quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Histórias reais inventadas por mim

Companhia artificial
- Apresento-lhes o aprimoramento de uma das maiores invenções que conhecem.
O vendedor se referia ao sensor de presença de banheiros. Aquele aparelhinho que identifica quando alguém entra no banheiro e aciona a luz automaticamente. Sua função, aparentemente pela demora em acionar a luz, deve ser nos fazer procurar pelo interruptor no escuro enquanto controlamos nossas vontades naturais primitivas.
- Nada disso! A função do sensor sempre foi evitar o desperdício de luz. Não temos culpa se o estabelecimento coloca lâmpadas de demorado acionamento.
Sim, todos sabem que o propósito do aparato é economizar energia por conta de pessoas que não apagam as luzes ao sair do banheiro. Contudo, não é por isso que iremos descartar este inconveniente a ele associado. Inconvenientes na realidade, pois existem mais.
- Desculpe-me, senhor, mas desconheço os demais.
Quem nunca teve de ficar no banheiro acenando para o além no intuito de provar sua permanência por lá porque o sensor desativou as luzes? No caso das pessoas sentadas é até um pouco divertido, pois acabamos fingindo que estamos em um estádio de futebol fazendo uma mini Hola. O problema maior é para os homens de pé enquanto mijam. Pau em uma mão e a outra para o alto balançando. Não é muito legal fazer uma cópia da coreografia do Ricky Martin.
- O tempo é razoável para a atividade de qualquer pessoa em um banheiro.
Não, não é! Uma pessoa sempre demora um tempo elevado em banheiro de bar. Mulheres se demoram retocando a maquiagem ou conversando algo entre si que não querem falar à mesa na frente de outras pessoas. Bexigas são exploradas ao extremo para minimizar a quantidade de idas ao banheiro. Fato que por consequência acarreta em mais tempo para o esvaziamento dela.
- Ok, talvez em um bar o tempo do sensor precise ser revisto, mas para banheiros de trabalho o tempo é fantástico.
O vendedor continuava a se equivocar. As pessoas gastam muito mais tempo em banheiro do trabalho do que no de casa. Tudo é desculpa para enrolar. Ao voltar do almoço, passam fio dental cuidadosamente em cada dente, escovam em movimentos lineares, circulares, com força e suavemente, depois bocejam com água e, por fim, um gargarejo com antisséptico bucal. Em suma, para retardar sua volta ao local de trabalho, passam a ter por dia um cuidado com a higiene bucal maior que em todo período de férias.
- Senhor, gostaria que parasse de desconversar. O objetivo da minha presença hoje é apresentar um novo aparato que vai revolucionar o sensor que tanto recrimina.
 A tecnologia em questão se tratava de um sensor que não identificava a presença por movimentos, mas por interação. Isto é, o sensor era composto por câmeras, autofalantes e microfones. Conforme a pessoa conversava com o sensor, ele manteria as luzes acessas. A proposta parecia ao mesmo tempo divertida e estapafúrdia. Como era de se esperar, exigia um investimento muito alto. Com isso, quase todos os comerciantes presentes naquela apresentação hesitaram, exceto o Seu Joaquim. Conhecido por inovar e ter atrações diferentes em seu estabelecimento, Seu Joaquim contratou o serviço, exigiu a imediata instalação e, por estar sempre muito atarefado, nem pode acompanhar o momento do primeiro cliente estreando a peripécia tecnológica.
- Mas que diabos – exclamou o cliente depois de quase dois minutos procurando por um interruptor em um banheiro escuro.
- Olá – surgiu a voz logo após as luzes se acenderem.
- Quem está aí?
- Ninguém, senhor! Eu sou o Sense Three Thousand, sensor automático de luzes por interação.
- Ah, que coisa!
- O senhor precisa de ajuda?
- O quê?
- Precisa de alguma ajuda?
- Ajuda? Não! Preciso de silêncio. Quero apenas mijar em paz.
- Senhor, meus circuitos só funcionam à base de interação. Caso não tenhamos interação, eles desativarão as luzes.
- Desculpe, Sense Tri Tauzandi, mas minha bexiga só funciona à base de silêncio, portanto já sabe, né?
- Como quiser, senhor.
- Obrig... EI! ACENDA ESSAS MALDITAS LUZES!
- Senhor, sem interaç...
- Eu sei! Eu sei! Já entendi! Fale qualquer coisa enquanto tento mijar.
- Senhor, imagino que seja a terceira vez que usa o termo mijar. Não acredito que este linguajar seja adequado. Que tal urinar?
- Que tal urinar? Enquanto ficar me recriminando, não vai rolar urinar, mijar, pipi, nem abrir a torneirinha. Tente ser agradável ao menos.
- Você tem um belo pênis!
- O QUE? MAS QUE DIABOS?
- Eu o ofendi?
- Não! Digo, não sei! Mas quem quer receber de um robô um...
- Não sou um robô, sou um algoritmo.
- Que seja! Quem quer receber de um algoritmo o elogio sobre o pau?
- Pênis!
- Você está me irritando! O que passou pelos seus circuitos que seria uma boa ideia elogiar meu... meu... meu pênis?
- A formação das minhas falas é baseada em associações lógicas. O senhor pediu um elogio, o qual associado à informação cadastrada sobre o problema que homens têm sobre o próprio órgão acabou resultando no que ouviu.
- Eu não tenho problemas com meu pau.
- Pênis.
- PAU! Eu não tenho problemas com o meu pau.
- Jura, senhor?
- Sim, por que da pergunta?
- Pelo tamanho dele e as informações estatísticas que tenho cadas...
- EI! Meu pau não é pequeno!
- Diria sete... oito centíme...
- ELE NÃO É PEQUENO!
- Minha câmera tem uma precisão com margem de erro de meio milímetro, senhor. Então lhe garant...
- É UM MOMENTO RUIM PARA AVALIÁ-LO!
- Senhor, enrijecer seu pênis não vai mudar a realidade. Além de não ser uma boa ideia para conseguir urinar ou acertar o vaso.
- Você é um programa bem desagradável.
- Senhor, falar a verdade não me faz desagradável.
- Sim, faz! É um péssimo defeito!
- Não, não é um defeito. Segundo informações cadastradas, a honestidade é uma qualidade. Em contrapartida, dificuldade de urinar em ambientes com vozes ou anomalias físicas são.
Aparentemente, Seu Joaquim terá dificuldades para devolver o equipamento destruído ao vendedor e argumentar que a culpa foi do aparato mal programado.