Companhia
artificial
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Apresento-lhes o aprimoramento de uma das maiores invenções que conhecem.
O
vendedor se referia ao sensor de presença de banheiros. Aquele aparelhinho que
identifica quando alguém entra no banheiro e aciona a luz automaticamente. Sua
função, aparentemente pela demora em acionar a luz, deve ser nos fazer procurar
pelo interruptor no escuro enquanto controlamos nossas vontades naturais
primitivas.
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Nada disso! A função do sensor sempre foi evitar o desperdício de luz. Não
temos culpa se o estabelecimento coloca lâmpadas de demorado acionamento.
Sim,
todos sabem que o propósito do aparato é economizar energia por conta de
pessoas que não apagam as luzes ao sair do banheiro. Contudo, não é por isso
que iremos descartar este inconveniente a ele associado. Inconvenientes na
realidade, pois existem mais.
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Desculpe-me, senhor, mas desconheço os demais.
Quem
nunca teve de ficar no banheiro acenando para o além no intuito de provar sua
permanência por lá porque o sensor desativou as luzes? No caso das pessoas
sentadas é até um pouco divertido, pois acabamos fingindo que estamos em um
estádio de futebol fazendo uma mini Hola. O problema maior é para os homens de
pé enquanto mijam. Pau em uma mão e a outra para o alto balançando. Não é muito
legal fazer uma cópia da coreografia do Ricky Martin.
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O tempo é razoável para a atividade de qualquer pessoa em um banheiro.
Não,
não é! Uma pessoa sempre demora um tempo elevado em banheiro de bar. Mulheres
se demoram retocando a maquiagem ou conversando algo entre si que não querem
falar à mesa na frente de outras pessoas. Bexigas são exploradas ao extremo
para minimizar a quantidade de idas ao banheiro. Fato que por consequência
acarreta em mais tempo para o esvaziamento dela.
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Ok, talvez em um bar o tempo do sensor precise ser revisto, mas para banheiros
de trabalho o tempo é fantástico.
O
vendedor continuava a se equivocar. As pessoas gastam muito mais tempo em
banheiro do trabalho do que no de casa. Tudo é desculpa para enrolar. Ao voltar
do almoço, passam fio dental cuidadosamente em cada dente, escovam em
movimentos lineares, circulares, com força e suavemente, depois bocejam com
água e, por fim, um gargarejo com antisséptico bucal. Em suma, para retardar sua
volta ao local de trabalho, passam a ter por dia um cuidado com a higiene bucal
maior que em todo período de férias.
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Senhor, gostaria que parasse de desconversar. O objetivo da minha presença hoje
é apresentar um novo aparato que vai revolucionar o sensor que tanto recrimina.
A tecnologia em questão se tratava de um
sensor que não identificava a presença por movimentos, mas por interação. Isto
é, o sensor era composto por câmeras, autofalantes e microfones. Conforme a
pessoa conversava com o sensor, ele manteria as luzes acessas. A proposta
parecia ao mesmo tempo divertida e estapafúrdia. Como era de se esperar, exigia
um investimento muito alto. Com isso, quase todos os comerciantes presentes
naquela apresentação hesitaram, exceto o Seu Joaquim. Conhecido por inovar e ter
atrações diferentes em seu estabelecimento, Seu Joaquim contratou o serviço,
exigiu a imediata instalação e, por estar sempre muito atarefado, nem pode
acompanhar o momento do primeiro cliente estreando a peripécia tecnológica.
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Mas que diabos – exclamou o cliente depois de quase dois minutos procurando por
um interruptor em um banheiro escuro.
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Olá – surgiu a voz logo após as luzes
se acenderem.
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Quem está aí?
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Ninguém, senhor! Eu sou o Sense Three Thousand,
sensor automático de luzes por interação.
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Ah, que coisa!
-
O senhor precisa de ajuda?
-
O quê?
-
Precisa de alguma ajuda?
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Ajuda? Não! Preciso de silêncio. Quero apenas mijar em paz.
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Senhor, meus circuitos só funcionam à
base de interação. Caso não tenhamos interação, eles desativarão as luzes.
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Desculpe, Sense Tri Tauzandi, mas minha bexiga só funciona à base de silêncio,
portanto já sabe, né?
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Como quiser, senhor.
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Obrig... EI! ACENDA ESSAS MALDITAS LUZES!
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Senhor, sem interaç...
-
Eu sei! Eu sei! Já entendi! Fale qualquer coisa enquanto tento mijar.
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Senhor, imagino que seja a terceira vez
que usa o termo mijar. Não acredito que este linguajar seja adequado. Que tal
urinar?
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Que tal urinar? Enquanto ficar me recriminando, não vai rolar urinar, mijar,
pipi, nem abrir a torneirinha. Tente ser agradável ao menos.
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Você tem um belo pênis!
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O QUE? MAS QUE DIABOS?
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Eu o ofendi?
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Não! Digo, não sei! Mas quem quer receber de um robô um...
-
Não sou um robô, sou um algoritmo.
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Que seja! Quem quer receber de um algoritmo o elogio sobre o pau?
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Pênis!
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Você está me irritando! O que passou pelos seus circuitos que seria uma boa
ideia elogiar meu... meu... meu pênis?
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A formação das minhas falas é baseada em
associações lógicas. O senhor pediu um elogio, o qual associado à informação
cadastrada sobre o problema que homens têm sobre o próprio órgão acabou
resultando no que ouviu.
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Eu não tenho problemas com meu pau.
-
Pênis.
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PAU! Eu não tenho problemas com o meu pau.
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Jura, senhor?
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Sim, por que da pergunta?
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Pelo tamanho dele e as informações
estatísticas que tenho cadas...
-
EI! Meu pau não é pequeno!
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Diria sete... oito centíme...
-
ELE NÃO É PEQUENO!
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Minha câmera tem uma precisão com margem
de erro de meio milímetro, senhor. Então lhe garant...
-
É UM MOMENTO RUIM PARA AVALIÁ-LO!
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Senhor, enrijecer seu pênis não vai mudar
a realidade. Além de não ser uma boa ideia para conseguir urinar ou acertar o
vaso.
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Você é um programa bem desagradável.
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Senhor, falar a verdade não me faz
desagradável.
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Sim, faz! É um péssimo defeito!
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Não, não é um defeito. Segundo
informações cadastradas, a honestidade é uma qualidade. Em contrapartida,
dificuldade de urinar em ambientes com vozes ou anomalias físicas são.
Aparentemente,
Seu Joaquim terá dificuldades para devolver o equipamento destruído ao vendedor
e argumentar que a culpa foi do aparato mal programado.