sábado, 7 de fevereiro de 2015

Histórias reais inventadas por mim

Fome e ereção
Devia ser a quarta ou quinta vez que a Márcia dizia ao Marcos que estava com fome. E pelo tempo que eles estavam juntos, ignorar esta informação não era algo muito esperto considerando que o mau humor dela sempre foi diretamente proporcional à sua fome. Não sei se vocês entenderam o que tentei falar. Não precisam ter vergonha, regra de três é algo que poucos aprenderam bem no ensino fundamental. O que quis dizer foi que conforme aumentava a fome, aumentava também o mau humor. Tudo bem, explicar para quem entendeu só expõe o meu lado patético. Assim como explicar para quem não entendeu só traumatiza o lado matemático da pessoa.
Enfim, Márcia se levantou e anunciou que iria pedir uma pizza, mesmo sabendo que o Marcos não aprovava este tipo de alimentação durante a semana. Ele era um chato metódico de quarenta e poucos anos com regras para tudo que possam imaginar. Dentre as regras, existia a que terça, aquele dia, era dia de sexo. Ele estava apenas esperando acabar o capítulo do seu seriado favorito sobre policiais que discutem a vida particular na viatura por cinquenta minutos e nos dez minutos finais resolvem um crime cabuloso. Por motivos óbvios, prestar atenção nos minutos finais era uma obrigação, mas pela condição de Márcia não seria uma tarefa fácil:
- Marcos, qual o sabor da sua metade – perguntou a Márcia, pois já era tradição entre eles que cada um pedisse uma metade do seu sabor e assim não brigavam. – Anda, homem! Tira esse olho da televisão! Ahn? Que acenar que nada! Responde ou vou pedir uma inteira de rúcula. Ah, quer me dar atenção agora, né? Fala logo que o rapaz aqui está esperando no telefone. Ahn? Aliche? Está doido, Marcos? Vai ficar com azia a noite toda e amanhã você acorda cedo para o RPG. Vou pedir Margerita para você.
Feito o pedido, Márcia foi à cozinha separar pratos, talheres, cortador de pizza, conferiu catchup e outras coisas na geladeira. Neste interim, ouviu que a série que Marcos assistia acabou e pensou no que estava por vir. Não foram necessários muitos minutos para que sua previsão se concretizasse. Assim que começou a música tema dos créditos, lá estava Marcos abraçando e se esfregando na Márcia por trás como fazia toda terça-feira. Um processo de acasalamento protocolar sem graça que só na cabeça dele parecia ser sexy e persuasivo.
- Pode parando, Marcos – falou a Marcia enquanto o expulsava dando uma bundada nele. – Já falei que estou com fome e irritada. Não vem com esse pau para cima de mim ou corto ele fora e faço um sanduíche. Ou melhor, um petisco, porque nem duro ele está.
O Marcos já estava naquela fase de ereções irregulares há um bom tempo. Não conseguia mais com a facilidade que tinha quando mais jovem, precisava de estímulos extras e talvez por isso passou a fixar datas, pois, quem sabe, forçando menos as tentativas seria mais fácil. Até que deu certo no início, mas era apenas tesão acumulado. Depois com o tempo ficou cada vez mais difícil e frustrante, para ambas as partes.
Expulso da cozinha, ele foi para a sala e ficou trocando os canais sem prestar atenção de fato o que passava. Na sua cabeça tudo que passava era que a terça seria desperdiçada. Márcia daria prioridade à pizza, os dois ficariam de barriga cheia e acabariam dormindo. Ele precisava de uma abordagem enfática imediatamente. Precisava ser naquele momento, nem um minuto a mais. O tempo para o entregador chegar era suficiente para toda a atividade, inclusive os minutinhos adicionais abraçadinhos ao final.
A ideia de ser algo com tempo estipulado causou algo em Marcos. Ele era uma pessoa bastante competitiva e a adrenalina de correr contra os minutos foi um afrodisíaco. Ele se imaginou agarrando a Márcia sobre a mesa da cozinha, a sacanagem já rolando solta e frenética quando toca o interfone. Atendemos ou não? Eles não parariam. Márcia entrelaçaria suas pernas em volta de sua cintura e os dois engatados iriam até a área de serviço para Marcos atender e autorizar a subida do entregador. Temos pouco tempo agora, diria a Márcia. É agora que você vai gozar, afirmaria Marcos enquanto aumentaria a intensidade do sexo, apertaria nos locais certos e faria Márcia arrepiar cada pelo do seu corpo. Quarenta segundos depois, após subir cinco andares de elevador, o entregador tocaria a campainha. Todavia, tudo que o prédio escutaria seria o gemido profundo de Márcia que ecoaria pelos corredores. Era isso!
- Márcia, vem fazer seu sanduíche que estou duro como um salame – disse Marcos da porta da cozinha.
Até a Márcia precisava concordar que era uma ereção impressionante. Talvez nem tanto pelo fato de o Marcos estar vestindo sua surrada calça de moletom amarela ovo, mas era um senhor pau duro. Ainda assim, o grito de fome que prevalecia dentro dela conteve qualquer tentativa de emanar um desejo sexual. Ela então apenas acenou simpaticamente para ele e voltou a dar atenção os talheres na pia.
- Como assim ok? Olhe para cá – disse um Marcos inconformado apontando para o mastro que se escondia em sua calça ilustrando o conceito de armar a barraca. – Querida, talvez esta seja a minha melhor ereção nos últimos anos, não podemos desperdiça-la.
- Esqueça, Marcos. O entregador vai chegar a qualquer momento.
- Exato, Márcia – naquele momento a empolgação de Marcos veio com força, literal e metaforicamente falando. – Vamos transar selvagemente neste meio tempo. Eu começo te jogando sobre a mesa da coz...
- Selvagemente, Marcos? Mesa da cozinha? São quase vinte anos de casados de “papai e mamãe” apenas, Marcos. O mais louco que já fez foi transar com os pés na cabeceira e a cabeça do outro lado da cama. Você reclama quando conseguimos desarrumar o lençol. Quer saber de uma coisa? Faz o seguinte – Márcia se interrompeu para desfazer seu rabo de cavalo. – Não quer perder a ereção? Está aqui! Coloca esse elástico de cabelo na base do seu pau e trava o sangue aí, mas não me encha o saco. Estou com fome!
Frustrado com a reação de sua esposa e um pouco abatido pelo choque de realidade, Marcos ficou preocupado com a possibilidade de perder aquela energia que emanava de sua pélvis e acabou acatando a sugestão. Lá estava ele com as duas mãos dentro da calça enquanto Márcia preferiu dar atenção ao cesto de roupas sujas. Colocado o torniquete peniano, o interfone toca, Márcia atende e diz para o marido que o entregador chegou.
- Manda ele subir, ora bolas.
- Já passou das dez, Marcos. Está sem porteiro lá em baixo. Você vai ter de ir buscar.
- ASSIM?
Era uma difícil decisão a ser tomada. Márcia disse logo de início que não desceria nem a pau, ou comeria tudo na portaria mesmo. Marcos precisava se decidir entre duas opções. Ou abdicaria daquela conquista e arruinava a sua tradicional terça, ou permanecia focado com o revés de passar vergonha na frente do entregador. Enquanto pensava, Márcia deu mais um chilique alegando fome e irritação, o que obrigou o Marcos a descer e optar por se decidir no elevador.
- Oh não! Logo comigo?
É bem possível que as mulheres tenham dificuldade para entender o real motivo do entregador se apavorar ao se deparar com o cliente de pau duro fazendo volume sob as calças. Não, o fato de um total estranho estar em completa ereção na sua frente nem é a principal razão. É algo muito mais clichê que possam imaginar.
Nós homens crescemos vendo filme pornô com uma frequência assustadora. Na sua maioria, esses filmes possuem sempre a mesma premissa: um homem chega à residência para entregar pizza, a gostosa abre a porta, não tem dinheiro e resolve pagar com favores sexuais. É claro que os roteiristas tentam variar substituindo o entregador de pizza por vendedores de enciclopédia, entregadores de jornal, carteiros, testemunha de Jeová, distribuidores de encartes do Guanabara, o cara da pamonha, instalador da NET dentre outros. Em alguns casos, quando querem algo mais arrojado e inovador, chegam a colocar o ator no papel do marido.
- O que foi, rapaz? Larga de drama e me dá logo essa pizza.
- Desculpe, senhor, mas sabe como é, né? Entregador de pizza, imaginação fértil, pensei estar em um filme pornô gay.
- Não, cacete! Você só chegou rápido demais.
- Óh céus! Nunca vi ninguém demonstrar tamanha felicidade com uma pizza que chegou rápido.
- Ahn? Não! Estava prestes a transar com a minha esposa quando você chegou.
- Ah tá! Ufa – faz-se uma pausa e o entregador volta a falar. – Preciso dizer que é uma considerável ereção.
- Obrigado. Por isto estou com pressa. Pode ficar com o troco.
O entregador foi embora e Marcos subiu de volta para casa. Assim que abriu a porta, ele foi atacado pela Márcia que lhe roubou a caixa de pizza de suas mãos e foi correndo para cozinha já mordendo a primeira fatia.
- Isso não é justo! Estou aqui com uma ereção de respeito e você dando preferência para esta pizza.
- Já te falei que estou com fome. Se quiser espere.
- Mas, Márcia, até o entregador elogiou meu pau duro. Não é possível que você não fique sensibilizada com isto.
- Ah Marcos, que viadagem, hein? Vai comer o entregador então!
- Isso não é justo! Tudo que eu queria era fazer um sexo selvagem, sujo e com um gostinho de errado com minha esposa.
- Era isso? Então faremos o seguinte – Marcia pegou duas fatias de uma só vez e foi rumo à sala. – Vou deitar ali no sofá e continuar comendo minha pizza paradinha sem esboçar reação. Daí você pode fazer o seu sexo selvagem comigo que vai foder com a sua coluna te obrigando a fazer uma dupla sessão de RPG amanhã. Vai poder fazer seu sexo sujo, porque vai cagar o sofá todo de gordura e molho de tomate. Vai poder fazer também seu sexo com gostinho de errado porque estarei na sua frente quebrando nossa dieta semanal.
Ao ouvir isso, Marcos teve uma ereção mais forte que qualquer uma em toda sua vida que chegou a arrebentar o elástico preso à base do seu pau. Ele pulou então na Márcia e transou loucamente com ela. Foi sem dúvida o melhor sexo de suas vidas. Márcia gozou freneticamente como um bebê arara fazendo seus gritos ecoar pelo quarteirão. Ao final, exausto, Marcos se levantou e, com um sorriso de vitória estampado no rosto, percebeu que ainda assim Márcia não aparentava estar totalmente satisfeita. Olhando o sofá coberto por algumas beiradas de pizza e diversos fluidos humanos, ele resolve perguntar como ela conseguia permanecer insatisfeita diante de um momento épico como aquele.
- Estou arrependida de não ter pedido a mousse também.