segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Pedaços de uma vida encenada

Traições e mortes
[Cena interna no único cenário: um quarto] Um casal nu deitado na cama. O homem [Samuel] fuma um baseado e a mulher [Carla], deitada no ombro dele, faz carícias na barriga de Samuel.
[Samuel] É engraçado.
[Carla] O que é engraçado?
[Samuel] Aqui não tem porta-retratos. Toda casa é cheia de porta-retratos, menos esta.
[Carla] E o que você queria, Samuel? Fotos minhas com meu marido por todos os lados?
[Samuel] Sei lá! É apenas curioso. Faz falta.
[Carla] Ah Samuel, ainda bem que não tem, né? Você sequer consegue transar comigo com as cortinas abertas, pois fica incomodado com a possibilidade de algum vizinho nos ver. Imagine se tivesse fotos do meu marido te encarando. Já pensou? Ia ser uma trabalheira daquelas ter de deitar todos os porta-retratos sempre que você chegasse por aqui.
[Samuel] Não é para tanto também.
[Carla] Não? Então vamos abrir as cortinas, as janelas e ligar a luz. Que tal?
[Samuel] Para! Sabe que gosto de ser discreto.
[Carla] Então não reclama.
[Samuel] Não estou reclamando. Apenas acho estranho estar tanto tempo com você e nada sei da sua vida. Não sei como é o rosto do seu marido...
[Carla] Samuel... Samuel... por qual motivo quer saber como é o rosto do meu marido?
[Samuel] Sei lá. Caso passasse por ele na rua, saberia quem é.
[Carla] Ah tá! Daí pararia para falar com ele, se apresentaria, sentariam para beber um chope e sabe mais o que, né? Me dá esse baseado que você já está ficando doido demais.
[Samuel] Não é isso também. Não precisa exagerar. Apenas nada sei sobre sua vida. Sequer sei o nome dele, por exemplo.
[Carla] Você está muito obcecado por ele, Samuel. O que está acontecendo?
[Samuel] Não, nem estou obcecado por ele. É por você mesmo. Estamos juntos há tanto tempo e nada sei sobre você.
[Carla] Samuel, nós somos amantes. Você não tem de saber muita coisa sobre mim, assim como nada sei sobre você.
[Samuel] Não precisa dizer que somos amantes, Carla. Estou dizendo apenas que são três anos nessa brincadeira e quase não falamos sobre...
[Carla] Samuel, por favor, pare! Somos amantes. Não conversamos. Apenas transamos. Ponto! A única conversa mais longa que tivemos foi quando nos conhecemos e só. Para conversar, tenho meu marido, minha irmã, meu terapeuta e meus dois gatos.
[Samuel] Dois gatos? Aí oh! Sequer sabia que tinha gatos. Três anos com você e nem sabia que tinha gatos. Achava que era uma pessoa que curtia cães assim como eu. Eu tenho dois cães.
[Carla] Dois cães?
[Samuel] Sim, o mais velho se chama...
[Carla] EU NÃO ME IMPORTO! Samuel, pouco me interessa se você tem gatos, cachorros, lambaris ou alienígenas na sua casa. Tudo que quero é que me coma e me faça gozar como um beija-flor. Apenas isso.
[Samuel] Nossa... falando assim, eu me sinto como um objeto.
[Carla] Ok! Está bem! Desculpa. Objeto pode soar muito pejorativo. Vamos colocar desta forma, somos amantes e não temos sentimentos um pelo outro. É apenas sexo. Por qual motivo acha que me envolveria com uma pessoa bem mais nova? É sexo e pronto. Por mais íntimo que seja você enfiar o pau em mim, esse é o máximo de intimidade que quero com você. Não quero saber da sua vida, nem contar da minha para você. Estamos combinados? Consegue manter assim?
[Samuel] Sim, mas é estranho. Eu acho...
[Carla] Samuel, cala a boca e me come novamente, por favor.
Os dois voltam a transar. Algum tempo depois, porta do quarto se abre, entra um homem [Augusto] que acende a luz. Os dois se assustam e param de transar.
[Augusto] QUE PORRA É ESSA?
[Samuel] Ai caceta!
[Carla] Oh meu Deus!
[Augusto] Anda! Que porra é essa, Carla?
[Carla] Calma! Não é nada do que está pensando.
[Augusto] Como não? Vocês estão nus. Você estava montada nele.
[Carla] Eu sei. Eu sei. Calma! Vamos conversar com calma, Augusto.
[Samuel] Augusto? Ah! Olá! Eu sou o Samuel. Estávamos falando sobre você agora mesmo.
[Carla] Samuel, não!
[Augusto] CALA A BOCA E SAI DE PERTO DE MIM.
[Samuel] Ei! Não precisa se exaltar.
[Augusto] Eu não quero papo com você. Fica na tua.
[Carla] Samuel, não piore as coisas.
[Samuel] Piorar? Ele que está exaltado.
[Augusto] Isso é problema meu! Não se meta. Fique no seu canto.
[Samuel] Então não aponte o dedo para mim.
[Augusto] E você não aponte esse pau duro para mim.
[Samuel] Ah, me desculpe. Ele demora um pouco para...
[Carla] Ah Samuel...
[Augusto] Por que você não cala a boca e não sai daqui, seu gigolozinho?
[Samuel] Peraí! Gigolozinho, não!
[Carla] Augusto, talvez não seja um bom momento para chamar ele disso. Ele está um pouco sensível quanto ao papel dele na...
[Augusto] Carla, você ainda vai defender esse gigolozinho?
[Samuel] Gigolozinho, não!
[Augusto] Gigolozinho, sim! Gigolozinho mequetrefe!
[Carla] Augusto, calma. Peraí. Ele não tem culpa.
[Samuel] Segura a onda aí, Augusto.
[Augusto] Não ouse me chamar pelo nome, gigolozinho mequetrefe. Seu... seu gigolozinho mequetrefe de pau pequeno.
[Samuel] Pior você que é corno.
Augusto parte para cima de Samuel. Eles começam a brigar e rolar pelo chão. Carla, de pé sobre a cama, fica gritando para que eles parem. Samuel pega o radio-relógio sobre a mesa de cabeceira e acerta a cabeça de Augusto que fica estatelado no chão.
[Carla] Samuel, meu Deus. O que você fez?
[Samuel] Eu estava me defendendo. Será que ele morreu?
[Carla] Meu Deus! Meu Deus, Samuel! Ele não está respirando! Você o matou!
[Samuel] Ele partiu para cima de mim.
[Carla] Porque você chamou ele de corno.
[Samuel] Ele me chamou de gigolozinho mequetrefe de pau pequeno primeiro.
[Carla] E isso é motivo para matar alguém, Samuel?
[Samuel] Eu não matei por isso.
[Carla] Ainda bem, né? Porque você tem o pau pequeno.
[Samuel] As coisas saíram do controle e... peraí! Você acha meu pau pequeno?
[Carla] Você promete não me matar se disser que sim?
[Samuel] Carla, não é a hora para deboches. Você tem noção que estou com um homem morto no seu apartamento?
[Carla] Este não é meu apartamento, Samuel.
[Samuel] Não, não é? Não é seu apartamento, Carla? Como assim? Estamos por anos vindo para cá.
[Carla] Exatamente, Samuel. Acha mesmo que ficaria tanto tempo te trazendo para o meu apartamento correndo riscos? Este é um apartamento que alugo exatamente para evitar riscos.
[Samuel] AHN! Então está explicada a falta de porta-retratos.
[Carla] Sério, Samuel? Vai voltar ao papo dos porta-retratos?
[Samuel] É que tudo ficou claro agora.
[Carla] Será que pode se levantar então e se vestir? Temos um presunto aqui e precisamos fazer algo.
[Samuel] Não fale assim do... peraí! Se este não é seu apartamento, como seu marido nos descobriu e conseguiu a chave para entrar sorrateiramente?
[Carla] Ele não é o meu marido, Samuel.
[Samuel] Como assim ele não é seu marido, Carla? CARLA! ELE NÃO É O SEU MARIDO? Meu Deus! Pobre Augusto. Eu o chamei de corno. Eu matei um homem inocente. Viu? VIU? É POR ISSO QUE MESMO AMANTES DEVEM CONVERSAR ENTRE SI. Se eu soubesse como era seu marido nada disso teria acontecido. Este homem teria entrado aqui, saberia que não era o seu marido e daí... peraí! Se ele não era seu marido, como tinha a chave daqui? Por que ele ficou tão enciumado com o que viu?
[Carla] Ah Samuel, larga de ser complicado. O Augusto é meu namorado tem tempo. Quero dizer, ERA meu namorado, né?
[Samuel] Namorado? Peraí! Você tinha outro? Você estava saindo com outro além de mim?
[Carla] Sim, Samuel. Qual o problema? Ele namorava comigo há mais de sete anos. As coisas foram ficando meio mornas com o tempo, daí recorri a você.
[Samuel] Nesse caso, chamar de corno foi merecido.
[Carla] Sim, foi. Por isso que ele ficou irritado. Mesmo sendo verdade, ninguém gosta de ser chamado de corno.
[Samuel] ELE ME CHAMOU DE GIGOLOZINHO MEQUETREFE DE PAU PEQUENO PRIMEIRO.
[Carla] O que não deixa de ser verdade.
[Samuel] Assim como ele ser corno.
[Carla] Mas nem por isso é motivo para se matar alguém.
[Samuel] Eu não o matei por isso. Enfim, eu era o amante do amante e...
[Carla] Ah que seja. Temos um cadáver aqui e precisamos fazer algo.
[Samuel] Precisamos? Você me envolve nesse triângulo... peraí! Triângulo, não! Somos quatro. Eu, você, o Augusto e seu marido. Qual o nome dele mesmo?
[Carla] ESQUECE O MEU MARIDO! EU NÃO VOU FALAR O NOME DELE!
[Samuel] Enfim, você me enfiar nesse quadrado, retângulo, sei lá o que amoroso e eu tenho de dar conta do cadáver.
[Carla] Ah, o cara que queria parceria, comprometimento e cumplicidade agora quer fugir da raia e me largar com o pepino na mão. Pois saiba que é um cadáver cheio de impressões digitais suas no pescoço, na mesinha, no rádio-relógio. E, para piorar, cheio de esperma seu no lençol.
[Samuel] Só que o apartamento está no seu nome, logo você é suspeita também.
[Carla] Você acha mesmo que sou burra de alugar um apartamento no meu nome? Meu marido descobriria rapidinho. O aluguel está no nome do Augusto. Alugamos juntos assim que nos conhecemos para ter o nosso canto.
[Samuel] Assim que se conheceram? E nós estamos três anos juntos sem um canto próprio? Sem uma música nossa? Sem...
[Carla] PORRA, SAMUEL! QUE MERDA DE BAD TRIP É ESSA QUE A MACONHA TE DEU?
[Samuel] Eu não sei. Estou tendo uma crise de pânico. Estou me sentindo como um pequeno apêndice nessa complexa relação. Estou me sentindo um lixo.
[Carla] Samuel, meu querido...
[Samuel] NÃO ME CHAME DE QUERIDO!
[Carla] Está bem! Está bem! Samuel, preste atenção, pois só vou falar uma vez. Nós temos um cadáver para dar cabo. Todos os indícios apontam apenas para você. Já imaginou nos jornais? “Homem reclama que o pau pequeno de seu cônjuge não o satisfazia e acaba morto por ele.” Vai vender como água. Eu poderia facilmente pular fora e deixar essa banana na sua mão. Só que não irei. Então vamos pensar juntos?
[Samuel] Dá para falar do meu pau então?
[Carla] Ok, me desculpe.
[Samuel] E pare de usar pepino ou banana como metáforas de referências fálicas.
[Carla] Justo.
[Samuel] Obrigado. Bem, acho que sei quem pode nos ajudar. Conheço uma pessoa que trabalha na polícia e é corrupta. Ela deve ter as artimanhas para situações como esta.
[Carla] Se ela for policial corrupta como diz, resolver isso vai ser pinto.
[Samuel] CARLA! METÁFORAS FÁLICAS!
[Carla] Porra, Samuel! Se veste então que facilita a minha vida.
[Samuel] Vou ligar para ela.
Samuel pega o celular em suas calças que estão no chão. Corte de cena para indicar passagem de tempo. Os dois ainda estão no quarto com o corpo de Augusto no chão quando toca a campainha. Carla sai para atender. Carla volta na companhia de outra mulher [Tânia] que se assusta com a cena.
[Tânia] O QUE É ISSO, SAMUEL? ESTE HOMEM ESTÁ MORTO?
[Samuel] Calma, meu amor.
[Carla] Meu amor?
[Tânia] Quem é essa mulher, Samuel?
[Carla] Ela te chamou de meu amor, Samuel?
[Tânia] Por que você está pelado, Samuel?
[Carla] Ah essa é uma boa pergunta. Também gostaria de saber por que ele ainda está pelado.
[Tânia] Samuel, por que você está pelado em um quarto com um homem morto?
[Carla] Pode parecer estranho, mas existe uma relação aqui. Ele estava pelado, o homem viu o piruzinho do Samuel, chamou ele de pau pequeno e... bem... o resto você já sabe.
[Tânia] Você matou o homem porque ele te chamou de pau pequeno, Samuel?
[Samuel] Não, foi por isso, meu amor.
[Carla] Meu amor?
[Tânia] Por que você tirou a roupa para ele, Samuel?
[Carla] Ele não tirou a roupa para o homem. Ele tirou para mim. Por que vocês estão se chamando de meu amor?
[Tânia] Samuel, quem é essa mulher?
[Carla] Samuel, que tal se vestir primeiro, meu amor?
[Samuel] Não ouse me chamar de meu amor.
[Tânia] Não chame o meu amor de meu amor.
[Carla] Ih, está bem. Não está mais aqui quem falou.
[Tânia] O que está acontecendo, Samuel?
[Samuel] Então... vou explicar. O Augusto entrou e pensei que fosse o marido da Carla porque ela insiste em não me mostrar fotos dele.
[Carla] E nem vou mostrar. Ah, eu sou a Carla.
[Samuel] Daí ele partiu para cima de mim.
[Carla] Porque você chamou ele de corno.
[Samuel] Ele me chamou de gigolozinho mequetrefe de pau pequeno antes.
[Carla] Fato que ele tinha razão. Você tem pau pequeno.
[Tânia] É verdade, meu amor.
[Carla] Viu?
[Samuel] Que seja. Ele também era corno.
[Tânia] É verdade. Seu marido é corno.
[Carla] Ele não é meu marido.
[Tânia] Ele não é seu marido?
[Samuel] Não, ele é o Augusto, o outro.
[Tânia] E quem é seu marido?
[Samuel] Eu não conheço o marido dela.
[Carla] Ninguém conhece o meu marido. Nem você, nem o Augusto.
[Tânia] Peraí! Vamos ver se eu entendi. Você é casada com um homem que não é este caído no chão?
[Carla] Exato!
[Tânia] E o nome dele é?
[Carla] Não importa.
[Samuel] Boa tentativa, meu amor.
[Carla e Tânia juntas] CALA A BOA E VAI SE VESTIR.
[Tânia] Tá, você é casada com um homem aí misterioso e aquele ali...
[Carla] O Augusto.
[Tânia] Isso! O Augusto é seu amante?
[Carla] Namorado.
[Tânia] Tá, namorado. E onde entra o Samuel nesta história?
[Carla] Ele é o meu amante.
[Tânia] VOCÊ É O... VOCÊ ESTAVA ME TRAINDO?
[Samuel] Calma, meu amor. Não é nada do que está pensando. Era apenas uma aventura. Perceba toda a hierarquia. Tinha marido. Tinha namorado. Eu sou apenas um estagiário. Coisa insignificante. Ela até alugava apartamento para se encontrar com o Augusto. Comigo nada disso acontecia. Não tínhamos um apartamento exclusivo. Um apelido carinhoso. Nem cópia de chaves.
[Tânia] Pouco me importa. Você acha que vou me importar com sua posição na escala de perversão dessa mulher? O que interessa é que você andou me traindo enfiando esse pau pequeno por aí.
[Carla] Ih, eu não falaria isso. Da última vez...
[Samuel] Meu amor, por favor, eu te peço...
[Tânia] Não me peça coisa alguma. Como tem coragem de me chamar na casa da sua amante para ajudar a desaparecer com o corpo do homem que você matou porque ele disse que você tinha pau pequeno.
[Samuel] Eu não matei por isso. Ele partiu para cima de mim.
[Tânia] Porque você o chamou de corno.
[Carla] É verdade! Chamou mesmo. Ninguém gosta de ser chamado de corno. Ainda mais pelo cara que lhe coloca o chifre.
[Samuel] Por favor. Eu... eu... eu não tenho culpa disto. Digo, sim, cometi uma traição, mas foi uma traiçãozinha.
[Carla] Por três anos.
[Tânia] TRÊS ANOS?
[Samuel] Porra, Carla, me ajuda.
[Carla] Te ajudar? Você mata meu namorado, chamada a sua namorada para ajudar, ela fica fazendo barraco aqui e eu tenho que ajudar?
[Tânia] Barraco com motivo.
[Carla] É verdade. Eu ficaria indignada se descobrisse que estava sendo traída.
[Tânia] Pelo seu marido ou pelo Augusto?
[Carla] Qualquer um dos dois. Estou puta só de saber que o Samuel tem namorada.
[Tânia] É revoltante, né?
[Carla] Eu o teria matado se soubesse. Como minha posição na hierarquia é menor que a sua, prefiro aguardar o que vai fazer.
[Samuel] Tânia, meu amor, não dê ouvidos a essa doida. Ela tem amantes. Mais de um. Ela tem um namorado e um amante. Todos secretos. Até o marido dela é secreto. Sequer podemos ter certeza que o nome dela é Carla.
[Carla] Meu nome é Carla, sim. E, mesmo tendo vários amantes, sou melhor pessoa que um assassino.
[Samuel] EU ESTAVA ME DEFENDENDO PORQUE ELE PARTIU PARA CIMA DE MIM.
[Carla] Porque você o chamou de corno.
[Samuel] Ele me chamou primeiro de gigolozinho de pau pequeno.
[Carla] Viu? Assassino complexado!
[Tânia] Você matou mesmo esse homem porque ele disse que você tinha pau pequeno, Samuel?
[Samuel] NÃO! Escute-me, meu amor. Essa mulher é louca e acabou me envolvendo nesse jogo psicótico dela de amantes e drogas.
[Tânia] Drogas? Que drogas? Você estava fumando maconha?
[Samuel] Bem...
[Tânia] Você sabe que sou contra drogas. Sou uma policial e tudo que combato é o mundo das drogas.
[Carla] Ah então é por isso que ele te traía. Agora entendi tudo. Ele não podia fumar um baseado com você e começou a sair comigo porque fumo também. Está tudo explicado agora.
[Samuel] Tânia, meu amor, me escute, por favor.
[Tânia] NÃO ME VENHA COM MEU AMOR, SEU MACONHEIRO DE PAU PEQUENO.
[Carla] Ih, nem quero ver.
Tânia parte para cima de Samuel e, com o mesmo rádio-relógio em mãos, o acerta várias vezes na cabeça.
[Carla] É, parece que você o matou.
[Tânia] Eu me descontrolei.
[Carla] Vocês formam um casal estranho mesmo. A mulher mata o homem porque descobre que ele fuma maconha escondido. Já o homem mata por um motivo mais banal ainda.
[Tânia] Banal nada. Ele estava se defendendo de um ataque.
[Carla] Ele foi atacado porque chamou a outra pessoa de corno.
[Tânia] O outro disse primeiro que o Samuel tem pau pequeno.
[Carla] Mas é verdade!
[Tânia] Assim como o outro ser corno.
[Carla] Não o chame de outro. Ele tem nome. É Augusto.
[Tânia] Que seja. Agora são dois cadáveres aqui.
[Carla] Olha, vou ser bem sincera. O Augusto está cheio de marcas do Samuel. Já o Samuel está cheio de marcas suas. Fica fácil eu sair ilesa dessa história. Como tenho certa compaixão pela sua situação de traída, vou ficar um pouco até conseguir resolver isso. Porém, você precisa ser rápida, pois meu marido vai estranhar em breve eu estar tanto tempo na rua.
[Tânia] E como acha que vou resolver isso?
[Carla] E eu lá sei. O Samuel que me disse que iria ligar para uma pessoa da polícia que conhecia que era corrupta e saberia lidar com isso.
[Tânia] CORRUPTA? Que desgraçado! Onde sou corrupta? De onde ele tirou isso? Maconheiro de pau pequeno.
[Carla] Não diga isso. Tenha respeito pelos mortos.
[Tânia] Impossível não falar isso. Ainda mais com ele pelado na minha frente.
[Carla] Até agora não entendi por que ele não se vestiu esse tempo todo.
[Tânia] Vou ligar para um legista que conheço. Ele sabe bem como alterar a cena do crime. Talvez possa nos ajudar.
[Carla] Ele é bonitão?
[Tânia] Sério? Você não tem vergonha na cara?
[Carla] Por que teria? Acabei de perder meu namorado e meu amante. Preciso iniciar a reposição.
[Tânia] Você é uma descarada mesmo.
[Carla] Ele é teu amante, né?
[Tânia] É, mas fica quieta por respeito ao Samuel.