terça-feira, 22 de maio de 2012

A morte do futebol brasileiro


     O futebol brasileiro acabou! É sério! Eu sei que essa afirmação é forte, mas não tem como ignorar ou dizer o contrário. Os fatos estão cada vez mais claros, principalmente na mídia. Não concorda? Não entendeu? Pois lembre um pouco comigo. Neste final de semana tivemos o início do Campeonato Brasileiro. O mais disputado! O mais equilibrado! O mais bem nivelado! E mesmo assim qual notícia mais repercutiu ao fim da rodada? Qual? O Herrera se negando a pedir música no Fantástico. Pois é, se isso sozinho não é suficiente para decretar a morte do futebol brasileiro, vou trazer outros fatos para, não somente decretá-lo morto, mas como também lapidá-lo sob enorme pedra.
     Cresci no Maracanã. Minha recordação mais antiga remete ao clássico gol de falta do Zico contra o Santa Cruz (para você ver como sou novo). De lá até alguns anos atrás frequentava assiduamente o gigante carioca. Não somente eu. Eram dezenas de milhares. Raras as fases de vagas magras e jogos sem interesse, o estádio sempre tinha um público capaz de fazer barulho. E hoje, o que temos? Estádios vazios. Finais e jogos que valem vagas com ingressos sobrando. Culpa de quem? Da violência? Acho que não. Quando moleque o pau já comia solto antes, durante e depois dos jogos e mesmo assim era comum 90 mil pessoas em um Fla x Flu, mesmo em sábado de carnaval. Preço? Também não! Naquela época, a maior parte da torcida era composta por pessoas das classes mais humildes. Humilde o suficiente para considerar qualquer ingresso caro. Horário? Esse é de morrer! Lembre-se quando ficou em casa vendo um jogo de meio de semana com o famoso “horário Globo”. O jogo acaba, você pode simplesmente virar para o lado e dormir, mas mesmo assim é muito tarde para quem trabalha no dia seguinte. Agora imagine se estivesse lá, ficasse esperando o trem, mais o tempo de viagem, chegar em casa, tomar banho, comer algo, desligar o cérebro e dormir. Pois é... Bom dia, está na hora de acordar!
     De fato, não vou negar que esses fatores são complicadores, mas sozinhos talvez não afetem na decisão do torcedor. Contudo, somando estes, mais um flanelinha extorquindo na “vaga dele”, tumulto para comprar ingresso e falta de organização dos estádios, isto é, pega tudo que falei e coloca um futebol para valer no outro lado da balança, o que temos? O torcedor lá. Sabe por quê? Porque antes tínhamos tudo isso e mesmo assim lotávamos os estádios. Mas agora, além disto tudo, temos um futebol, equipes, jogadores, espetáculo mequetrefe. Ora, daí não vale a pena passar por tudo isso. Reflexo? Estádio vazio. Mas o que de fato aconteceu para o futebol ficar menos interessante no Brasil?
     Acredito que um dos motivos está relacionado na maneira como lidam com os jogadores e, por consequência, como eles se comportam. Eles atualmente acham que estão acima do próprio clube, do técnico, do presidente e da torcida. E, por isto, agem distorcendo todos os valores consagrados no futebol mundial.
     Temos jogadores artistas, mas nesse momento uso o termo artista para dois sentidos: atores e macaquinhos de circo. Quantas vezes vimos uma jogada sendo desperdiçada porque um jogador abriu mão dela em troca da grama? Várias, né? Existe coisa mais covarde do que jogador que simula falta ou agressão para provocar a expulsão de um adversário? Existe atuação mais ridícula do que a de um time que deixa implícita sua incapacidade de vencer o adversário em quantidade igual de oponentes e, por isto, força expulsões? Isto em parte é culpa da impressa. Por diversas vezes vemos um locutor ou repórter enaltecer a malandragem do jogador brasileiro: “Ele conseguiu uma falta em um local que para o Zé das Couves é pênalti praticamente!”. Ora, jogador não consegue falta, jogador sofre falta. E uso como exemplo o maior jogador da atualidade, o Messi. Quando pega a bola e arranca, mesmo com pontapés, carrinhos, cotoveladas, facadas nas costas, ele só cai quando não conseguiu dar prosseguimento à jogada. Isso é o que se espera de um jogador. O maior exemplo da exaltação a “esperteza” do jogador brasileiro é o famoso lance de Nilton Santos dando um passe para fora da área e confundindo juiz, que oa invés de marcar pênalti, assinalou apenas falta fora da área. Ora, isso é de uma calhordice ímpar! E não estou julgando o atleta, apenas o ato e os que bateram ou batem palma até hoje. Aquilo foi cafajestagem. Agora, se fosse para ver ator encenando, eu desligaria a televisão ao término da novela e dormiria mais cedo. Afinal, não existe coisa mais cretina que ver jogador se contorcendo por algo que sabemos que nem provocou cócegas. Nessas horas concordo com o Chico Anysio, que tentando fazer graça, dizia uma bela verdade. Para ele, quando um jogador precisasse do atendimento médico e maca deveria ficar cinco minutos fora de campo, pois, ou seria para se recompor de tamanha pancada, ou para puní-lo por ficar fazendo encenação.
     No ponto de vista de macaquinhos de circo, temos os jogadores malabaristas. Eu sei que o futebol é para ser bonito, plástico, com recursos cada vez mais sofisticados, mas sempre com um único objetivo: o gol. O que temos hoje é uma série de candidatos à malabarista de sinal fazendo estripulias em campo sem a menor objetividade. Na semi-final contra o São Paulo pelo Campeonato Paulista, Neymar fez uma sequência de dribles sobre o zagueiro tricolor. Nenhum foi rumo ao gol. Todos lateralmente e com o intuito de desmoralizá-lo. Só isso! E a impressa? Ela bate palmas. Chama Neymar de monstro, gênio, craque etc. Ele pega a bola na lateral, para, espera o jogador sul-americano e dá uma “lambreta” nele. Na direção contrária do gol adversário, mas todos ovacionam. Talvez a comemoração e a repetição do lance seja para garantir a sua vaga na trupe do Cirque du Soleil. O mesmo vale com Ronaldinhos, Robinhos e outros “inhos” que adoram um drible contra a própria direção: “Ah, mas não podia perder a oportunidade de dar aquele lençol!”. Ok, assim iremos longe. Já temos até reportagens especiais em jornais esportivos falando apenas sobre dribles assim.
     Pois é, como diz o ditado: “A imprensa anda batendo muita palma para maluco dançar!”. Ela incentiva jogadas antidesportivas, lances que não agregam valor ao esporte e, agora, como última novidade, a chamada micaretização do esporte. Sim! A imprensa faz concurso de dancinha na comemoração do gol. A imprensa dá prêmios para quem repete a coreografia por ela criada. Isto é, o gol que seria o maior momento do futebol (desculpe o plágio com o nome do programa), agora ficou em segundo plano. O que temos é a dancinha. Qual dancinha fulano vai fazer? Não importa o esquema tático, a posição improvisada ou a jogada ensaiada. Ensaiado mesmo que vale é a dancinha. E nessas horas eu invejo muito qualquer jogador sul-americano (exceto brasileiro) ao comemorar o gol. É sempre uma corrida eufórica gritando GOL, punhos cerrados, a expressão de entusiasmo com o ato cumprido. Não é aquela escrotice, como tivemos na final do Campeonato Carioca, quando, perdendo, o Fred faz um golaço de bicicleta e sai calmamente procurando uma câmera para dar mais uma reboladinha de gosto duvidoso e canastrão.
     Aliás, cada dia que passa sinto que a imprensa mais desgosta do gol. No intervalo, não temos mais gols e lances, temos dancinhas, novelinhas (vide Paixão de Torcedor), cartazes, pegadinhas e que tais. Nos noticiários esportivos não temos gols, não temos lances de perigo e personagens importantes na partida, temos repórteres de beira de campo tentando fazer matéria ao mesmo tempo que o gol sai, comentários cretinos sobre nomes de jogadores, suas semelhanças com outras pessoas etc.  Mas fatos que realmente importam em uma partida de futebol? Não, não temos! Essa é a Thiago Leifhertização do futebol.
     É verdade que a cada dia a imprensa esportiva só cai de qualidade. Especialista em arbitragem que erram mesmo com diversos replays em vários ângulos, repórteres fazendo as perguntas chapa-branca mais vagas possíveis e estatísticas cada vez mais inúteis. E tudo isso, senhores, é Padrão Globo. Comentaristas com anos de labuta que ainda não conseguem usar corretamente termos como independentemente, marcação por pressão ou insistem em termos que, mesmo sendo matemático, não entendo: “fulano vai derivando pela esquerda”.
     Senhores, é oficial, o futebol brasileiro morreu! E não foi por morte morrida, foi assassinado! Brutalmente e covardemente assassinado por alguém que insiste em querer reinventar a transmissão do esporte. Por alguém que acha que gracinha e a piadinha sempre tem lugar na transmissão. Por uma emissora que confunde programa de auditório com esporte popular. O futebol brasileiro ficou chato, sem graça, sem cor e sem cheiro. Eu perdi as esperanças, pois mesmo sabendo que essa é a última que morre, também sei que é a que mais decepciona.