sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Amargura por extenso

O preço caro da beleza
Um merdeiro que se preze não sabe a hora de parar. Não existem limites para quem faz merda compulsivamente quase que inconscientemente. Se é real a possiblidade de fazer algo que vai ser constrangedor, traumatizante ou perturbador, isto será feito. Principalmente se há uma potencial chance de ser os três ao mesmo tempo e mais alguma coisa.
- Para de frescura – ela disse uns 15 anos atrás. – Isso não é coisa de viado! É questão de higiene e fica esteticamente melhor.
Nenhum desses dois argumentos foi suficiente para me convencer a passar máquina nos pentelhos. Cabeça de homem é uma merda! Para mim, aparar os pentelhos era coisa de viado. E o problema de higiene era facilmente resolvido com sabonete e muita água.
- E acredite – ela completou com ar sério. – Seu pau vai parecer maior.
Pronto, estava convencido. Cadê a máquina? Não pensei duas vezes. Passei máquina na parte de cima, nas laterais, no saco, nele todo. Foi um desmatamento completo a dar inveja a qualquer fazendeiro do Pará. No chão do box, a cena era de um abraço coletivo dos Jackson 5 olhado de cima. Quanto ao tamanho, não existia mentira. Ele parecia maior, praticamente o dobro do tamanho, impressionantes seis centímetros.
Como era de se esperar, ela disse apenas as vantagens. Claro! Não se convence alguém falando os pontos positivos e logo depois comentando que vai ter uma coceira infernal por horas. E foi isso que aconteceu. Fiquei me coçando sem parar. Coçava com as unhas, régua, caneta Bic, esfregava a calça jeans diretamente nele. Jogava água gelada, água quente, água com vidro moído, qualquer coisa para tentar diminuir aquela sensação desesperadora. A vontade era arrancar a minha pélvis fora e instalar um funil no lugar.
Passados dois dias, a sensação terminou. O resultado era de fato muito melhor. Antes, tinha um druida tentando fugir da mata, agora, ele estava em um gramado bem cuidado. Se tivesse braços, poderia comparar com a cena da Julie Andrews dançando e cantando em A Noviça Rebelde. Decidi que manteria aquele padrão estético, mesmo com o sofrimento da coceira que, depois, descobri que com o tempo ficaria cada vez menor.
- Olha só – disse outra mulher para mim alguns anos depois da experiência citada. – Isso deve ser bom.
Ela se referia à cena de um filme pornô que estávamos assistindo. Basicamente, a mulher em cena lambia o saco do ator. Fiquei surpreso, pois ela tinha feito exatamente aquilo na noite anterior. Resolvi perguntar a diferença.
- Ah olha bem – ela falou apontando para a tela. – O dele é lisinho! Deve ser muito bom!
Peralá! Estávamos agora falando de algo muito mais delicado. O cidadão do filme não tinha um pelo sequer no playground dele. Saco, pau, entorno, tudo liso. Aquilo já era demais. Não que me incomodasse em parecer um ator pornô, ser aparentemente aleijado e bem definido soava uma boa ideia. Mas liso não rolava.
- Você está louca? Sequer passo lâmina de barbear no rosto que é liso porque sempre me corto! Imagine em uma área irregular, oculta e sensível!
No curto tempo que demorei em pronunciar essas palavras consegui me imaginar em diversas posições constrangedoras para acessar algumas áreas que deveriam ser raspadas. Todas as posições envolviam abertura de pernas, levantamento de rabo e outras elasticidades que não possuía. Sem citar os jatos de sangue que iriam voar para todos os lados após um menor movimento mal calculado.
- Não precisa disso, seu bobo – ela disse rindo. – Basta depilar com cera. Existem profissionais para isso.
Não sei se o comentário foi fruto de alguma limitação cognitiva dela, mas quando você alega que não vai fazer algo por não querer ficar na posição arreganhada, sugerir como solução ficar arreganhado na frente de outra pessoa não é uma boa ideia. Tão pouco uma solução que envolva arrancar os pelos em tufos de uma só vez. Para mim, aquela opção era impossível. Sabe o que mais era impossível? Negar um pedido feito enquanto assiste a um filme pornô com alguém enfiando a mão nas suas calças. Acatei! Prometi que até o próximo final de semana estaria com o pau tão liso quando um bebê. Merda!
Passei quase uma tarde inteira pesquisando sobre locais para fazer a depilação. Poucos atendem ao público masculino. Desses, a maioria dos profissionais é mulher. Na minha cabeça isto seria uma péssima ideia. Não tenho controle algum sobre meu pau. É como se fosse um ser independente acoplado no meu corpo. Ele faz o que quer. Não importa se tem uma mulher nua na minha frente, se estou na fila do supermercado ou ouvindo o discurso emocionado de alguém em um velório. Se ele decide se levantar, ele se levanta e ponto final. E nem adianta pensar na minha mãe dançando Conga Conga, porque daí ele se revolta, vai na direção do bolso que tem moedas para ficar tudo mais apertado, aumentar a pressão e não descer nunca mais. Na mão de uma depiladora seria certo que ele se levantaria clamando por atenção como uma criança mimada. Eu acabaria ficando sem graça, sairia correndo de calça arriada, pau em pé e meia depilação feita, quase como o penteado de pagodeiro.
Optei então por um profissional masculino. Não correria o risco de uma ereção constrangedora e, de quebra, teria a certeza que ele sabe de quão frágil é a área que estava tratando. Liguei, marquei o horário e esperei o dia chegar.
- Fudeu!
Falei em voz alta assim que ele abriu a porta do “consultório”. O profissional era a cara do José Mayer. Além de comer todo mundo em todas as novelas, iria comer minha bunda ali também. E ela nem estava depilada. Triste ironia.
Depois que entrei, ele me conduziu até uma sala menor. Disse para que tirasse as calças e cueca e me deitasse na maca. Nesse meio tempo, ele foi retirando os produtos que supostamente usaria de um armário. Enquanto fazia isto, ele aproveitou para confirmar qual seria o serviço:
- Então, qual área iremos depilar?
- Basicamente o pau e o saco – falei em um tom bem rústico e másculo para que ele soubesse que era muito macho.
- Depilaremos então a região da pélvis, virilha e escroto.
Escroto? Que merda mais escrota! O cara que iria me depilar, que iria me provocar dor, era polido no vocabulário técnico. Era como apanhar com alguém usando luva de pelica. Ora, se for para apanhar, que seja com uma garrafada na cabeça, chute na barriga enquanto estou caído no chão e outras porradas bem dadas. Nada de tabefes e petelecos. Para mim o ideal seria ele perguntar:
- Vamos tirar essa pentelhada toda da piroca para a alegria da mulherada?
Finalmente estava nu e deitado na maca. Ele, com o detalhismo de um vistoriador do DETRAN mal intencionado e com a habilidade de um vendedor de cosmético, iniciou uma longa apresentação a todos os produtos: Papel de seda descartável, cera com ingredientes que devem ser compostos de sangue de duendes de tão especiais que eram, pinça esterilizada, maca higienizada e outros frufrus. Falou sobre dermatite, pelos encravados e outras coisas. Não me abalei, macho que é macho quando faz essas merdas pega hepatite, infecção generalizada e peste bubônica.
Enfim, iniciou-se o trabalho. Pegou uma tira de papel com bastante cera, aplicou na virilha, deu dois tapinhas e perguntou se estava preparado. FILHO DA PUTA! Antes que dissesse que não, ele puxou a tira de papel com cera. Arrancou pentelhos, pele, carne e até os ovários que eu achava que não tinha. Antes que pudesse me recompor, ele aplicou uma nova tira no mesmo local “para tirar os que não saíram”. Sem sequer perguntar desta vez se estava pronto, puxou. CARALHO! Aplicou uma terceira tira ainda no mesmo local, “alguns são teimosos e não saíram”.
- MALDITOS – gritei para a minha virilha. – SAIAM AGORA! RENDAM-SE! FUJAM! CORRAM PELAS SUAS VIDAS, DESGRAÇADOS!
Ele deve ter me achado maluco. Riu um pouco e continuou. A dor era insuportável, não importava onde. Virilha direita, virilha esquerda, pélvis, pau (nessas horas fiquei feliz por ter um pau de ator pornô, pois assim demora menos e essa parte será rápida), escroto. Provocou dor em todas as partes nas quais gosto de sentir prazer. Dizem que ao término a sensação é de dormência. Não, não é! A sensação é de estar com energia estática naquela região. Fiquei com medo de atrair pregos, porcas, arruelas e clips caídos no chão enquanto voltava para casa.
Encerrado, tudo que eu queria era sair dali e poder voltar para casa com as pernas afastadas como quem andou de cavalo por uma semana ininterrupta. Daí o cidadão me vem com a pergunta:
- Vai depilar o ânus?
- Por que depilaria o ânus?
- Porque ninguém gosta de sexo oral com ânus peludo.
- Por que alguém chegaria perto da minha bunda com a boca?
- Ah você – disse ele enquanto cobria o rosto com as mãos. – Você não?
- Não – respondi sem ser grosseiro. – Mas obrigado por achar que tenho uma bunda lambível.
Ele, visivelmente constrangido, se desculpou. Disse que iria apenas passar a máquina na parte superior da coxa para aparar uns pelos maiores. Consenti sem a menor preocupação e deixei que terminasse o trabalho. Sabia que seria só aquilo, então relaxei. Já notaram que é sempre no último minuto que tudo vai por água abaixo? Normalmente, no último minuto, você está lá em posição de fechar a boca, daí o dentista fala que só vai ver uma coisinha. Logo depois vem broca, serra, aspirador, Grill Foreman e o escambau. Sempre no último minuto dá merda. Então, nesse último minuto, ele iria apenas passar a máquina nos pelos da coxa perto da virilha. Relaxei. Pois bem, aquele treme-treme sinuoso da máquina ali embaixo acabou surtindo mais efeito do que devia. O pau subiu. Mas não apenas se levantou. Ele subiu e subiu com vontade. Nervoso! Achei que seria ejetado dali de tão rápido que foi. O sósia do Zé Mayer fingia que não estava percebendo. Virou até o rosto.
- Não vira o rosto, não – disse para ele. – Você está com uma máquina perto do meu pau e vai virar o rosto para o lado? Pode olhar. Olha com atenção apenas, mas olha!
Ele riu mais uma vez. Em seguida, pedi desculpas e ele disse para não se preocupar, pois aquilo era mais comum do que eu poderia imaginar. Finalmente encerrado, jogou talco à distância, pois o pau ainda estava de pé. Ficou parecendo uma versão tímida do Farol de Salvador.
Agora vejam. Troquei uma profissional possivelmente achando que estava tentando seduzi-la com um pau de pé, por um profissional que não somente deve ter achado que tentei seduzi-lo com um pau de pé, como também fiz cu doce cabeludo para ele no início.
Vesti as calças. Tudo incomodava. Parecia que tinha levado uma saraivada de tapas por toda aquela região. Andando engraçado, saí do “consultório”, agradeci e falei para o próximo cliente que o aguardava:
- Peça a depilação anal!
Em casa, resolvi me olhar no espelho. A cena era ridícula. Uma pélvis exageradamente vermelha, careca e, ao final dela, duas pernas cabeludas. Parecia que estava vestindo uma meia-calça felpuda. Só faltava a dona da ideia não curtir o resultado. Mas isso fica para outro dia.