O preço caro da beleza
Um merdeiro que se preze não sabe a
hora de parar. Não existem limites para quem faz merda compulsivamente quase
que inconscientemente. Se é real a possiblidade de fazer algo que vai ser
constrangedor, traumatizante ou perturbador, isto será feito. Principalmente se
há uma potencial chance de ser os três ao mesmo tempo e mais alguma coisa.
- Para de frescura – ela disse uns 15
anos atrás. – Isso não é coisa de viado! É questão de higiene e fica
esteticamente melhor.
Nenhum desses dois argumentos foi
suficiente para me convencer a passar máquina nos pentelhos. Cabeça de homem é
uma merda! Para mim, aparar os pentelhos era coisa de viado. E o problema de
higiene era facilmente resolvido com sabonete e muita água.
- E acredite – ela completou com ar
sério. – Seu pau vai parecer maior.
Pronto, estava convencido. Cadê a
máquina? Não pensei duas vezes. Passei máquina na parte de cima, nas laterais,
no saco, nele todo. Foi um desmatamento completo a dar inveja a qualquer
fazendeiro do Pará. No chão do box, a cena era de um abraço coletivo dos
Jackson 5 olhado de cima. Quanto ao tamanho, não existia mentira. Ele parecia
maior, praticamente o dobro do tamanho, impressionantes seis centímetros.
Como era de se esperar, ela disse
apenas as vantagens. Claro! Não se convence alguém falando os pontos positivos
e logo depois comentando que vai ter uma coceira infernal por horas. E foi isso
que aconteceu. Fiquei me coçando sem parar. Coçava com as unhas, régua, caneta
Bic, esfregava a calça jeans diretamente nele. Jogava água gelada, água quente,
água com vidro moído, qualquer coisa para tentar diminuir aquela sensação
desesperadora. A vontade era arrancar a minha pélvis fora e instalar um funil
no lugar.
Passados dois dias, a sensação
terminou. O resultado era de fato muito melhor. Antes, tinha um druida tentando
fugir da mata, agora, ele estava em um gramado bem cuidado. Se tivesse braços,
poderia comparar com a cena da Julie Andrews dançando e cantando em A Noviça
Rebelde. Decidi que manteria aquele padrão estético, mesmo com o sofrimento da
coceira que, depois, descobri que com o tempo ficaria cada vez menor.
- Olha só – disse outra mulher para
mim alguns anos depois da experiência citada. – Isso deve ser bom.
Ela se referia à cena de um filme
pornô que estávamos assistindo. Basicamente, a mulher em cena lambia o saco do
ator. Fiquei surpreso, pois ela tinha feito exatamente aquilo na noite
anterior. Resolvi perguntar a diferença.
- Ah olha bem – ela falou apontando
para a tela. – O dele é lisinho! Deve ser muito bom!
Peralá! Estávamos agora falando de
algo muito mais delicado. O cidadão do filme não tinha um pelo sequer no
playground dele. Saco, pau, entorno, tudo liso. Aquilo já era demais. Não que
me incomodasse em parecer um ator pornô, ser aparentemente aleijado e bem
definido soava uma boa ideia. Mas liso não rolava.
- Você está louca? Sequer passo lâmina
de barbear no rosto que é liso porque sempre me corto! Imagine em uma área
irregular, oculta e sensível!
No curto tempo que demorei em
pronunciar essas palavras consegui me imaginar em diversas posições
constrangedoras para acessar algumas áreas que deveriam ser raspadas. Todas as
posições envolviam abertura de pernas, levantamento de rabo e outras
elasticidades que não possuía. Sem citar os jatos de sangue que iriam voar para
todos os lados após um menor movimento mal calculado.
- Não precisa disso, seu bobo – ela
disse rindo. – Basta depilar com cera. Existem profissionais para isso.
Não sei se o comentário foi fruto de
alguma limitação cognitiva dela, mas quando você alega que não vai fazer algo
por não querer ficar na posição arreganhada, sugerir como solução ficar
arreganhado na frente de outra pessoa não é uma boa ideia. Tão pouco uma
solução que envolva arrancar os pelos em tufos de uma só vez. Para mim, aquela
opção era impossível. Sabe o que mais era impossível? Negar um pedido feito
enquanto assiste a um filme pornô com alguém enfiando a mão nas suas calças.
Acatei! Prometi que até o próximo final de semana estaria com o pau tão liso
quando um bebê. Merda!
Passei quase uma tarde inteira
pesquisando sobre locais para fazer a depilação. Poucos atendem ao público
masculino. Desses, a maioria dos profissionais é mulher. Na minha cabeça isto
seria uma péssima ideia. Não tenho controle algum sobre meu pau. É como se
fosse um ser independente acoplado no meu corpo. Ele faz o que quer. Não
importa se tem uma mulher nua na minha frente, se estou na fila do supermercado
ou ouvindo o discurso emocionado de alguém em um velório. Se ele decide se
levantar, ele se levanta e ponto final. E nem adianta pensar na minha mãe
dançando Conga Conga, porque daí ele se revolta, vai na direção do bolso que
tem moedas para ficar tudo mais apertado, aumentar a pressão e não descer nunca
mais. Na mão de uma depiladora seria certo que ele se levantaria clamando por
atenção como uma criança mimada. Eu acabaria ficando sem graça, sairia correndo
de calça arriada, pau em pé e meia depilação feita, quase como o penteado de
pagodeiro.
Optei então por um profissional
masculino. Não correria o risco de uma ereção constrangedora e, de quebra,
teria a certeza que ele sabe de quão frágil é a área que estava tratando.
Liguei, marquei o horário e esperei o dia chegar.
- Fudeu!
Falei em voz alta assim que ele abriu
a porta do “consultório”. O profissional era a cara do José Mayer. Além de
comer todo mundo em todas as novelas, iria comer minha bunda ali também. E ela nem
estava depilada. Triste ironia.
Depois que entrei, ele me conduziu até
uma sala menor. Disse para que tirasse as calças e cueca e me deitasse na maca.
Nesse meio tempo, ele foi retirando os produtos que supostamente usaria de um
armário. Enquanto fazia isto, ele aproveitou para confirmar qual seria o
serviço:
- Então, qual área iremos depilar?
- Basicamente o pau e o saco – falei
em um tom bem rústico e másculo para que ele soubesse que era muito macho.
- Depilaremos então a região da
pélvis, virilha e escroto.
Escroto? Que merda mais escrota! O
cara que iria me depilar, que iria me provocar dor, era polido no vocabulário
técnico. Era como apanhar com alguém usando luva de pelica. Ora, se for para
apanhar, que seja com uma garrafada na cabeça, chute na barriga enquanto estou caído
no chão e outras porradas bem dadas. Nada de tabefes e petelecos. Para mim o
ideal seria ele perguntar:
- Vamos tirar essa pentelhada toda da
piroca para a alegria da mulherada?
Finalmente estava nu e deitado na
maca. Ele, com o detalhismo de um vistoriador do DETRAN mal intencionado e com
a habilidade de um vendedor de cosmético, iniciou uma longa apresentação a
todos os produtos: Papel de seda descartável, cera com ingredientes que devem
ser compostos de sangue de duendes de tão especiais que eram, pinça
esterilizada, maca higienizada e outros frufrus. Falou sobre dermatite, pelos
encravados e outras coisas. Não me abalei, macho que é macho quando faz essas
merdas pega hepatite, infecção generalizada e peste bubônica.
Enfim, iniciou-se o trabalho. Pegou
uma tira de papel com bastante cera, aplicou na virilha, deu dois tapinhas e
perguntou se estava preparado. FILHO DA PUTA! Antes que dissesse que não, ele
puxou a tira de papel com cera. Arrancou pentelhos, pele, carne e até os
ovários que eu achava que não tinha. Antes que pudesse me recompor, ele aplicou
uma nova tira no mesmo local “para tirar os que não saíram”. Sem sequer
perguntar desta vez se estava pronto, puxou. CARALHO! Aplicou uma terceira tira
ainda no mesmo local, “alguns são teimosos e não saíram”.
- MALDITOS – gritei para a minha
virilha. – SAIAM AGORA! RENDAM-SE! FUJAM! CORRAM PELAS SUAS VIDAS, DESGRAÇADOS!
Ele deve ter me achado maluco. Riu um
pouco e continuou. A dor era insuportável, não importava onde. Virilha direita,
virilha esquerda, pélvis, pau (nessas horas fiquei feliz por ter um pau de ator
pornô, pois assim demora menos e essa parte será rápida), escroto. Provocou dor
em todas as partes nas quais gosto de sentir prazer. Dizem que ao término a
sensação é de dormência. Não, não é! A sensação é de estar com energia estática
naquela região. Fiquei com medo de atrair pregos, porcas, arruelas e clips
caídos no chão enquanto voltava para casa.
Encerrado, tudo que eu queria era sair
dali e poder voltar para casa com as pernas afastadas como quem andou de cavalo
por uma semana ininterrupta. Daí o cidadão me vem com a pergunta:
- Vai depilar o ânus?
- Por que depilaria o ânus?
- Porque ninguém gosta de sexo oral
com ânus peludo.
- Por que alguém chegaria perto da
minha bunda com a boca?
- Ah você – disse ele enquanto cobria
o rosto com as mãos. – Você não?
- Não – respondi sem ser grosseiro. –
Mas obrigado por achar que tenho uma bunda lambível.
Ele, visivelmente constrangido, se desculpou.
Disse que iria apenas passar a máquina na parte superior da coxa para aparar
uns pelos maiores. Consenti sem a menor preocupação e deixei que terminasse o
trabalho. Sabia que seria só aquilo, então relaxei. Já notaram que é sempre no
último minuto que tudo vai por água abaixo? Normalmente, no último minuto, você
está lá em posição de fechar a boca, daí o dentista fala que só vai ver uma
coisinha. Logo depois vem broca, serra, aspirador, Grill Foreman e o escambau.
Sempre no último minuto dá merda. Então, nesse último minuto, ele iria apenas
passar a máquina nos pelos da coxa perto da virilha. Relaxei. Pois bem, aquele
treme-treme sinuoso da máquina ali embaixo acabou surtindo mais efeito do que
devia. O pau subiu. Mas não apenas se levantou. Ele subiu e subiu com vontade.
Nervoso! Achei que seria ejetado dali de tão rápido que foi. O sósia do Zé
Mayer fingia que não estava percebendo. Virou até o rosto.
- Não vira o rosto, não – disse para
ele. – Você está com uma máquina perto do meu pau e vai virar o rosto para o
lado? Pode olhar. Olha com atenção apenas, mas olha!
Ele riu mais uma vez. Em seguida, pedi
desculpas e ele disse para não se preocupar, pois aquilo era mais comum do que
eu poderia imaginar. Finalmente encerrado, jogou talco à distância, pois o pau
ainda estava de pé. Ficou parecendo uma versão tímida do Farol de Salvador.
Agora vejam. Troquei uma profissional
possivelmente achando que estava tentando seduzi-la com um pau de pé, por um
profissional que não somente deve ter achado que tentei seduzi-lo com um pau de
pé, como também fiz cu doce cabeludo para ele no início.
Vesti as calças. Tudo incomodava.
Parecia que tinha levado uma saraivada de tapas por toda aquela região. Andando
engraçado, saí do “consultório”, agradeci e falei para o próximo cliente que o
aguardava:
- Peça a depilação anal!
Em casa, resolvi me olhar no espelho. A cena era ridícula. Uma pélvis
exageradamente vermelha, careca e, ao final dela, duas pernas cabeludas.
Parecia que estava vestindo uma meia-calça felpuda. Só faltava a dona da ideia
não curtir o resultado. Mas isso fica para outro dia.