vez que o videogame influenciaria de forma perigosa nas minhas ações.
O tempo passou, trocamos as plataformas e mesmo assim continuávamos expostos às más influências de games. A febre do momento era o chamado Nintendinho e seu garoto-propaganda Mário Bros. Foram tardes e noites seguidas pulando, correndo, entrando em canos, crescendo de tamanho, diminuindo novamente e por aí fomos. Por sorte, ou por não ser tão sugestionável assim, quase não fui influenciado por eles também. Hoje não dou cabeçada em tijolos para achar moedas, não pulo em tartarugas que estão pelo meu caminho, nem entro em manilhas na esperança de achar um novo mundo. De fato, uma vez ou outra tomei cogumelo, mas tenho certeza absoluta que não foi para crescer.
Nesta mesma época surgiu a paixão pelo futebol. Salvo engano, desperdiçava em média 8 horas por semana assistindo partidas de todos os tipos. Ironicamente, mesmo sendo diversas vezes anunciado que a televisão influencia no comportamento da mesma forma que o videogame, não me tornei craque. Muito pelo contrário, tornei-me preguiçoso e, possivelmente, atrofiei alguns músculos do corpo de tanto sedentarismo.
Mais uma vez mudamos de plataforma, Super Nintendo e Mega Drive. Com eles, vieram Street Fight, Shadow of the Beast, Revenge of Shinobi, Street of Rage e, o mais polêmico e violento de todos, Mortal Kombat. Pronto, tinha tudo para ser a criatura mais agressiva do bairro. Aliás, se me permitem a correção, o meu prédio tinha tudo para ser o mais violento de todos. A molecada toda era viciada nesses jogos. Excluindo dois dementes, que já eram assim antes da televisão colorida, ninguém mais por lá foi visto arrancando cabeças, destruindo carros por livre prazer, praticando o arremesso de estrelas ninja ou andando com latas de lixo nas mãos para jogar nos outros no Metrô. Confesso que uma vez ou outra fui flagrado em batalhas épicas com monstros imaginários na piscina do prédio, mas isso estava muito mais atrelado à esquizofrenia do que influência de games.
Assim como a televisão, segundo muitos daqueles especialistas em conhecimentos diversos, os filmes também eram capazes de influenciar a personalidade e as ações do indivíduo. Não preciso entrar no mérito dos filmes que mais assistia a partir da minha puberdade, mas se essa teoria deles fosse de fato verdade, hoje seria a melhor máquina de sexo já vista. E, convenhamos, o que melhor sei fazer na cama é dormir!
Enfim, pode até ser que em algum momento essa teoria faça sentido comprovado em alguém, mas comigo foi uma nulidade. Anos de games, filmes, televisão e não tive um pingo da minha personalidade alterada. E, para piorar, ainda moro de aluguel. Vejam só, foram quase duas décadas jogando Banco Imobiliário e ainda não comprei meu hotel na Rua Augusta ou duas “casinhas” na Brigadeiro Faria Lima! Deve ter tirado cartas de revés demais. Vai ver foi isso.