quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O eterno retorno

Pôr-do-sol no Arpoador

     Confesso que esta deve ser a minha sexta tentativa de voltar à arte de escrever como válvula de escape. Ou como hobby também. Tanto faz. Fracassei nas outras cinco vezes. Seja por preguiça, falta de tempo ou relaxamento. Acho que na maioria das vezes foi pelos três motivos que citei juntos. Pois é, tenho muitas falhas...
     Dos três motivos, a preguiça é o mais forte em mim. Aliás, acho que, excetuando a vaidade (no sentido estético), tenho os seis pecados capitais restantes. Adoraria escrever um dia apenas sobre isto. Mas não hoje.
     A preguiça é forte, seja em qualquer aspecto ou cenário. Mas se tratando de abrir o computador e escrever, mesmo sem a necessidade de publicar em um blog, ela toma dimensões estratosféricas. As ideias estão todas aqui. A forma como conduzir o tema. A linha do raciocínio. Tudo. Quase tudo. Falta a energia de digitar e tentar registrar as ideias. Mesmo que seja até a próxima formatação do computador.
     A primeira tentativa foi na mesma época a qual consegui convencer meu avô a usar sua máquina de escrever. Eram contos curtos, piadas encaixadas que formavam uma breve história remendada, cretinices instantâneas. Nada muito profundo. Algo totalmente prazeroso.
     Lembro-me que minha digitação era sofrida. Usava apenas o indicador de cada mão. Certa vez, inclusive, uma tia fez uma piada dizendo que não sabia o que tanto digitava, mas que pelo ritmo ficaria pronto na semana seguinte. Isso na hora magoou. Era novo, não sabia lidar com críticas, ainda mais em algo que recentemente iniciara a me aventurar.
     Parei de escrever algumas semanas depois. Mas nem foi por conta do comentário. Não! Com certeza, não! Porém a digitação foi algo determinante. Errava muito. Precisava fazer remendos, fato que me causava uma enorme ansiedade. Não aceitava, mesmo sendo um candidato a escritor amador, que meus textos tivessem tantos rabiscos, borrões ou letras sobrepostas (quem já usou máquina de escrever vai entender do que se trata). Parei. Apenas de tentar concretizar os pensamentos. As ideias continuavam cada vez mais constantes. E cada vez mais renegadas em alguma parte do meu córtex.
     Minha segunda investida já foi no meio do ensino médio. Ao mesmo tempo em que fazia meu primeiro contato com um computador. Não era Word! Era Carta Certa! Aquilo para mim foi chegar ao paraíso sem soar piegas. Podia consertar cada erro de digitação. Nunca mais teria aquele resultado final desastroso que tanto me afligia. Adorei. Prometi a mim mesmo, estava de volta e agora para sempre.
     Nesta mesma época conheci Marianna. Não! Não adianta ler este parágrafo com tons platônicos ou recordações borradas em uma cueca Zorba amarela. Marianna foi de longe a pessoa com mais energia para lidar com meus textos. Seja lendo, comentando ou criticando. Uma ênfase mais forte nas críticas. Tínhamos pensamentos absurdamente opostos. Cheguei a exagerar nos meus algumas vezes só para aumentar a ira dela. Entretanto, nunca foi um conflito forte tensamente separado de um tesão entre os dois. Nada disso! Éramos apenas dois adolescentes com muito tempo e energia disponível para gastar com pensamentos fúteis e sazonais.
     Sim, poderíamos gastar esta mesma energia e este mesmo tempo fazendo outras coisas, mas naquela época, para este assunto, minha atenção era voltada para outra pessoa. E ela, bem, ela tinha uma mania irritante de se apaixonar sempre pelos meus amigos. Acho que fazia isso para se vingar dos meus comentários. Bem, pelo menos era mais um motivo para nos mantermos próximos. Mas isto pode ser comentado em outro tópico.
     Com o fim do ensino médio percebi que meu ciclo de amizades, exceto pela Marianna, era composto basicamente por acéfalos que concentravam todas as energias em partidas de futebol e em comentá-las posteriormente. Não via expectativa de encontrar alguém com a mínima vontade de ler um parágrafo ou produzir uma linha. Meus textos passaram a formar camadas geológicas em uma estante empoeirada do quarto. Parei. Estava deslocado. Minhas expectativas literárias estavam fadadas ao fracasso. Que venha, pelo menos, a vida boêmia.
     Esse período pós-segunda tentativa foi o mais longo sem produção textual. Mesmo fazendo a faculdade de letras, não produzia uma linha própria. Eram relatórios, resumos, seminários, mas nada meu. Tudo era um produto acadêmico em troca de pontos no currículo escolar. Nada diferente do acordo original feito no momento da matrícula.
     A terceira tentativa já veio na forma de blog. Pela primeira vez poderia ter a oportunidade de divulgar, para pessoas desconhecidas de qualquer lugar diferente da minha rua, meus pensamentos cretinos. E era exatamente o adjetivo cretino que melhor definiria o falecido Chupa Que É de Côco. O seu conteúdo abusava de ser cretino, beirava o surreal. Acho que por isto consegui atingir tantas pessoas em tão pouco tempo. Naquela época era muito comum alguém me chamar pela alcunha de Chupa. E explicar para os desentendidos o motivo disto era um martírio.
     No “Chupa years” algo de novo passou a fazer parte da minha produção, textos com motivação em comum. Já era possível organizá-los por assunto. Não que necessariamente o assunto fosse o mesmo, mas a premissa era. Existiam características que permitiam amarrar vários textos a um único grupo. E eu adorava isto. Se alguém gostasse de um texto em especial, era fácil indicar um, dois ou três, que sejam do mesmo tema ou não, eram interligados de tal maneira que agradariam também a mesma pessoa. Essa foi a minha considerada evolução textual. Esse foi o fim do Chupa.
     Por necessidade de catalogar os textos de forma diferente que qualquer blog pudesse fazer, acabei com o Chupa e comecei com um site de textos meus. Era o Poltrona Vinha Reclinável, conhecido intimamente como Poltrona. Ali diversifiquei para caminhos nunca antes planejados. Resenhas, críticas, entrevistas. Tinha até uma área dedicada para erros grosseiros que aconteciam na empresa que trabalhava na época.
     A repercussão do Poltrona foi bem maior que do Chupa. Vários leitores migraram de um para o outro. A organização dos textos e as novas linhas agradavam bastante, mas exigiam tempo. Ou pelo menos dedicação. Ou apenas energia.
     Cansei. Reneguei. Cheguei a estipular dias da semana fixos para publicar cada tipo de texto. Atrasos viraram frequentes. Sumiços. Desisti de vez. O Poltrona ficou por anos no ar recebendo muitas visitas, até o dia que a Yahoo encerrou com os serviços da Geocities. Ali foi oficialmente a morte de uma parte da minha produção textual. Não tinha aquilo salvo em lugar algum. Não existe mais. Podemos dizer que nunca existiu.
     A última tentativa foi alguns anos depois do Poltrona, ou pouco mais de dois anos atrás. Com um nome muito parecido com deste, criei o Sorriso do Insano. Ele se perdeu dentro de todas as linhas que criei. Não conseguia mais produzir em massa, nem tão pouco me manter dentro de uma linha única. O resultado foi uma miscelânea de textos com abordagens totalmente distintas. Desde comentários sobre notícias, até contos. Durou pouco.
     Este último blog ainda existe, salvei o que me interessa de fato para quem sabe reunir em uma coletânea futura. Reli todo ele e, por mim, mudaria muita coisa na maioria dos textos. Principalmente os erros de digitação, consequência direta de um autor preguiçoso.
     Enfim, estou de volta! Sabe-se lá até quando, mas voltei. Produzi estas 12 centenas de palavras em menos de vinte minutos. Então, ainda sinto prazer nisto. Vamos ver quando um dos pecados capitais vai vencer o prazer.
     Ps: A quem interessar, as fotos de cada post são de autoria minha...