quarta-feira, 3 de maio de 2017

Que sacanagem!



O lamentável episódio envolvendo o violador (interprete tanto no bom, quanto no mau sentido) de Helenas das novelas globais voltou às pautas nesta semana. Surgiu um novo fato. Aparentemente, ele e a figurinista eram amantes já havia algum tempo. Como disse, surgiu um novo fato e nada mais. Tal informação é apenas nova, mas nem por isso é um fato atenuante ou incriminador. Até porque, ser amante de alguém não lhe dá o direito de meter a mão na faixa nobre de outra pessoa sem consentimento.
De toda essa história, o que mais me deixou perplexo foi a tentativa do Zé Mayer se passar por machão. Isto é, segundo ele, sua origem é de uma época em que homens de verdade tomavam essas iniciativas, tinham a certeza que era a ação a ser feita e, assim, se destacavam dos outros sem atitudes que justificavam suas frouxidões em regras de etiquetas, algumas classificadas como coisa de bichinha. Não, não tinha como Zé Mayer se sair por cima nessa história. Poderia até sair como machão ao assumir de fato a merda que fez, de qualquer forma seria tachado de escroto.
Seu argumento desviando sua culpa para época em foi criado foi motivo para textões enaltecendo pais e avôs da mesma época que se comportavam de maneira exatamente oposta. Como se eles merecessem uma placa por isso, não é? De qualquer maneira, entendi a ideia dos textos de confrontar a época do Zé com a época dos parentes. É uma ideia que até me agrada, mas a proximidade familiar me deixa desconfortável. Era possível fazer algo melhor. Existia a possibilidade de mostrar que o argumento dele foi muito mais lamentável que todo o episódio.
Zé Mayer tem a idade de papai (não, não farei a comparação), ele nasceu em 1949. Descontando os primeiros anos da vida como criança, temos um Zé Mayer adolescente no surgimento da pornochanchada. Não existe algo mais apropriado, que seja da mesma época, para ser utilizado como balizador no episódio em questão do que os filmes de pornochanchadas nacionais. Sexismo explícito na grande tela. Os protagonistas não pensavam em outra coisa a não ser sexo. Quando homens pensavam em como foder o máximo de bocetas possíveis, quando mulheres pensavam em como não cair em tentação. As cantadas e abordagens eram assumidamente calhordas. Isto é, a imagem que passavam era de escrotidão. Ninguém era idolatrado por aquelas atitudes. Tanto que na maior parte das vezes os personagens eram pessoas de pouca instrução, cargos baixos e nenhuma educação. Exemplo do Seu Noronha interpretado por Lima Duarte em Os Sete Gatinhos. Ele, inclusive, tinha vergonha de assumir que era contínuo (“Eu sou contínuo e você é um filho da puta”).
Na época das pornochanchadas, ninguém chegava já sentando a mão na Dona Flor (referência a um dos mais famosos filmes da época). Quando faziam, era uma pessoa detestável. No mesmo Os Sete Gatinhos tem a cena do deputado (interpretado pelo Mauricio Valle que comumente faz vilões e personagens odiáveis) correndo atrás de uma Regina Casé nua em pelos (literalmente) para tentar agarrá-la à força que reforça essa imagem. Por sorte, Regina Casé conseguiu escapar na piscina e saiu ilesa, inclusive de pegar um resfriado. Todavia, nem sempre a mocinha conseguia escapar de investidas inapropriadas. É o caso da Sonia Braga em A Dama da Lotação. Após negar sexo ao seu marido na noite de núpcias, ele a estupra. Traumatizada com aquilo, ela desenvolve um bloqueio ao próprio marido ficando incapaz de conseguir transar com ele. Para saciar seus desejos, ela começa a ter relações com homens aleatórios que encontra pelos ônibus da cidade. Não sei para vocês, mas, para mim, esse enredo tem um enorme poder didático.
A linha de pensamento de Zé Mayer é falha, além de desnecessária. Contemporâneos dele que foram repetidamente estrelas desses filmes como Nuno Leal Maia e Carlo Mossy (praticamente o rei das pornochanchadas) nunca se envolveram em escândalos dessa magnitude. Outros, mais velhos e, pela teoria, mais antiquados e então propensos a pensar igual, como Lima Duarte e Ary Fontoura também possuem uma ficha impecável no que se refere ao comportamento esperado em sociedade. Em suma, ele fechou com chave de merda o episódio ao tentar justificar sua atitude.
O que não pode deixar de ser observado é que a combinação mulheres com atores chamados José que trabalham na Globo costuma ser traumática. Um mete a mão, o outro cospe. Ao menos um já está sendo execrado publicamente. Quem sabe o outro receba um tratamento menos benevolente em uma próxima recaída, né não?

Que sacanagem! é uma rapidinha semana só para manter o interesse.