Traições e mortes
[Cena interna no único cenário: um
quarto] Um casal nu deitado na cama. O
homem [Samuel] fuma um baseado e a
mulher [Carla], deitada no ombro
dele, faz carícias na barriga de Samuel.
[Samuel] É engraçado.
[Carla] O que é engraçado?
[Samuel] Aqui não tem porta-retratos.
Toda casa é cheia de porta-retratos, menos esta.
[Carla] E o que você queria, Samuel?
Fotos minhas com meu marido por todos os lados?
[Samuel] Sei lá! É apenas curioso. Faz
falta.
[Carla] Ah Samuel, ainda bem que não
tem, né? Você sequer consegue transar comigo com as cortinas abertas, pois fica
incomodado com a possibilidade de algum vizinho nos ver. Imagine se tivesse
fotos do meu marido te encarando. Já pensou? Ia ser uma trabalheira daquelas
ter de deitar todos os porta-retratos sempre que você chegasse por aqui.
[Samuel] Não é para tanto também.
[Carla] Não? Então vamos abrir as
cortinas, as janelas e ligar a luz. Que tal?
[Samuel] Para! Sabe que gosto de ser
discreto.
[Carla] Então não reclama.
[Samuel] Não estou reclamando. Apenas
acho estranho estar tanto tempo com você e nada sei da sua vida. Não sei como é
o rosto do seu marido...
[Carla] Samuel... Samuel... por qual
motivo quer saber como é o rosto do meu marido?
[Samuel] Sei lá. Caso passasse por ele
na rua, saberia quem é.
[Carla] Ah tá! Daí pararia para falar
com ele, se apresentaria, sentariam para beber um chope e sabe mais o que, né?
Me dá esse baseado que você já está ficando doido demais.
[Samuel] Não é isso também. Não precisa
exagerar. Apenas nada sei sobre sua vida. Sequer sei o nome dele, por exemplo.
[Carla] Você está muito obcecado por
ele, Samuel. O que está acontecendo?
[Samuel] Não, nem estou obcecado por
ele. É por você mesmo. Estamos juntos há tanto tempo e nada sei sobre você.
[Carla] Samuel, nós somos amantes.
Você não tem de saber muita coisa sobre mim, assim como nada sei sobre você.
[Samuel] Não precisa dizer que somos
amantes, Carla. Estou dizendo apenas que são três anos nessa brincadeira e
quase não falamos sobre...
[Carla] Samuel, por favor, pare! Somos
amantes. Não conversamos. Apenas transamos. Ponto! A única conversa mais longa
que tivemos foi quando nos conhecemos e só. Para conversar, tenho meu marido,
minha irmã, meu terapeuta e meus dois gatos.
[Samuel] Dois gatos? Aí oh! Sequer
sabia que tinha gatos. Três anos com você e nem sabia que tinha gatos. Achava
que era uma pessoa que curtia cães assim como eu. Eu tenho dois cães.
[Carla] Dois cães?
[Samuel] Sim, o mais velho se chama...
[Carla] EU NÃO ME IMPORTO! Samuel,
pouco me interessa se você tem gatos, cachorros, lambaris ou alienígenas na sua
casa. Tudo que quero é que me coma e me faça gozar como um beija-flor. Apenas
isso.
[Samuel] Nossa... falando assim, eu me
sinto como um objeto.
[Carla] Ok! Está bem! Desculpa. Objeto
pode soar muito pejorativo. Vamos colocar desta forma, somos amantes e não
temos sentimentos um pelo outro. É apenas sexo. Por qual motivo acha que me
envolveria com uma pessoa bem mais nova? É sexo e pronto. Por mais íntimo que
seja você enfiar o pau em mim, esse é o máximo de intimidade que quero com
você. Não quero saber da sua vida, nem contar da minha para você. Estamos
combinados? Consegue manter assim?
[Samuel] Sim, mas é estranho. Eu
acho...
[Carla] Samuel, cala a boca e me come
novamente, por favor.
Os
dois voltam a transar. Algum tempo depois, porta do quarto se abre, entra um
homem [Augusto] que
acende a luz. Os dois se assustam e param de transar.
[Augusto] QUE PORRA É ESSA?
[Samuel] Ai caceta!
[Carla] Oh meu Deus!
[Augusto] Anda! Que porra é essa,
Carla?
[Carla] Calma! Não é nada do que está
pensando.
[Augusto] Como não? Vocês estão nus.
Você estava montada nele.
[Carla] Eu sei. Eu sei. Calma! Vamos
conversar com calma, Augusto.
[Samuel] Augusto? Ah! Olá! Eu sou o
Samuel. Estávamos falando sobre você agora mesmo.
[Carla] Samuel, não!
[Augusto] CALA A BOCA E SAI DE PERTO
DE MIM.
[Samuel] Ei! Não precisa se exaltar.
[Augusto] Eu não quero papo com você.
Fica na tua.
[Carla] Samuel, não piore as coisas.
[Samuel] Piorar? Ele que está
exaltado.
[Augusto] Isso é problema meu! Não se
meta. Fique no seu canto.
[Samuel] Então não aponte o dedo para
mim.
[Augusto] E você não aponte esse pau
duro para mim.
[Samuel] Ah, me desculpe. Ele demora
um pouco para...
[Carla] Ah Samuel...
[Augusto] Por que você não cala a boca
e não sai daqui, seu gigolozinho?
[Samuel] Peraí! Gigolozinho, não!
[Carla] Augusto, talvez não seja um
bom momento para chamar ele disso. Ele está um pouco sensível quanto ao papel
dele na...
[Augusto] Carla, você ainda vai defender
esse gigolozinho?
[Samuel] Gigolozinho, não!
[Augusto] Gigolozinho, sim!
Gigolozinho mequetrefe!
[Carla] Augusto, calma. Peraí. Ele não
tem culpa.
[Samuel] Segura a onda aí, Augusto.
[Augusto] Não ouse me chamar pelo
nome, gigolozinho mequetrefe. Seu... seu gigolozinho mequetrefe de pau pequeno.
[Samuel] Pior você que é corno.
Augusto
parte para cima de Samuel. Eles começam a brigar e rolar pelo chão. Carla, de
pé sobre a cama, fica gritando para que eles parem. Samuel pega o radio-relógio
sobre a mesa de cabeceira e acerta a cabeça de Augusto que fica estatelado no
chão.
[Carla] Samuel, meu Deus. O que você fez?
[Samuel] Eu estava me defendendo. Será
que ele morreu?
[Carla] Meu Deus! Meu Deus, Samuel!
Ele não está respirando! Você o matou!
[Samuel] Ele partiu para cima de mim.
[Carla] Porque você chamou ele de
corno.
[Samuel] Ele me chamou de gigolozinho mequetrefe
de pau pequeno primeiro.
[Carla] E isso é motivo para matar
alguém, Samuel?
[Samuel] Eu não matei por isso.
[Carla] Ainda bem, né? Porque você tem
o pau pequeno.
[Samuel] As coisas saíram do controle
e... peraí! Você acha meu pau pequeno?
[Carla] Você promete não me matar se
disser que sim?
[Samuel] Carla, não é a hora para
deboches. Você tem noção que estou com um homem morto no seu apartamento?
[Carla] Este não é meu apartamento,
Samuel.
[Samuel] Não, não é? Não é seu apartamento,
Carla? Como assim? Estamos por anos vindo para cá.
[Carla] Exatamente, Samuel. Acha mesmo
que ficaria tanto tempo te trazendo para o meu apartamento correndo riscos?
Este é um apartamento que alugo exatamente para evitar riscos.
[Samuel] AHN! Então está explicada a
falta de porta-retratos.
[Carla] Sério, Samuel? Vai voltar ao
papo dos porta-retratos?
[Samuel] É que tudo ficou claro agora.
[Carla] Será que pode se levantar então
e se vestir? Temos um presunto aqui e precisamos fazer algo.
[Samuel] Não fale assim do... peraí!
Se este não é seu apartamento, como seu marido nos descobriu e conseguiu a
chave para entrar sorrateiramente?
[Carla] Ele não é o meu marido,
Samuel.
[Samuel] Como assim ele não é seu
marido, Carla? CARLA! ELE NÃO É O SEU MARIDO? Meu Deus! Pobre Augusto. Eu o
chamei de corno. Eu matei um homem inocente. Viu? VIU? É POR ISSO QUE MESMO
AMANTES DEVEM CONVERSAR ENTRE SI. Se eu soubesse como era seu marido nada disso
teria acontecido. Este homem teria entrado aqui, saberia que não era o seu
marido e daí... peraí! Se ele não era seu marido, como tinha a chave daqui? Por
que ele ficou tão enciumado com o que viu?
[Carla] Ah Samuel, larga de ser
complicado. O Augusto é meu namorado tem tempo. Quero dizer, ERA meu namorado,
né?
[Samuel] Namorado? Peraí! Você tinha
outro? Você estava saindo com outro além de mim?
[Carla] Sim, Samuel. Qual o problema?
Ele namorava comigo há mais de sete anos. As coisas foram ficando meio mornas
com o tempo, daí recorri a você.
[Samuel] Nesse caso, chamar de corno
foi merecido.
[Carla] Sim, foi. Por isso que ele
ficou irritado. Mesmo sendo verdade, ninguém gosta de ser chamado de corno.
[Samuel] ELE ME CHAMOU DE GIGOLOZINHO
MEQUETREFE DE PAU PEQUENO PRIMEIRO.
[Carla] O que não deixa de ser
verdade.
[Samuel] Assim como ele ser corno.
[Carla] Mas nem por isso é motivo para
se matar alguém.
[Samuel] Eu não o matei por isso. Enfim,
eu era o amante do amante e...
[Carla] Ah que seja. Temos um cadáver
aqui e precisamos fazer algo.
[Samuel] Precisamos? Você me envolve
nesse triângulo... peraí! Triângulo, não! Somos quatro. Eu, você, o Augusto e
seu marido. Qual o nome dele mesmo?
[Carla] ESQUECE O MEU MARIDO! EU NÃO
VOU FALAR O NOME DELE!
[Samuel] Enfim, você me enfiar nesse
quadrado, retângulo, sei lá o que amoroso e eu tenho de dar conta do cadáver.
[Carla] Ah, o cara que queria
parceria, comprometimento e cumplicidade agora quer fugir da raia e me largar
com o pepino na mão. Pois saiba que é um cadáver cheio de impressões digitais
suas no pescoço, na mesinha, no rádio-relógio. E, para piorar, cheio de esperma
seu no lençol.
[Samuel] Só que o apartamento está no
seu nome, logo você é suspeita também.
[Carla] Você acha mesmo que sou burra
de alugar um apartamento no meu nome? Meu marido descobriria rapidinho. O
aluguel está no nome do Augusto. Alugamos juntos assim que nos conhecemos para
ter o nosso canto.
[Samuel] Assim que se conheceram? E
nós estamos três anos juntos sem um canto próprio? Sem uma música nossa? Sem...
[Carla] PORRA, SAMUEL! QUE MERDA DE
BAD TRIP É ESSA QUE A MACONHA TE DEU?
[Samuel] Eu não sei. Estou tendo uma
crise de pânico. Estou me sentindo como um pequeno apêndice nessa complexa
relação. Estou me sentindo um lixo.
[Carla] Samuel, meu querido...
[Samuel] NÃO ME CHAME DE QUERIDO!
[Carla] Está bem! Está bem! Samuel,
preste atenção, pois só vou falar uma vez. Nós temos um cadáver para dar cabo.
Todos os indícios apontam apenas para você. Já imaginou nos jornais? “Homem
reclama que o pau pequeno de seu cônjuge não o satisfazia e acaba morto por
ele.” Vai vender como água. Eu poderia facilmente pular fora e deixar essa
banana na sua mão. Só que não irei. Então vamos pensar juntos?
[Samuel] Dá para falar do meu pau
então?
[Carla] Ok, me desculpe.
[Samuel] E pare de usar pepino ou
banana como metáforas de referências fálicas.
[Carla] Justo.
[Samuel] Obrigado. Bem, acho que sei
quem pode nos ajudar. Conheço uma pessoa que trabalha na polícia e é corrupta.
Ela deve ter as artimanhas para situações como esta.
[Carla] Se ela for policial corrupta
como diz, resolver isso vai ser pinto.
[Samuel] CARLA! METÁFORAS FÁLICAS!
[Carla] Porra, Samuel! Se veste então
que facilita a minha vida.
[Samuel] Vou ligar para ela.
Samuel
pega o celular em suas calças que estão no chão. Corte de cena para indicar passagem
de tempo. Os dois ainda estão no quarto com o corpo de Augusto no chão quando
toca a campainha. Carla sai para atender. Carla volta na companhia de outra
mulher [Tânia] que
se assusta com a cena.
[Tânia] O QUE É ISSO, SAMUEL? ESTE
HOMEM ESTÁ MORTO?
[Samuel] Calma, meu amor.
[Carla] Meu amor?
[Tânia] Quem é essa mulher, Samuel?
[Carla] Ela te chamou de meu amor,
Samuel?
[Tânia] Por que você está pelado,
Samuel?
[Carla] Ah essa é uma boa pergunta. Também
gostaria de saber por que ele ainda está pelado.
[Tânia] Samuel, por que você está
pelado em um quarto com um homem morto?
[Carla] Pode parecer estranho, mas
existe uma relação aqui. Ele estava pelado, o homem viu o piruzinho do Samuel, chamou
ele de pau pequeno e... bem... o resto você já sabe.
[Tânia] Você matou o homem porque ele
te chamou de pau pequeno, Samuel?
[Samuel] Não, foi por isso, meu amor.
[Carla] Meu amor?
[Tânia] Por que você tirou a roupa
para ele, Samuel?
[Carla] Ele não tirou a roupa para o
homem. Ele tirou para mim. Por que vocês estão se chamando de meu amor?
[Tânia] Samuel, quem é essa mulher?
[Carla] Samuel, que tal se vestir
primeiro, meu amor?
[Samuel] Não ouse me chamar de meu
amor.
[Tânia] Não chame o meu amor de meu
amor.
[Carla] Ih, está bem. Não está mais
aqui quem falou.
[Tânia] O que está acontecendo,
Samuel?
[Samuel] Então... vou explicar. O
Augusto entrou e pensei que fosse o marido da Carla porque ela insiste em não me
mostrar fotos dele.
[Carla] E nem vou mostrar. Ah, eu sou a
Carla.
[Samuel] Daí ele partiu para cima de
mim.
[Carla] Porque você chamou ele de
corno.
[Samuel] Ele me chamou de gigolozinho
mequetrefe de pau pequeno antes.
[Carla] Fato que ele tinha razão. Você
tem pau pequeno.
[Tânia] É verdade, meu amor.
[Carla] Viu?
[Samuel] Que seja. Ele também era
corno.
[Tânia] É verdade. Seu marido é corno.
[Carla] Ele não é meu marido.
[Tânia] Ele não é seu marido?
[Samuel] Não, ele é o Augusto, o
outro.
[Tânia] E quem é seu marido?
[Samuel] Eu não conheço o marido dela.
[Carla] Ninguém conhece o meu marido.
Nem você, nem o Augusto.
[Tânia] Peraí! Vamos ver se eu
entendi. Você é casada com um homem que não é este caído no chão?
[Carla] Exato!
[Tânia] E o nome dele é?
[Carla] Não importa.
[Samuel] Boa tentativa, meu amor.
[Carla e Tânia juntas] CALA A BOA E
VAI SE VESTIR.
[Tânia] Tá, você é casada com um homem
aí misterioso e aquele ali...
[Carla] O Augusto.
[Tânia] Isso! O Augusto é seu amante?
[Carla] Namorado.
[Tânia] Tá, namorado. E onde entra o
Samuel nesta história?
[Carla] Ele é o meu amante.
[Tânia] VOCÊ É O... VOCÊ ESTAVA ME
TRAINDO?
[Samuel] Calma, meu amor. Não é nada
do que está pensando. Era apenas uma aventura. Perceba toda a hierarquia. Tinha
marido. Tinha namorado. Eu sou apenas um estagiário. Coisa insignificante. Ela
até alugava apartamento para se encontrar com o Augusto. Comigo nada disso
acontecia. Não tínhamos um apartamento exclusivo. Um apelido carinhoso. Nem
cópia de chaves.
[Tânia] Pouco me importa. Você acha
que vou me importar com sua posição na escala de perversão dessa mulher? O que
interessa é que você andou me traindo enfiando esse pau pequeno por aí.
[Carla] Ih, eu não falaria isso. Da
última vez...
[Samuel] Meu amor, por favor, eu te
peço...
[Tânia] Não me peça coisa alguma. Como
tem coragem de me chamar na casa da sua amante para ajudar a desaparecer com o
corpo do homem que você matou porque ele disse que você tinha pau pequeno.
[Samuel] Eu não matei por isso. Ele
partiu para cima de mim.
[Tânia] Porque você o chamou de corno.
[Carla] É verdade! Chamou mesmo.
Ninguém gosta de ser chamado de corno. Ainda mais pelo cara que lhe coloca o
chifre.
[Samuel] Por favor. Eu... eu... eu não
tenho culpa disto. Digo, sim, cometi uma traição, mas foi uma traiçãozinha.
[Carla] Por três anos.
[Tânia] TRÊS ANOS?
[Samuel] Porra, Carla, me ajuda.
[Carla] Te ajudar? Você mata meu
namorado, chamada a sua namorada para ajudar, ela fica fazendo barraco aqui e
eu tenho que ajudar?
[Tânia] Barraco com motivo.
[Carla] É verdade. Eu ficaria
indignada se descobrisse que estava sendo traída.
[Tânia] Pelo seu marido ou pelo Augusto?
[Carla] Qualquer um dos dois. Estou
puta só de saber que o Samuel tem namorada.
[Tânia] É revoltante, né?
[Carla] Eu o teria matado se soubesse.
Como minha posição na hierarquia é menor que a sua, prefiro aguardar o que vai
fazer.
[Samuel] Tânia, meu amor, não dê
ouvidos a essa doida. Ela tem amantes. Mais de um. Ela tem um namorado e um
amante. Todos secretos. Até o marido dela é secreto. Sequer podemos ter certeza
que o nome dela é Carla.
[Carla] Meu nome é Carla, sim. E,
mesmo tendo vários amantes, sou melhor pessoa que um assassino.
[Samuel] EU ESTAVA ME DEFENDENDO
PORQUE ELE PARTIU PARA CIMA DE MIM.
[Carla] Porque você o chamou de corno.
[Samuel] Ele me chamou primeiro de
gigolozinho de pau pequeno.
[Carla] Viu? Assassino complexado!
[Tânia] Você matou mesmo esse homem
porque ele disse que você tinha pau pequeno, Samuel?
[Samuel] NÃO! Escute-me, meu amor.
Essa mulher é louca e acabou me envolvendo nesse jogo psicótico dela de amantes
e drogas.
[Tânia] Drogas? Que drogas? Você
estava fumando maconha?
[Samuel] Bem...
[Tânia] Você sabe que sou contra
drogas. Sou uma policial e tudo que combato é o mundo das drogas.
[Carla] Ah então é por isso que ele te
traía. Agora entendi tudo. Ele não podia fumar um baseado com você e começou a
sair comigo porque fumo também. Está tudo explicado agora.
[Samuel] Tânia, meu amor, me escute,
por favor.
[Tânia] NÃO ME VENHA COM MEU AMOR, SEU
MACONHEIRO DE PAU PEQUENO.
[Carla] Ih, nem quero ver.
Tânia
parte para cima de Samuel e, com o mesmo rádio-relógio em mãos, o acerta várias
vezes na cabeça.
[Carla] É, parece que você o matou.
[Tânia] Eu me descontrolei.
[Carla] Vocês formam um casal estranho
mesmo. A mulher mata o homem porque descobre que ele fuma maconha escondido. Já
o homem mata por um motivo mais banal ainda.
[Tânia] Banal nada. Ele estava se defendendo
de um ataque.
[Carla] Ele foi atacado porque chamou a
outra pessoa de corno.
[Tânia] O outro disse primeiro que o
Samuel tem pau pequeno.
[Carla] Mas é verdade!
[Tânia] Assim como o outro ser corno.
[Carla] Não o chame de outro. Ele tem
nome. É Augusto.
[Tânia] Que seja. Agora são dois
cadáveres aqui.
[Carla] Olha, vou ser bem sincera. O
Augusto está cheio de marcas do Samuel. Já o Samuel está cheio de marcas suas.
Fica fácil eu sair ilesa dessa história. Como tenho certa compaixão pela sua
situação de traída, vou ficar um pouco até conseguir resolver isso. Porém, você
precisa ser rápida, pois meu marido vai estranhar em breve eu estar tanto tempo
na rua.
[Tânia] E como acha que vou resolver
isso?
[Carla] E eu lá sei. O Samuel que me
disse que iria ligar para uma pessoa da polícia que conhecia que era corrupta e
saberia lidar com isso.
[Tânia] CORRUPTA? Que desgraçado! Onde
sou corrupta? De onde ele tirou isso? Maconheiro de pau pequeno.
[Carla] Não diga isso. Tenha respeito
pelos mortos.
[Tânia] Impossível não falar isso.
Ainda mais com ele pelado na minha frente.
[Carla] Até agora não entendi por que
ele não se vestiu esse tempo todo.
[Tânia] Vou ligar para um legista que
conheço. Ele sabe bem como alterar a cena do crime. Talvez possa nos ajudar.
[Carla] Ele é bonitão?
[Tânia] Sério? Você não tem vergonha
na cara?
[Carla] Por que teria? Acabei de
perder meu namorado e meu amante. Preciso iniciar a reposição.
[Tânia] Você é uma descarada mesmo.
[Carla] Ele é teu amante, né?
[Tânia] É, mas fica quieta por
respeito ao Samuel.