O lamentável episódio envolvendo o
violador (interprete tanto no bom, quanto no mau sentido) de Helenas das
novelas globais voltou às pautas nesta semana. Surgiu um novo fato.
Aparentemente, ele e a figurinista eram amantes já havia algum tempo. Como
disse, surgiu um novo fato e nada mais. Tal informação é apenas nova, mas nem
por isso é um fato atenuante ou incriminador. Até porque, ser amante de alguém
não lhe dá o direito de meter a mão na faixa nobre de outra pessoa sem
consentimento.
De toda essa história, o que mais me
deixou perplexo foi a tentativa do Zé Mayer se passar por machão. Isto é, segundo
ele, sua origem é de uma época em que homens de verdade tomavam essas
iniciativas, tinham a certeza que era a ação a ser feita e, assim, se
destacavam dos outros sem atitudes que justificavam suas frouxidões em regras
de etiquetas, algumas classificadas como coisa de bichinha. Não, não tinha como
Zé Mayer se sair por cima nessa história. Poderia até sair como machão ao assumir
de fato a merda que fez, de qualquer forma seria tachado de escroto.
Seu argumento desviando sua culpa para
época em foi criado foi motivo para textões enaltecendo pais e avôs da mesma
época que se comportavam de maneira exatamente oposta. Como se eles merecessem
uma placa por isso, não é? De qualquer maneira, entendi a ideia dos textos de
confrontar a época do Zé com a época dos parentes. É uma ideia que até me
agrada, mas a proximidade familiar me deixa desconfortável. Era possível fazer
algo melhor. Existia a possibilidade de mostrar que o argumento dele foi muito
mais lamentável que todo o episódio.
Zé Mayer tem a idade de papai (não,
não farei a comparação), ele nasceu em 1949. Descontando os primeiros anos da
vida como criança, temos um Zé Mayer adolescente no surgimento da
pornochanchada. Não existe algo mais apropriado, que seja da mesma época, para ser
utilizado como balizador no episódio em questão do que os filmes de
pornochanchadas nacionais. Sexismo explícito na grande tela. Os protagonistas
não pensavam em outra coisa a não ser sexo. Quando homens pensavam em como
foder o máximo de bocetas possíveis, quando mulheres pensavam em como não cair
em tentação. As cantadas e abordagens eram assumidamente calhordas. Isto é, a
imagem que passavam era de escrotidão. Ninguém era idolatrado por aquelas
atitudes. Tanto que na maior parte das vezes os personagens eram pessoas de
pouca instrução, cargos baixos e nenhuma educação. Exemplo do Seu Noronha
interpretado por Lima Duarte em Os Sete Gatinhos. Ele, inclusive, tinha
vergonha de assumir que era contínuo (“Eu
sou contínuo e você é um filho da puta”).
Na época das pornochanchadas, ninguém
chegava já sentando a mão na Dona Flor (referência a um dos mais famosos filmes
da época). Quando faziam, era uma pessoa detestável. No mesmo Os Sete Gatinhos
tem a cena do deputado (interpretado pelo Mauricio Valle que comumente faz vilões
e personagens odiáveis) correndo atrás de uma Regina Casé nua em pelos (literalmente)
para tentar agarrá-la à força que reforça essa imagem. Por sorte, Regina Casé conseguiu
escapar na piscina e saiu ilesa, inclusive de pegar um resfriado. Todavia, nem
sempre a mocinha conseguia escapar de investidas inapropriadas. É o caso da
Sonia Braga em A Dama da Lotação. Após negar sexo ao seu marido na noite de
núpcias, ele a estupra. Traumatizada com aquilo, ela desenvolve um bloqueio ao próprio
marido ficando incapaz de conseguir transar com ele. Para saciar seus desejos,
ela começa a ter relações com homens aleatórios que encontra pelos ônibus da
cidade. Não sei para vocês, mas, para mim, esse enredo tem um enorme poder didático.
A linha de pensamento de Zé Mayer é
falha, além de desnecessária. Contemporâneos dele que foram repetidamente
estrelas desses filmes como Nuno Leal Maia e Carlo Mossy (praticamente o rei
das pornochanchadas) nunca se envolveram em escândalos dessa magnitude. Outros,
mais velhos e, pela teoria, mais antiquados e então propensos a pensar igual, como
Lima Duarte e Ary Fontoura também possuem uma ficha impecável no que se refere
ao comportamento esperado em sociedade. Em suma, ele fechou com chave de merda
o episódio ao tentar justificar sua atitude.
O que não pode deixar de ser observado
é que a combinação mulheres com atores chamados José que trabalham na Globo
costuma ser traumática. Um mete a mão, o outro cospe. Ao menos um já está sendo
execrado publicamente. Quem sabe o outro receba um tratamento menos benevolente
em uma próxima recaída, né não?
Que
sacanagem! é uma rapidinha semana só para manter o
interesse.