Words (efeito Luminance - Dystopia) |
Eu disse que jamais usaria este espaço para fazer correções de
linguagens e coisas do tipo, mas não posso me abster de fazer o que mais gosto:
comentar sobre expressões que não fazem sentido. Pois é, vira e mexe escuto uma
expressão por aí que não faz sentido algum, ainda mais para alguém como eu,
absurdamente cartesiano e ortodoxo (quase um pleonasmo forçado para enfatizar).
E, com essa tal de internet, as expressões são como doenças contagiosas, se
espalham e se multiplicam exponencialmente.
Uma das expressões que acho mais
controversa é a tal de “muito pouco”. “Fulano não passou de ano por muito pouco”.
“Choveu muito pouco nos últimos três meses”. ”Muita pouca gente aderiu à
campanha”. Ora, não me importa se está correto ou não, o que interessa é que
não faz sentido. Ou é muito ou é pouco! Os dois não dá!!! A sensação é que se
opta por expressões comuns por preguiça ou falta de vocabulário. Que mal tem em
usar “pouquíssimo”, “em pequenas quantidades” e semelhantes? Nunca entendi a
pessoa optar por falar “ele vai muito pouco ao dentista” ao invés de “ele quase
não vai ao dentista” ou “ele raramente vai ao dentista”. Novamente, não tenho a
pretensão de sacramentar que o termo “muito pouco” está errado. Digo apenas que
não faz sentido e é menos sofisticado. Ou, se preferirem, é muito pouco
sofisticado.
Existem duas expressões usadas comumente
para despedidas que para mim são de lascar. Uma, inclusive, é preferida pelos
locutores de rádio, principalmente da JB FM. Tanto que a usam no Twitter
também. É o tal de “vou ficando por aqui”. Ora bolotas, se o cara quer dizer
que vai embora, como diz que vai ficar por ali mesmo? E o melhor é que falam “vou
ficando por aqui, mas fiquem na companhia do José das Couves”. Peraí, o cara então
não vai embora e me passa para outro? Ele não quer a minha companhia, é isso? O
detalhe sórdido é o uso do gerúndio para uma ação inerte (ficar ali) que é
exatamente oposta da que vai acontecer. Ele não “vai ficar ficando” por lá, ele
vai embora de lá. Ele está indo! O máximo que consigo absorver como despedida
em uma frase como aquela é que o cara está se dissolvendo. “Estou ficando por
aqui. Escorrendo pelo chão. Peguem um balde e um rodo!”.
A outra expressão muito usada em
despedidas é a que mais me irrita. Não somente pela construção, mas também pelo
deboche. É a tal de “deixa eu ir indo então”. Existe construção mais amorfa do
que esta? O sujeito (literalmente) usa o mesmo verbo duas vezes e não consegue
precisar o que está para acontecer. Ele quer ir, mas não andando, de carro,
voando ou plantando bananeira. Ele quer ir... Indo! E com o seguinte agravante,
ele pede (“deixa”), dando entender que você não está permitindo. Isso passa que
o desespero dele é tamanho que não importa mais como ele vai, contudo que ele
vá... Indo! E sabe o mais irônico disto? Quem fala esta expressão geralmente é
a pessoa que está por falar pelos cotovelos e se auto-interrompe a si mesma
(foi de propósito) com esta pérola. E como não se fosse suficiente, isto ocorre
com aquela mãozinha no seu ombro tocando de ponta de dedos “deixa eu ir indo
então”. Vai... Vai, mas vai para o inferno!