segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Histórias Reais Inventadas por Mim

Dilemas juvenis
Ela deitada na própria cama de barriga para cima mexendo no celular. Ele sentado no chão, encostado na cama. Os dois falavam amenidades e futilidades o dia todo. Alguns momentos de silêncio, nada muito longo, eram sempre quebrados por um comentário qualquer que gerava um longo assunto. Era assim por toda à tarde.
- Como está a minha avaliação?
- Ahn?
- A minha avaliação no Lulu – ele repete se prolongando. – Aquele aplicativo que vocês avaliam os caras com quem saem. Acho que andaram detonando a minha nota.
- Jura? Peraí – ela responde sem tirar os olhos do celular. – Vou ver para você.
- Aposto que foi aquela dentuça de merda – ele seguia falando, quase que sozinho, pois ela não tirava os olhos do celular. – Muito babaquinha. Incrível! Não aguentou a brincadeira que fizemos no shopping outro dia e agora está nessa de me fuder nessa parada.
- Ih rapaz!
- O que foi? Caiu muito?
- Não, peraí.
- Ela me detonou, né?
- Não, merda – ela gesticula com a mão para que ele faça silêncio. – Deu uma merda aqui.
- Como assim? O que houve?
- Não está mais aparecendo você.
- Como não?
- Vou procurar de novo?
- Será que meu perfil bombando derrubou o servidor?
- Não! Para, porra!
- Então?
- Não aparece na lista de homens. Será que trocaram seu sexo no Facebook?
- Ei, pode parar! A sapata aqui é você!
- Ah tá – ela gesticula com o dedo médio para ele. – No seu cu arrombado!
- Pare de perder tempo vendo perfil de mulher de biquíni e me ache aí.
- Não estava vendo nada disso.
- Claro que estava! Daí o programa achou que era uma sapata e não deixa mais ver homens.
- Onde que estava vendo menina de biquíni?
- Aquela menina estranha de biquíni na beira da praia com uma frase do Gonzaguinha que ironicamente tinha alergia à areia.
- A minha prima?
- Sei lá! Ela tinha um corpo estranho em forma de moringa!
- Era minha prima, porra! Não fala assim dela!
- Mas ela é assim!
- Nada disso. Ela é muito bonitinha, tá?
- Você pegaria?
- Claro que não!
- Viu? Baita canhão!
- Eu não pegaria porque não sou lésbica!
- Sapata!
- Lésbica! Odeio esse termo. Tão ofensivo.
- Ficou ofendida?
- Claro!
- Lésbica sensível!
- Imbecil! Fiquei ofendida por achar que sou lésbica, não pelo termo que usou. Ah porra! Vai pedir para outra pessoa ver então.
- Foi mal! Veja aí!
- Não está aparecendo! Sumiu!
- Você escangalhou o meu Lulu!
- Não! Eu não!
- Você quebrou o meu Lulu, sua invejosa?
- Por que disso agora?
- Isso é por que fiquei com alguma menina que você gostava?
- Não, merda!
- Então por qual motivo escangalhou meu Lulu?
- Nunca nem cheguei perto dele, tá?
- Como fico com um Lulu com defeito?
- Sei lá!
- Não precisava fazer isso.
- Para!
- Cruel! Cruel demais da sua parte!
- Não fiz nada! Pede pra outra menina ver o seu Lulu!
- Como? Como que ela vai ver meu Lulu, se ele está escondido? Você afugentou o meu Lulu! Ele já não era grandes coisas, mas pelo menos divertia algumas meninas.
- Cara, não estou achando.
- Pois continue procurando, você quem perdeu. Agora não tenho nem mais o primeiro L de Lulu. Como pode fazer algo do tipo com meu Lulu?
- Eu não cheguei perto dele! Só não sei onde está!
- Pode procurando! Chame a Madre Vasconcelos.
- Quem?
- Madre Vasconcelos.
- Quem é?
- A minha mãe costumava chamar a Madre Vasconcelos quando perdia algo.
- Nunca ouvi falar. Funcionava?
- Ela usava com frequência. Devia funcionar.
- E acha que a Madre Barcelos é capaz de...
- Vasconcelos!
- Sim, a Madre Vasconcelos é capaz de achar seu Lulu?
- Falando assim soou meio heresia.
- Eu uso São Longuinho.
- O dos pulinhos?
- Sim, parece mais simpático também. Madre Vasconcelos é um nome muito sério. Acho que depois que ela mostrar onde está o que perdi, vai dar um sermão sobre ser relaxada e tal. São Longuinho é mais bonzinho. Nem cobra os três pulinhos.
- Então pede para qualquer um. Ache o meu Lulu que você não sabe onde enfiou.
- Ei, não enfiei seu Lulu em lugar algum.
- Nem chegou perto?
- Nem um pouco.
- Nem gosta?
- Não! Nadinha!
- Sapata!
- Babaca.
- Vai, pode procurando.
- Por que procuraria?
- Porque você quem perdeu. Toda relaxada.
- Sou nada relaxada.
- Claro que é! Olha esse armário abarrotado de roupa! Tem quatro blusas em cada cabide.
- Eu tenho muitas.
- Que seja. Olha essa gaveta toda torta com excesso de peso que nem fecha. Vazando calcinha para todo lado. Parece o Titanic afundando e as calcinhas tentando fugir. “Hope e Victoria Secrect’s primeiro!”.
- Larga de ser exagerado.
- “Capitão, as calcinhas da Marisa e da C&A estão presas no fundo da gaveta.”.
- Para!
- “Salve todas! Menos as furadas e com freada!”.
- Não tem calcinha furada, nem com freada na minha gaveta!
- Ali! Toda esgarçada! Não serve nem para polir carro.
- Nenhuma calcinha serve para polir carro. Todo homem sabe disso.
- Sapata!
- Vai se foder. Não vou mais procurar coisa alguma.
O silêncio retorna ao quarto. Ele, no mesmo lugar, dá umas tímidas batucadas no joelho. Ela, agora de bruços na cama, continua mexendo no celular.
- Ih, achei!
- Viu? E aí?
- Caiu mesmo sua nota.
- Dentuça arrombada! Já falei que ela tem uma queda por você?
- Jura?
- Sapata!